As infeções vaginais são causadas por microrganismos como bactérias, fungos e parasitas. Este tipo de patologias pode causar alterações no corrimento vaginal, odor desagradável e desconforto de forma geral. Contudo, ter um destes sintomas não significa necessariamente uma infeção.

Os sintomas podem estar relacionados a outros fatores que afetam o órgão reprodutor feminino, como a utilização de produtos para higiene íntima desadequados ou o uso de roupa interior de fibras sintéticas que podem irritar a vagina e provocar desconforto e alterações no corrimento.

Mas as dúvidas aumentam à medida que se explora o tema e por isso recorremos à médica Patrícia Amaral, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, para esclarecer algumas dúvidas.

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Quais são os tipos de infeções vaginais mais comuns?

As três infeções vaginais mais comuns são a Candidíase Vulvovaginal, a Vaginose Bacteriana e a Tricomoníase.

Quais são os sintomas?

A Candidíase cursa com sintomas de prurido ou comichão, sensação de ardor vulvovaginal, dispareunia ou seja dor nas relações sexuais e dor ao urinar. Os genitais externos podem apresentar-se edemaciados ou inchados com vermelhidão, sendo muito frequente a presença de um corrimento branco espesso.

Na Vaginose Bacteriana o principal sintoma é a presença de um corrimento vaginal branco/acinzentado aquoso com cheiro fétido, muitas vezes descrito como “cheiro a peixe” que aumenta de intensidade após as relações sexuais e a menstruação ou período. Habitualmente não causa comichão nem sinais inflamatórios dos genitais externos.

A Tricomoníase pode manifestar-se por um corrimento vaginal abundante, purulento, e com mau cheiro, podendo ser acompanhado de prurido ou comichão vulvar, dor a urinar e nas relações sexuais. Poderá também acompanhar-se de vermelhidão vulvovaginal.

O que pode ter causado?

Existem alguns fatores de risco para o surgimento de Candidíase Vulvovaginal. A flora vaginal tem fungos que vivem em equilíbrio com as restantes bactérias colonizadoras. No entanto, o stress, a toma de antibióticos, as alterações pré menstruais, a diabetes mal controlada ou por exemplo deixar o fato de banho molhado pode aumentar o risco, já que os fungos aumentam o seu crescimento em ambientes quentes e húmidos e uma alteração do equilíbrio da flora vaginal vai propiciar o surgimento de sintomas.

O surgimento de Vaginose Bacteriana está também relacionado com alteração da flora vaginal, com redução dos lactobacilos e aumento de várias bactérias, inclusive anaeróbias. Este desequilíbrio da flora vaginal pode ser promovido por hábitos incorretos de higiene íntima, como os duches vaginais ou seja , lavagem do interior da vagina, que é desaconselhada, perdas de sangue frequentes que também podem promover a elevação do pH vaginal, relações sexuais frequentes e relações sexuais entre mulheres.

A Tricomoníase trata-se de uma infeção sexualmente transmissível, causada por um parasita, a Trichomonas Vaginalis. Tratando-se de uma infeção sexualmente transmissível, fatores de risco são as relações sexuais sem a utilização de preservativo, múltiplos parceiros sexuais e história de outras infeções sexualmente transmissíveis.

Patrícia Amaral
Patrícia Amaral Patrícia Amaral é médica e especialista em Ginecologia e Obstetrícia

Que tratamentos existem?

O tratamento da Candidíase Vulvovaginal pode ser realizado por via local/vaginal através de creme ou óvulos com atividade antifúngica, ou por via oral através de comprimidos (azóis). No caso de infeções presentes em mulheres saudáveis com sintomatologia ligeira, o tratamento é de curta duração, ao contrário das mulheres com Candidíase Vulvovaginal recorrente e/ou presença de fatores de risco, em que os tratamentos já são mais prolongados.

O tratamento da Vaginose Bacteriana é realizado com fármacos aplicados localmente como óvulos por exemplo de metronidazol ou cloreto de dequalínio ou creme vaginal como a clindamicina, ou por via oral com comprimidos de metronidazol ou clindamicina. A utilização de formulações de ácido lático e glicogénio que reequilibram a flora vaginal com a reposição do pH fisiológico, podem também ajudar, abreviando o controlo dos sintomas, nomeadamente do corrimento com cheiro fétido.

No caso da Tricomoníase, tratando-se de uma infeção sexualmente transmissível, o tratamento deve ser feito para além da mulher, também ao parceiro sexual. O tratamento é feito por comprimidos com efeito antiparasitário por via oral como o metronidazole ou tinidazol.

Como se pode prevenir?

