Hoje em dia quando pensamos na educação de uma criança e nos desafios que enfrentará no futuro, percebemos que o nível e sucesso académico nem sempre garantem um lugar ao sol. Pelo menos, não tanto como ter boas competências de comunicação e relação com o outro.
E qual a melhor idade para começar a desenvolver estas competências?
Na verdade, nascemos já ‘pré-programados’ para comunicar como se percebe pelos diferentes tipos de choro do bebé. Mas para o presente propósito, a melhor idade para começar a incentivar estas competências será por volta dos 3 anos. Talvez a resposta pareça estranha, mas a presença de comportamentos prossociais como a procura de contacto físico e partilha de objetos nesta idade, e às vezes mais cedo, atuam como fatores de proteção contra o bullying, anos mais tarde.
Estas dicas são para os pais, pois são os primeiros, e principais, modelos de comunicadores com potencial. É com eles que adquirem comunicação, assim como é com eles que aprendem as regras sociais da comunicação e são eles os melhores parceiros para as pôr em prática.
1. “Cada um tem a sua vez de brincar… e de falar!”
É uma questão de respeito que significa, como disse Valter Hugo Mãe em O paraíso são os outros (cuja leitura se recomenda): “(…) é saber deixar que os outros tenham vez. Ninguém pode ser esquecido (…)”. Situações simples desde as mais simples como chutar uma bola de futebol até, às mais complicadas, como falar à vez à mesa, põem em prática esta regra fundamental da comunicação e, acrescentaria, da relação humana.
2. “O que eu falo é importante para mim.”
Saber ouvir é uma arte difícil de aprimorar, razão pela qual os pais devem ser os primeiros modelos pois na sua condição de hábeis comunicadores são capazes de veicular que estão completamente atentos ao que o filho diz, pelo menos algumas vezes por dia. É difícil ser-se sempre bom ouvinte, se não impossível, mas reserve um momento por dia em que lhe dedica a sua total atenção.
Nesse momento lembre-se que ouvir é um ato, uma forma de estar, e isso reflete-se na sua linguagem corporal: poderá estar ao mesmo nível que o filho (ex.: no sentado chão ou com ele no colo), estará a manter o contacto visual, a sorrir ou a acenar com a cabeça. Também poderá comentar o que ele está a dizer ou mesmo a fazer perguntas. Mas aqui, atenção, relembre-se da primeira dica! Se fizer uma pergunta, deixe-o responder.
3. “Quando eu partilho, ganho um amigo”
Regra geral, as crianças são muito possessivas em relação aos seus brinquedos e às suas pessoas, pelo que partilhar nem sempre é algo espontâneo. O papel das regras é essencial neste processo pois irão garantir uma segurança à criança.
Por exemplo, “Tens muitos carrinhos. Deixa o Miguel brincar com este, assim cada um tem o seu carrinho” ou “Vamos jogar à bola com o Miguel e atiras a bola à vez para ele” ou “Vamos brincar à bonecas, tu vestes a boneca e a Sara prepara a papa”. Tal como todas as regras, a que estabelecer deve ser coerente e consistente. Sempre que possa fala sobre o que é ser um bom amigo e com exemplos: “Tens muito chocolate, dá um quadrado ao Miguel que ele vai ficar todo contente. És um bom amigo!”
4. “Sou capaz de resolver os meus problemas”
Sempre adaptado à sua idade, mas a ideia é perceber o que a criança precisa para executar a tarefa de forma autónoma. Poderá ser um banquinho para chegar à sanita, dar-lhe os guardanapos para ele pôr a mesa, dar-lhe a esponja do banho e monitorizar a ver se não se esquece de nada, etc. A autonomia é um possível fator de proteção no bullying e também permite-lhe autorregular-se na relação com o outro.
A autorregulação emocional implica a criança reconhecer em si os seus sentimentos e procurar estratégias para se regular. Um dos principais conselhos que se dá aos pais neste sentido é legendarem o comportamento da criança e rotularem com uma emoção, podendo, de seguida, encaminhar a criança para uma atividade que a acalme, no caso de se tratar de uma birra.
Por exemplo, “Ok, estás chateada. Querias um gelado e eu disse que não podia ser. Vai lá para o teu espaço.”
5. “Eu compreendo o teu ponto de vista”
Esta dica está relacionada com a dica anterior, pois se a criança for capaz de identificar estados emocionais em si própria, estará mais apta para o fazer nos outros. Ao compreender as emoções nos outros e de forma estão relacionadas com as suas ações, poderá adaptar-se melhor ao outro.
Os pais também aqui podem atuar como modelo e comentar com o filho o seu próprio estado: “Não estou com muita atenção ao que estás a dizer. Estou preocupada/o, não sei o que dar à tua avó. Ajudas-me?”
A falar é que a gente se entende. É na comunicação com o que outro que entendemos o mundo e que nos entendemos a nós.
Joana Caldas & Jaqueline Carmona
PIN, Progresso Infantil Porto e Lisboa
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