Esgotadas todas as tentativas de reconciliação, as conversas e o esforço de compreensão de parte a parte, já não há maneira de fugir à realidade.

 

O casamento acabou. E agora, o que fazer para evitar (ainda) mais sofrimento?

Para respondermos a esta questão que se coloca aos casais à beira da rutura, falámos com o psicólogo Vítor Rodrigues e com a terapeuta familiar Cláudia Morais. O resultado é a seguinte lista de estratégias que ajuda a evitar que o divórcio deixe marcas irreparáveis.

A TOMADA DE DECISÃO

1. Assumir que o divórcio é uma situação difícil para todos

Segundo Cláudia Morais, terapeuta familiar, «a separação é um processo muito doloroso mesmo para quem teve a iniciativa de avançar com ela». Estar consciente que o sofrimento é vivenciado também pelo outro é determinante para que possamos gerir a situação. Como refere Vítor Rodrigues, psicólogo, «quando assumimos que os outros também estão a sofrer, tendemos a ser mais empáticos e tolerantes».

2. Comunicar a situação aos filhos em conjunto

A conversa deve decorrer sem atribuição de culpas e adaptando a linguagem à idade dos filhos. «Se as crianças são pequenas é importante centrar as questões num ponto de vista mais prático, garantir-lhes que vão continuar a ter uma casa, quem as ponha na cama, lhes faça mimos ou as leve a passear», exemplifica Cláudia Morais. Para Vítor Rodrigues é fundamental que percebam que os pais se divorciam um do outro mas não se divorciam delas. «É precioso que o digam, mas que também atuem em conformidade», acrescenta o especialista.

3. Admitir que os filhos sabem mais do que os adultos preveem

As crianças estão atentas a tudo, ouvem conversas e fantasiam sobre o que escutaram. É fundamental ouvir os filhos, deixá-los falar à vontade. Todas as perguntas são válidas e devem ser bem-vindas para que, considera a terapeuta, «não haja espaço para fantasmas e se evite, assim, qualquer tipo de culpabilização por parte das crianças».

 

4. Comunicar a decisão à família alargada

A decisão da separação deve ser transmitida aos familiares pelos elementos do casal e não por outras pessoas. «É a única forma de garantir o controlo da situação, evitar boatos e assim prevenir situações desagradáveis», explica a terapeuta.

DURANTE O PROCESSO DE DIVÓRCIO

5. Encarar o processo de divórcio como uma mera fase

Saber que nos vamos sentir melhor no futuro ajuda a ultrapassar a dor e sofrimento. O divórcio é um processo que continua para lá da oficialização da decisão, mas é possível voltar a encontrar a estabilidade emocional.

6. Evitar o isolamento

Deve-se procurar o apoio da família e amigos neste momento em que se está particularmente vulnerável e rodear-mo-nos de quem mais gostamos e de quem mais gosta de nós. Cláudia Morais chama ainda a atenção para a necessidade de se «combater sentimentos de vergonha».

7. Esperar que as crianças façam perguntas para as quais não se tem resposta

Na opinião da terapeuta familiar não há problema em admitir que ainda não se tem uma resposta, «desde que se acrescente que os pais vão conversar no sentido de chegar a um acordo». As crianças devem sentir que há negociação entre os pais e que, a seu tempo, os problemas dos adultos vão ser resolvidos pelos adultos.

8. Não criticar o ex-cônjuge

Lembre-se que destruir a imagem do outro não traz vantagens nenhumas e atacar os pais é sempre uma forma de agredir e magoar profundamente os filhos.

9. Perdoar o outro

É a única forma de se libertar definitivamente do seu ex-cônjuge. O perdão permite «afastarmo-nos do outro em paz de espírito e colocarmo-nos perante ele com alguma neutralidade», diz o psicólogo.

DEPOIS DO DIVÓRCIO

10. Fazer o luto

Permita sentir-se triste, frustrada e revoltada. «As pessoas devem poder admitir que estão magoadas, que têm pena que o casamento tenha acabado», defende o psicólogo, segundo o qual «espera-se que comecem a reagir ao fim de três meses ou pelo menos que sejam capazes de encarar a vida de uma maneira diferente».

11. Não forçar uma amizade

Ser cordial é suficiente, pelo menos nos primeiros tempos. Não exija mais de si ou do seu ex-cônjuge.

12. Apresentar novas relações aos filhos

Eles acabam sempre por ficar a saber, por isso é melhor saberem por si. «Para além disso, a informação pode ser veiculada de uma forma muito negativa», alerta Cláudia Morais. Segundo Vítor Rodrigues, «as crianças devem ser inteiradas dos dados relevantes da vida dos pais. Percebem que há algo diferente que lhe estão a esconder e sentem-se excluídas». A primeira reação pode não ser fácil, mas «quando a nova pessoa inclui a criança na rotina e mostra que gosta de estar com ela, até pode sentir que é um lucro afetivo, ou seja, que tem dois pais ou duas mães».

13. Exercer em conjunto o poder paternal

O facto de a criança ficar com um dos pais e ver o outro de 15 em 15 dias é, na opinião de Vítor Rodrigues, muito negativo. «Nos bebés até aos três anos, há prazos de separação entre as crianças e os pais que podem levar a uma quebra de vínculo e de confiança praticamente irrecuperáveis», sublinha.

Texto: Raquel Amaral com Vítor Rodrigues (psicólogo) e Cláudia Morais (terapeuta familiar)