Existem alguns cuidados no dia a dia que podem reduzir o risco de Candidíase Vulvovaginal e Vaginose Bacteriana. Hábitos de higiene íntima corretos e cuidados específicos no dia a dia poderão minimizar e mesmo evitar o surgimento de queixas e sintomas como prurido ou comichão, a sensação de ardor e irritação, muitas vezes acompanhadas por corrimento vaginal, que poderá ter um cheiro desagradável.

É recomendado o uso de roupa interior de algodão, com cores claras ou branca. O algodão apresenta um maior poder de absorção, e é menos alergénico. Dormir sem roupa interior e utilizar no dia-a-dia roupa larga, são bons hábitos. A utilização de pensinhos diários por rotina deve ser evitada, podendo ficar reservados, por exemplo, para os últimos dias da menstruação. Durante a menstruação, a higiene íntima também deve ser reforçada. A substituição do penso/tampão ou copo menstrual deve ser realizada de forma regular e frequente.

A Candidíase Vulvovaginal pode surgir após a toma de antibióticos, pelo que se for frequente, o médico que está a prescrever o antibiótico deve ter conhecimento. No caso de existência de diabetes, é importante conseguir o seu bom controlo. Períodos de stress também podem promover o seu aparecimento. Agora que se aproxima o verão, os fungos aumentam o seu crescimento em ambientes húmidos e quentes, pelo que ficar com o fato de banho ou biquíni molhados aumenta também o risco de Candidíase Vulvovaginal.

Uma incorreta higiene íntima e a realização de duches vaginais, ou seja, a lavagem da vagina no seu interior, pode aumentar o risco de Vaginose Bacteriana pelo que é desaconselhada.

Em relação à Tricomoníase, tratando-se de uma infeção sexualmente transmissível, o uso de preservativo durante as relações sexuais é preventivo.

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Como distinguir os vários tipos de infeções?

A história clínica, o tipo de sintomas e as características em termos de corrimento ajudam a orientar o diagnóstico. O exame ginecológico é importante para a distinção e avaliação dos sinais e tipo de corrimento, como já descrito anteriormente. A avaliação do pH vaginal, disponível no mercado, também pode ajudar a orientar o diagnóstico, já que o pH vaginal na Candidíase é inferior a 4,5 enquanto que na Vaginose Bacteriana e Tricomoníase é superior a 4,5. Em termos clínicos, na Candidíase e na Tricomoníase o exame cultural por exsudado vaginal pode confirmar o diagnóstico.

Quais os cuidados que deve ter na higiene íntima?

A higiene íntima diária deve ser realizada em média duas vezes ao dia, já que tanto a higienização em excesso, como a insuficiente, são prejudiciais. No processo de higiene deve ser utilizada água corrente e um produto de higiene íntima em gel, adaptado à fase da vida da mulher, pois as características da pele e pH vão-se alterando ao longo da vida. A escolha de um produto adaptado com ácido láctico vai permitir regular o pH da zona íntima, e manter uma flora vaginal saudável e equilibrada, prevenindo os desvios da flora vaginal e as queixas associadas. O gel de banho não apresenta as características adequadas à higiene íntima. Esta deve ser realizada externamente utilizando a mão, fazendo movimentos da frente para trás. Os duches vaginais ou seja, a lavagem interna da vagina, não estão recomendados (salvo em casos pontuais e aconselhados pelo médico).

O corrimento vaginal é sinónimos de falta de higiene?

Não! É importante desmitificar e esclarecer que ter corrimento vaginal é normal! Desde que não cause comichão, ardor ou tenha cheiro fétido, o corrimento vaginal é fisiológico. O nível de estrogénios ao longo do ciclo menstrual e da idade, condicionam alterações no corrimento vaginal fisiológico, sendo também a quantidade de corrimento muito variável de mulher para mulher.

No entanto, a Vaginose Bacteriana pode estar associada a incorreta higiene íntima, inclusive à realização de duches vaginais, ou seja, lavagem da vagina no seu interior, sendo desaconselhada.

É necessário consultar sempre um médico ou existem outras alternativas que podem ajudar?

O ideal, para um diagnóstico mais correto é a observação pelo médico. A junção da história clínica, a procura de fatores predisponentes e a observação ginecológica vai permitir fazer um melhor diagnóstico diferencial, também com outras situações não infeciosas que podem cursar com sintomas similares e avaliar a necessidade de pedido de exames complementares. No entanto, costumo recomendar nos medicamentos SOS para levar para férias, o tratamento antifúngico, já que sabemos que ambientes quentes e húmidos podem por exemplo promover o surgimento de queixas de Candidíase vulvovaginal. Para auxiliar o autodiagnóstico, os testes do pH também podem ser vantajosos.