A busca pela beleza acompanha a humanidade ao longo da história e a cirurgia plástica emergiu como uma ferramenta para atingir determinadas características desejadas. Após a sua génese na vertente reconstrutiva, evoluiu-se de um conceito apenas de reconstrução de deformações ou traumatismos graves, após a Segunda Guerra Mundial para a realidade atual com procedimentos que conseguem corrigir características ou marcas do envelhecimento.  No entanto, é crucial questionar até que ponto esses procedimentos afetam não apenas a estética, mas também a saúde física e mental dos pacientes.

Cirurgia plástica: impactos na saúde física e mental

Muitos afirmarão, de forma superficial, que a maioria dos procedimentos de cirurgia plástica visam apenas aprimorar a aparência, no entanto, é imperativo considerar os potenciais impactos na saúde física e mental.

Nesse sentido, deixo aqui dois exemplos distinto de mamoplastias:

a) A Redução Mamária através do qual pacientes que apresentam um volume mamário exacerbado e desproporcional ao seu corpo devem realizar este procedimento pelo excesso de peso mamário provocar dores crónicas, além da devolução da harmonia corporal que resultam desta intervenção;

b) A Mamoplastia de Aumento resulta muitas vezes de alterações congénitas designadas por hipoplasia mamária - quase total ausência de tecido mamário, mama tuberosa – falta de desenvolvimento do polo inferior com excesso de desenvolvimento superior e com mamilo protuberante, que leva a uma forma totalmente diferente da que é suposta. Podem estar também subjacentes alterações ováricas. Naturalmente existem também os casos de peito bem desenvolvido, mas com volume pequeno.

Em quaisquer dos casos o sofrimento ou insatisfação com a consequente diminuição de confiança e autoestima, que estes casos provocam, não podem ser desconsiderados numa sociedade moderna que valorize o bem-estar, a saúde e a liberdade que cada um.

É importante salvaguardar que não estamos a abordar expectativas irrealistas ou distúrbios, neste artigo, como o dimorfismo corporal, em que os indivíduos apresentam uma visão de si próprios que não corresponde à realidade.

Os procedimentos nesta área podem elevar a autoestima e confiança, mas devem ser realizados apenas no caso de existir indicação médica clara, e sob a supervisão de profissionais qualificados. Assim, o cirurgião plástico desempenha um papel crucial na avaliação da adequação de cada intervenção.

A linha que separa hoje a cirurgia plástica reconstrutiva da considerada estética voltada para saúde psicológica e mental é ténue. Procedimentos, ditos, estéticos podem contribuir para a saúde mental ao melhorar a autoestima com um efeito transformador na vida dos pacientes, e como tal para a sua saúde e qualidade de vida. Contudo, é crucial distinguir entre intervenções que promovem o bem-estar psicológico e aquelas que apenas alimentam padrões inatingíveis de beleza como referidos anteriormente.

Assim e no seguimento da evolução do conceito de Saúde pela OMS (Organização Mundial de Saúde), esta é algo subjetiva ao considerarmos um estado de bem-estar, que difere de individuo para individuo, e do meio onde está inserido; destacando ainda mais, o papel do médico e neste caso do cirurgião, e da importância de haver uma clara indicação médica para a realização de determinado procedimento.

Quando a cirurgia plástica deixa de ser um procedimento de saúde?

Na minha opinião, quando o médico deixa de o ser e autoriza a realização de um procedimento onde não existe indicação clínica. Nesse momento, onde o interesse económico se impõe ao melhor interesse do paciente, mesmo que este o deseje, não há espaço para falarmos em procedimentos de saúde. Subjetividade acusarão muitos? Sim, mas o bom profissional de saúde atuará sempre pelos melhores interesses a quem está a prestar um serviço de SAÚDE.

Um artigo do médico Tiago Baptista Fernandes, Cirurgião Plástico e fundador da Up Clinic.