Quando nasce um bebé, nasce um pai e uma mãe e, muitas vezes, vêm ao de cima um conjunto de crenças que foram sendo interiorizadas dentro de cada um de nós e que nem sempre são as mais saudáveis e promotoras de bem-estar. 

Assim, nascer para a parentalidade é uma tarefa mais exigente e desafiante do que muitas vezes socialmente se quer transmitir e se quer acreditar.

É exigente porque obriga a que os pais se reinventem, se adaptem a uma nova forma de vida, que se permitam a colocar questões, a sentir e a aprender.

Se pensarmos bem, todos nós já ouvimos algures um pai, ou mãe, dizer que quando nasce um filho se descobre o verdadeiro significado de amor, ou que quando nasce um filho este passa a ser a prioridade na vida dos pais. 

Ora, é absolutamente indiscutível que um filho é amor e que o nascer de um filho é dar outro significado ao amor. Apesar disso, um filho não deve nunca atirar os pais para um lugar onde apenas existe parentalidade, onde a prioridade de todas as coisas passa a ser única e exclusivamente a criança. 

Pois, quando assim é, torna-se difícil ser-se filho e torna-se difícil ser-se pais.

Torna-se difícil ser-se filho, porque quando um filho é sempre a prioridade de tudo na vida dos pais, tem menos espaço para falhar, tem menos espaço para fazer escolhas, tem menos espaço para ser ele próprio e tem uma necessidade muito maior de corresponder a todas as expectativas dos pais.

Torna-se difícil ser-se pais, porque, de repente, são anuladas partes fundamentais da vida dos pais, seja as ambições profissionais que ficam para segundo plano, seja os encontros com amigos que ficam cada vez mais escassos, seja o investimento na relação de casal que, aos poucos, se vai esbatendo. 

Assim, é muito importante que quando nasce um filho, cada um dos pais continue a investir em si próprio, em coisas que lhes dão prazer,  seja a relação a dois, seja contextos laborais ou sociais. A par disto, é importante termos consciência que - em circunstâncias saudáveis - não há como um filho não estar na primeira linha do coração dos pais, não há como um filho não ser um guia para os próprios pais, assim, o segredo é equilibrar tudo aquilo que os pais são - independentemente da parentalidade - e a parentalidade, lembrando-nos sempre que um filho será tão mais feliz, e terá tão melhores pais, quanto melhor consigo próprios estiverem os próprios pais. 

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.