Raramente me ofereciam livros para ler, talvez raramente nem seja adequado. Não me recordo mesmo de receber livros em criança. Infelizmente, sentia eu já na altura. Ler é um portal mágico e quem promove a leitura junto das crianças está a ser extremamente generoso.

Na vila onde cresci existe uma biblioteca, dividida em duas áreas: crianças e adultos. Recordo-me do meu entusiasmo em subir os degraus para aceder à área dos adultos. Aquando da primeira vez o meu coração pulsava com curiosidade, a minha mente imaginava tantas histórias. É verdade que numa biblioteca reina o silêncio e tudo contribui para o misticismo da experiência de escolher aleatoriamente, ou, especificamente um título. Fosse por lazer, e foram na maioria das vezes - até bem tarde, creio que até aos 20 anos consumi livros da biblioteca – ou fosse em âmbito escolar.

Atualmente o acesso à Internet é mais comum, ainda que existam muitos pontos do país onde esta lacuna persista. Infelizmente a desigualdade é real e não vale a pena ignorar este facto, contudo, na altura, há cerca de 23 anos atrás, o acesso à informação também era outro: ou existiam bibliotecas pessoais, de enciclopédias que existiam por casa e que ajudavam na realização dos trabalhos da escola, ou algum familiar com maior conhecimento que podia contribuir para o efeito.

Muitas horas vivi na biblioteca. Muitas horas felizes. Era um lugar mágico para mim, onde sabia sempre que teria três mulheres bibliotecárias que me recebiam e cuidavam com imenso carinho. A Carla, a “Xana” e a Carmen foram pessoas que me viram crescer, é impossível dissociar a minha experiência da relação que com elas estabeleci.

Não ouço, atualmente, as crianças e os jovens adolescentes referirem as bibliotecas, ou, os educadores a incentivarem as suas visitas às bibliotecas. Fica mesmo uma sensação de que é algo que já nem existe. “Saber ler é acender uma luz no espírito” disse a escritora norte-americana Pearl Buck.

Nunca requisitava apenas um título, era sempre o número máximo que podia. Grande parte das minhas horas, na minha pré-adolescência até jovem adulta, foram vividas a consumir livros da biblioteca.

Dar vida aos livros que estão na biblioteca, fazer-lhes companhia, dar-lhes um propósito. Viajar de forma gratuita, não é de aproveitar?

Estes espaços são detentores de uma riqueza sem comparação, possuem obras de arte que estão eternizadas, às quais podemos recorrer com pouco esforço, ignorando totalmente o feito do que é construir uma biblioteca, um espaço onde a liberdade de expressão é honrada com a partilha dos exemplares presentes.

Atualmente, em Portugal, existem cerca de 180 bibliotecas ativas, assim como existe a Biblioteca Nacional Digital onde é possível consumir os livros num formato digital e, muito importante referir, legalmente.

Convido-o a partilhar comigo a sua experiência, seja da infância, da adolescência, ou mesmo enquanto adulto, com a biblioteca.

Conte-me se frequentava a biblioteca, quais livros o atraíam, se fez amigos neste espaço, que livros mais o marcaram ou que motivos tem atualmente para manter essa experiência. O que sentir!

Escreva-me para soraiasequeira.heartcoach@gmail.com.