Mais do que um problema meramente estético, o hirsutismo, que atinge em média uma em cada 20 mulheres, pode ser uma manifestação de uma doença, geralmente do foro hormonal, pelo que justifica uma investigação sistemática pelo endocrinologista. Para além dos seus aspectos físicos, implica ainda problemas psicológicos e de desconforto nas relações sociais, justificando-se o seu tratamento, muitas vezes em coordenação com o dermatologista.

O que é?

O hirsutismo é um problema crónico que se manifesta pelo crescimento excessivo de pelos grossos e escuros na mulher em zonas do corpo onde normalmente surgem no homem, nomeadamente no lábio superior, no queixo, à volta dos mamilos, entre as mamas, abaixo do umbigo, na região interna das coxas e nas nádegas).

Como se manifesta?

Dependendo do grau de hirsutismo (leve, moderado ou grave) para além do crescimento anormal dos pelos, há, muitas vezes, outros sintomas associados, como pele oleosa, acne, cabelo fraco e oleoso, ciclos menstruais irregulares e redução da fertilidade. Nos casos mais severos, estão também presentes sinais de masculinização, como é o caso de voz grossa, aumento da massa muscular, redução do tamanho das mamas, aumento do tamanho do clitóris e, nalguns casos, infertilidade.

Qual a sua causa?

Em 80% dos casos, o hirsutismo está relacionado com um excesso de produção de hormonas masculinas (androgénios) pelos ovários e/ou glândulas supra-renais, sendo a causa mais frequente desta hiperprodução de androgénios a síndrome do ovário policístico.

Outros mecanismos envolvidos nas causas do hirsutismo são:

- Uma resposta exagerada do folículo piloso (estrutura que dá origem ao pelo) a níveis normais de androgénios, de causa desconhecida (hereditária, na maior parte das vezes). Neste caso, falamos de hirsutismo idiopático.

- A ingestão de medicamentos que podem estimular o crescimento dos pelos (corticoesteroides e anabolizantes, por exemplo).

- Em casos raros, pode ser uma manifestação de uma doença mais grave, como tumores (benignos ou malignos) dos ovários e das glândulas supra-renais. Ainda que rara, esta possibilidade deve ser sempre excluída pelo endocrinologista.

Quem afeta?

O hirsutismo atinge 5 a 8% da população feminina em idade fértil, o que significa que uma em cada 20 mulheres, entre a puberdade e os 50 anos, é hirsuta. Os dados são provenientes de estudos feitos maioritariamente nos EUA, mas os especialistas acreditam que a realidade portuguesa deverá ser semelhante ou superior. Apesar ter uma incidência muito heterogénea, o hirsutismo é menos frequente nas mulheres asiáticas e africanas.

Na Europa, as mediterrânicas são mais peludas que as nórdicas. Sabe-se ainda que existe uma relação do hirsutismo com a obesidade, embora não se conheça se de causa ou efeito. «Nem todas as mulheres obesas são hirsutas e nem todas as hirsutas são obesas, mas há uma grande coincidência e sabemos que o emagrecimento contribui para a melhoria», explica Jorge Dores, endocrinologista.

Texto: Fernanda Soares com revisão científica de Jorge Dores (endocrinologista)