O ministro dos negócios do Reino Unido, Kwasi Kwarteng, está a considerar uma mudança para uma "dieta vegana" para ajudar a combater as alterações climáticas, acrescentando que as pessoas precisarão também de fazer mudanças no seu estilo de vida. Tudo isto para que se cumpra uma nova meta de redução de emissões em 78% face aos estimados até 2035.
Mas que diferença faria se todos adotassem uma dieta baseada em plantas? Especialistas dizem que alterar a forma como comemos é importante para o futuro do planeta, mas que a ação do governo é tão ou mais importante, refere um artigo do jornal inglês The Guardian.
Os estudos sobre o impacto da redução ou eliminação da carne variam. Alguns mostram que a escolha de opções vegetarianas/veganas reduziria as emissões de gases de efeito estufa por pessoa em apenas 3%. Outros mostram uma redução, por pessoa, na ordem dos 20-30%.
O que comemos é um "grande problema"
O escritor e ativista ambiental George Monbiot explica que estes números variam por causa do que os cientistas medem.
“Existem duas maneiras completamente diferentes de olhar para o impacto numa dieta: uma é o dióxido de carbono libertado pela produção de um determinado alimento - a 'conta corrente'; outra é a 'conta poupança', que é o custo de investimento para produzir este alimento em vez de outro”, refere Monbiot ao jornal inglês.
“Se estivermos a produzir carne, por exemplo, para que serviria essa terra se não fosse produzida? Seria para cultivar florestas ou estufas?"
Monbiot diz que o que comemos é um "grande problema", tal como os nossos hábitos de transporte.
"A maior parte do que podemos fazer a nível individual é pouco em comparação ao que os governos precisam e podem fazer. Porém, mudar uma dieta tem um grande impacto".
Em 2018, cientistas descobriram que evitar o consumo de carne e laticínios seria a única forma de reduzir o impacto ambiental no planeta. O estudo mostrou que sem o consumo destes produtos, o uso global de terras agrícolas poderia ser reduzido em mais de 75% - uma área equivalente aos EUA, China, União Europeia e Austrália combinados - e ainda alimentar a população dos países mais carenciados.
"O setor alimentar é certamente um dos mais importantes quando se fala de impacto ambiental, pois globalmente é responsável por cerca de um terço de todas as emissões de gases de efeito estufa”, explica Dr. Marco Springmann, investigador sénior em meio ambiente, sustentabilidade e saúde pública na Universidade de Oxford.
Springmann acrescenta que a maioria das emissões se deve à produção de alimentos como carne bovina e laticínios, o que “significa que sem alterar as emissões associadas a estes produtos fica difícil progredir”.
“Podemos mudar a composição da ração que vai alimentar o animal, mas isso não muda a necessidade de alimentá-lo com uma grande quantidade de produto", disse, acreditando que o governo precisa oferecer incentivos para produtos sustentáveis, enquanto encarece a carne bovina e laticínios.
É feminista e bebe leite? Então algo não bate certo
Frank Mitloehner, professor e especialista em qualidade do ar na Universidade da Califórnia, refere que apontar a responsabilidade a um indivíduo é uma distração para a necessidade da intervenção política.
"Em questões ambientais, tornar-se vegano por dois anos tem o mesmo impacto que um voo entre a Europa e os EUA. Se realmente quisermos fazer a diferença nas emissões de dióxido de carbono, precisamos alterar as políticas, incentivando aqueles que podem realmente reduzir as emissões de gases de efeito estufa", disse o professor.
Mitloehner acredita que a melhor escolha é "votar. Essa é a mais importante".
Martin Heller, que conduziu um estudo na Universidade de Michigan sobre o tema disse: “Não há balas de prata para as alterações climáticas. Isoladamente, os atos serão insuficientes".
"É ingénuo presumir que as pessoas mudarão simplesmente os comportamentos porque é bom para o planeta. Isto exigirá uma política direcionada, mudanças nas indústrias e serviços alimentares ”, finalizou.
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