António Teodoro tinha apenas 25 anos quando foi convidado para inspetor-chefe, funções que ocupou entre outubro de 1974 e maio de 1975 e permitiu que participasse na elaboração e implementação de alguns dos mais significativos processos de reforma do pós-25 de Abril no campo do ensino básico.
Quando se deu a revolução, o levantamento dos problemas estava feito: o ensino obrigatório era de seis anos, mas a maioria abandonava mais cedo; apenas uma minoria sabia ler e escrever; uma em cada três crianças (37%) chumbava logo no 1.º ano e havia muita fome nas escolas.
“Não havia o hábito de beber leite nem de comer fruta. Muitas crianças bebiam aguardente para aquecer ou sopas de cavalo cansado”, uma mistura de pão ou broa com gema de ovo e mel regado com vinho tinto, recordou o professor António Teodoro em à Lusa.
Foi então desenhado um plano alimentar e “as professoras começaram a distribuir um copo de leite, uma peça de fruta e uma sandes de queijo e fiambre”, disse. O copo de leite seria mais tarde substituído por um pacote de leite, numa iniciativa que se manteve durante décadas.
Com a alimentação tentava também combater-se o insucesso escolar, que tinha mais expressão no campo e nas periferias das grandes cidades. “Em 1975 havia cerca de 900 mil alunos na escola primária e não era raro encontrar crianças com 13 e 14 anos. Havia muitos repetentes”, lamentou.
Nas periferias das grandes cidades, os alunos tinham apenas três horas de aulas por dia. Havia poucas escolas e, para conseguir acolher todos, cada sala de aulas recebia três turmas por dia.
“Havia um primeiro grupo de alunos que tinha aulas das 8:00 às 11:00, depois vinha um segundo grupo com aulas das 11:00 às 15:00 e um último grupo das 15:00 às 18:00”, explicou o professor da Universidade Lusófona.
Entre 1974 e 75, uma das tarefas que teve em mãos foi a de encontrar espaços onde os alunos pudessem ter aulas durante toda a manhã ou toda a tarde. Nessa época, as igrejas, clubes e outras associações transformaram-se em verdadeiras escolas, lembrou.
Outra das razões para o insucesso e abandono era o facto de não existir uma rede de pré-escolar. Só os filhos de uma elite intelectual e os filhos das operárias fabris tinham acesso a creches. Os colégios privados acolhiam as classes privilegiadas e as creches construídas pelas fábricas recebiam os filhos dos funcionários, para que estas não faltassem ao trabalho.
No entanto, muitos destes espaços eram depósitos de crianças, uma vez que não havia ainda formação de educadores de infância. António Teodoro lembrou que “em 1939, o Estado Novo definiu que a educação da infância era uma tarefa das mães e não do Estado”.
O então inspetor-chefe participou também na reforma das escolas do magistério e da formação dos professores do primário, assim como na elaboração dos novos programas deste nível de ensino.
No dia da revolução, em 25 de abril de 1974, António Teodoro estava a cumprir o serviço militar obrigatório como oficial da Marinha, mas o seu passado atirou-o para o terreno para tentar encontrar formas de atingir uma sociedade mais justa e solidária.
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