Mercearia da Atalaia
Sabores com alma no Bairro Alto
Há projectos e ideias com alma, espaços onde se percebe muito empenho pessoal e o esforço para levar aos outros um pouco da paixão e do ânimo que deu forma e concretização a um sonho. No coração do Bairro Alto há um espaço que não desmente o que atrás foi dito: chama-se Mercearia da Atalaia, fica na rua com o mesmo nome e, de certa forma, funciona como um microcosmos da zona da cidade onde se localiza: cosmopolita na sua feição diversa e moderna e, simultaneamente, típica, porque genuína, reinventando o espírito das antigas mercearias de bairro.
A Mercearia da Atalaia abriu as suas portas em 2003, reencontrando para o espaço a sua antiga vocação. Conta-nos a história do lugar que depois de funcionar como taberna, terá sido mercearia e, mais tarde, loja de decoração. Hoje é de novo mercearia gerida por duas irmãs que certo dia decidiram arregaçar mangas, dando corpo e espaço às muitas memórias sensitivas “coleccionadas “ nas viagens pelo país, na descoberta daqueles sabores e labores apoiados num saber com tradição.
A materialização do sonho abre-se hoje a um público diverso, nacional e estrangeiro, de todas as idades e com um denominador comum: procuram uma alternativa alimentar, traduzida em produtos com qualidade, que mantenham a aura de um saber fazer com tradição. Na Mercearia da Atalaia encontramos esses produtos perfilando-se nas prateleiras, sorrindo-nos em frascos, frasquinhos, boiões, saquetas, garrafas com dom e muitos atributos: o dom é cativarem-nos num primeiro olhar, tentando-nos; os atributos são os que se percebem nas coisas feitas com carinho e primor. Compotas, azeites, vinhos, massas, mel, especiarias e ervas aromáticas, queijos e charcutaria, biscoitos e chocolates, entre outros produtos, formam uma síntese e, de certa forma uma viagem, pelo que Portugal melhor preserva na sua tradição de mesa. Há, ainda, oportunidade, para um ou outro pulo a sabores além fronteiras.
Carlota Carneiro, uma das irmãs ligadas à loja, fala com entusiasmo do estabelecimento recusando-o como “um espaço elitista, por isso mesmo implantado num bairro popular. É claro que a vertente comercial não foi desprezada. Esta é uma zona da cidade turística, com a circulação de muitos nacionais e estrangeiros”. Estes últimos procuram, por norma, produtos portugueses, como os azeites, os vinhos, as compotas, os queijos e o sal. Por seu turno os nacionais procuram, para além do que é português, produtos estrangeiros.
Uns e outros, portugueses e estrangeiros, têm uma garantia: o que se compra na Mercearia da Atalaia chega da origem, regra geral de pequenos produtores que têm assim, na loja, uma porta para dar a conhecer e escoar parte da sua produção. Mesmo neste aspecto, a distribuição, há um cunho artesanal no funcionamento da loja, pois actua numa área onde os canais de distribuição são arcaicos. Entre quem compra e quem produz há, muitas vezes, somente um interlocutor, neste caso quem vende. Isso mesmo confirma-nos Carlota Carneiro sublinhando o esforço que é “mostrar o que melhor se faz de Norte a Sul do país, sensibilizar para os produtos de regiões menos conhecidas pois o cliente está sensibilizado para os produtos alentejanos, mas desconhece o que se faz, por exemplo no Norte”.
O espaço em si organiza-se em duas salas, uma abrindo-se para a rua, recebendo-nos e, de certa forma, convidando-nos para uma outra divisão, a garrafeira, aconchegada no interior da loja. A música ambiente, a iluminação serena, as madeiras e a pedra em tons claros, conferem uma certa aura e dispõem-nos para um périplo, sem pressa, no nosso caso acompanhado por Carlota Carneiro. Descobrimos, desta forma, o azeite com alho e quatro pimentas, o vinagre de arroz, os chás e cafés, as especiarias e ervas aromáticas tradicionais, o Muesli de agricultura biodinâmica, a marmelada caseira, as trufas de cacau, os rebuçados de Viana do Castelo, as queijadinhas de requeijão de Alcáçovas, o queijo da Serra da Estrela, a compota de gila ou de melancia com laranja.
Na garrafeira, gerida por Tiago Alves, sobrinho de Carlota Carneiro, ressalta a organização, com notas de prova e respectiva classificação para um largo espectro de vinhos de mesa nacionais (embora com algumas escolhas além fronteiras, caso de vinhos chilenos). Há, aqui igualmente, uma aposta na qualidade e num leque de preços variado.
Deixamos a Mercearia da Atalaia, com o som ambiente da música de Yann Tiersen, um trecho da banda sonora do filme "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain". Há músicas que nos dispõem, que nos tocam na alma, que nos deixam com vontade de regressar, por associação, a certos espaços físicos e da memória. O caso presente não desmente esta verdade.
Jorge Andrade
Selecção de sabores
Azeites:
Alho e 4 pimentas
Alecrim
Orégãos
Doces e compotas:
Gila
Damasco
Figo
Melancia com laranjas
Cenoura com amêndoa
Chás:
Ceilão
Assam
African Star
Doces:
Rebuçados de Viana do Castelo
Rebuçados de chá verde
Trufas de cacau
Bombons de gengibre artesanais
Bombons Belgas
Apfelstrudel (Torta de maçã alemã)
Queijadinhas de requeijão de Alcáçovas
Moinhos para temperar:
Sal, especiarias, algas, ervas aromáticas ou cogumelos são novidades provenientes da África do Sul.
Alheira de Montalegre
Queijos :
Serra da Estrela até aos dos Açores, passando pelos da agricultura biológica como o de Nisa, ou o amanteigado de Portalegre.
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