Numa era em que as relações são definidas e tratadas como se fossem ‘fast-food’ e em que as redes sociais vieram colocar pressão nos estilos de vida de cada pessoa, há-que saber dizer que não a este novo meio de viver o amor, e Helena Magalhães diz-lhe como. Conheça mais sobre o livro “Diz-lhe que não”, o primeiro livro escrito pela jornalista e autora do blogue The Styland.
Como é que surgiu o “Diz-lhe que não” na tua vida?
O “Diz-lhe que não” veio de um seguimento de uma rubrica que eu tinha no blogue, chamada “o amor é outra coisa”. Esta rubrica tem uma serie de histórias que começaram no verão de 2015, que entretanto começou a ter tanto sucesso e começaram a ser os posts mais lidos do meu blogue, portanto, daí começou a surgir a ideia de ter um livro. Eu sei que toda a minha experiencia de escrever um livro é diferente das outros escritores que conseguem lançar livros, mas fui ter com a editora para ter uma ideia do livro, e eles disseram: “achamos que é giro, avança e logo se vê”. Então, comecei a escrever o livro no verão passado, tendo sempre como base o mesmo registo da rubrica, muito irónico e leve de se ler, não quis escrever algo chato porque na verdade ninguém quer ler coisas chatas. Eu queria que fosse de encontro com as expectativas que as pessoas tinham com as histórias da rubrica do blogue. E para quem não conhecesse as histórias do blogue e lê-se o livro entendesse a historiam o registo.
Porquê um poema da Florbela Espanca ainda antes do livro começar?
Em primeiro lugar porque eu adoro a Florbela Espanca, e esse poema em específico tem tudo a ver com o livro. Esse poema fala que um amor só não existe, e ao abrir o livro eu queria que tivesse uma conotação séria, porque, na verdade, eu tinha medo que o livro fosse mal interpretado.
São várias as vezes ao longo do livro que começas por contar o que acabou por acontecer e só depois explicas toda a história. Porquê esta forma de escrita?
Porque eu enquanto leitora tenho a perfeita noção que é preciso atiçar a curiosidade de um leitor, eu queria que houvesse uma história a acontecer de fundo que vai-se desenvolvendo ao longo do livro, e que cada capítulo fosse uma história individual, e que o leitor quando acabasse de ler cada capítulo compreendesse que vinha ai qualquer coisa sobre aquela personagem e que vai haver um desfecho algures no final e que quisesse continuar a ler. É importante atiçar a curiosidade de um leitor e que fique com aquela sensação de tem que acabar de ler o livro e que fique sempre com aquele bicho de curiosidade.
Quais são os tipos de homens que descreves neste livro?
Às vezes no blogue havia muitas pessoas que me perguntavam porquê que só escrevo sobre homens maus. “Parece que para ti o amor é super negativo” diziam elas, mas eu respondia que não estou a escrever sobre homens maus, estou a escrever sobre homens realistas, porque não existe somente os príncipes encantados, existem também os homens maus. Na maioria dos livros que encontramos só escrevem sobre os homens bons e os príncipes encantados, e eu queria escrever sobre o outro lado, enquanto não passarmos por todos estes homens, os reais, (todas as mulheres já passaram por este tipo de relação), não vamos conseguir identificar as experiencias boas. O que eu sinto, e aquilo que eu vejo à volta, é que muitas mulheres e muitos homens ficam agarrados a estas relações que nós acreditamos serem aquilo que queremos e que precisamos delas, e não queremos outra coisa. Toda a agente tem este sonho de querer mudar as pessoas, ela vai mudar por mim, não, ninguém muda por ninguém. Podemos nos adaptar, obviamente, quando gostamos muito de alguém, podemos adaptar a nossa forma de ser a outra pessoa, mas acho que isso é mais nas mulheres do que nos homens, porque as mulheres acreditam que vão mudar os homens, mas é muito difícil mudar alguém, porque todos somos como somos.
Sermos totalmente honestos não é propriamente saudável e até pode ser mesmo desastroso... As relações terminam porque as pessoas não são honestas umas com as outras?
Ser honesto não é saudável? Claro que é, acho que é super saudável. Acho desastroso não sermos honestos, mas também não podemos ser brutalmente honestos com a outra pessoa, não podemos ser transparentes em tudo. Mesmo com a nossa família e amigos não somos totalmente honestos, ninguém é 100% honesto. Mas eu tenho a certeza que a maioria das relações acabam porque as pessoas não são sempre honestas com elas próprias e com o parceiro(a), não são honestas com aquilo que sentem e querem. Às vezes ao sermos 100% honestos podemos nos desiludir ao descobrir algo que não queríamos, porque o desconhecido é algo que nos assusta muito. E este livro assenta muito nesta premissa de sermos honestos.
Que tipo de pressão é que as redes sociais colocaram nas nossas relações?
Acho que as redes sociais vieram alterar toda a forma de vivermos, quer seja em relações que seja com os amigos e etc, e no caso das relações vieram colocar uma pressão enorme, sim, e vieram mudar a forma como nos damos uns com os outros. O que eu acho é que as redes sociais fizeram com que nós seres humanos ficássemos desinteressadas uns nos outros, perdemos aquela capacidade de querer investir em alguma coisa, porque na verdade há muitas pessoas disponíveis à nossa volta. Mas também, as pessoas olham para as redes sociais como se fosse um diário, expõem a sua vida de qualquer forma, mesmo por vezes sem se aperceberem. O início das relações é sempre frágil e o facto de vermos uma pessoa a colocar a sua vida toda nas redes sociais, faz com que tenhamos, por vezes, uma imagem errada dessa pessoa, porque é tudo virtual e impessoal. E depois as pessoas adoram mostrar nas redes sociais o quão maravilhosa é a nossa relação, e as vezes nem sempre é tão maravilhosa como a demonstramos.
Concordas que as redes sociais nos obrigam a ter uma vida de fachada, onde a "felicidade" é a norma e a "tristeza" deve ser guardada para nós?
Ninguém quer mostrar a sua infelicidade, só mesmo a sua felicidade, mas também há pessoas que gostam de demonstrá-la nas redes sociais só para receber aqueles comentários de apoio e receber atenção. A maioria das pessoas tem uma vida de fachada virtual porque ninguém quer mostrar que está triste ou mostrar que a sua relação não é boa.
Com as redes sociais, é cada vez mais comum verem-se casais a namorar à distância. Achas que uma relação aguenta essa distância?
Não acredito porque eu vivi isso. Eu não tenho nada contra e eu acredito que há pessoas que consigam viver assim, mas viver numa relação à distância é muito complicado, para já tem que haver bases quando as pessoas estão juntas cá para a relação se sustentar depois à distância. E toda uma comunicação virtual cria ilusões e mal entendidos.
Porque é que as mulheres continuam a imaginar o homem perfeito sabendo ao mesmo tempo que ele não existe?
Mas eu acho que os homens também imaginam a mulher perfeita, como a mulher da capa de revista, que não existe, claro. Acho que todos nós idealizamos e imaginamos com a pessoa perfeita ou a companhia perfeita que está ali à nossa espera, que não existe obviamente, mas às vezes faz bem imaginar e acho que isso faz parte do nosso imaginário e depois na realidade vamos à busca daquela pessoa que se encaixa ou que mais corresponde às nossas expectativas, mas essa pessoa quando não corresponde as nossas expectativas algo de mau correu ali.
Texto: Laura Pinheiro e João Miguel Silva
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