“Não herdámos a Terra dos nossos antepassados. Pedimo-la emprestada aos nossos filhos”. É também com um pedido de empréstimo que Eunice Maia cunha esta citação para a abertura do seu livro “Desafio Zero”. A fundadora da mercearia biológica Maria Granel, em Lisboa, cita as palavras dos Lakota, povo indígena da América do Norte. Ao fazê-lo, a impulsionadora do conceito zero waste, em Portugal, sintetiza aquilo que tomou como prática do seu quotidiano: respeitar os ecossistemas que recebemos e vincular a sua vida a uma relação de sustentabilidade para com o planeta. Um exercício de ativismo em prol de um futuro mais sustentável que Eunice liga à “memória” e ao “legado”. “Não podemos esquecer e desrespeitar quem ancestralmente sempre cuidou da Terra”.

Em conversa com a autora do projeto educativo e ambiental em meio escolar, “Programa Z(h)erro”, percebemos como a mudança não implica ações em larga escala. Podemos fazê-lo numa dimensão individual e nas comunidades onde nos inserimos. O importante é começar, de acordo com a Eucine que nos recorda as palavras de Anne-Marie Bonneau (zero waste chef): “não precisamos de um grupo de pessoas a praticar zero waste de forma perfeita; precisamos de milhões a fazê-lo de forma imperfeita”.

Eunice Maia soube fazer o seu percurso de libertação, do “consumo excessivo e irresponsável, apagado de qualquer consciência ambiental” para uma consciência de que “o consumismo se alimenta de uma sugestão constante de que precisamos daqueles produtos, de um apelo e sedução omnipresentes”, como nos confidencia nesta entrevista.

Uma viagem ao mundo do “Desafio Zero” (editora Manuscrito) feita com a consciência de que “´zero` é uma utopia, um arquétipo, por que vale a pena lutar”, embora condicionado por fatores que “nem sempre controlamos, que não nos são acessíveis ou que simplesmente ainda desconhecemos perto de nós”.

Não obstante a legislação sobre venda a granel desfasada do “espírito do tempo”, Eunice deixa-nos uma mensagem de otimismo face à produção, tendo por bitola a sua loja Maria Granel: “os nossos cinco anos de operação mostram que há cada vez mais produtores e cada vez mais qualidade”.

“Consumimos demais. Descartamos demais. Não se trata já de crescer, mas de sobreviver”. Eunice Maia, o rosto do “Desafio Zero”
"Quando olho para trás, costumo dizer que nada dava indicação de que teria uma mercearia biológica a granel e uma missão comprometida com a sustentabilidade". créditos: Gustavo Figueiredo

Eunice, até à publicação de “Desafio Zero”, há um percurso seu que merece ser partilhado. Brevemente, como é que “o consumo excessivo e irresponsável”, citando-a, dá lugar, a uma Maria Granel, o prémio nacional Terre de Femme e o Programa Z(he)ro?

Foi um caminho lento, mas muito natural. Quando olho para trás, costumo dizer que nada dava indicação de que teria uma mercearia biológica a granel e uma missão comprometida com a sustentabilidade, mas, quando olho mesmo profundamente e uno os pontos aparentemente soltos do meu passado, essas indicações já lá estavam semeadas: venho de longas gerações de gente que cultivava a terra e dela dependia para subsistir, o meu pai é um autêntico guardião da natureza, eu própria cresci no campo. A verdade é que, tendo-me afastado dessas raízes, acabei por reencontrá-las mais tarde e honrá-las. No fundo, acredito que regressei a um compromisso que nunca se tinha perdido na minha alma e no meu coração.

sustentatibilidade
créditos: Bernard Hermant

Esta é a segunda de uma série de três entrevistas sobre o movimento "zero waste". Reveja a entrevista a Ana Milhazes.

No seu relato sentimos o anterior cansaço do consumismo. As sociedades propensas ao consumo querem-nos assim, exaustos?

O consumismo alimenta-se de uma sugestão constante de que precisamos daqueles produtos, de um apelo e sedução omnipresentes. Por isso, sim, há maior propensão à exaustão, mesmo que não seja consciente. Se estamos apenas ligados ao ter, estamos profundamente desligados do ser.

O consumismo alimenta-se de uma sugestão constante de que precisamos daqueles produtos, de um apelo e sedução omnipresentes.

Na época reciclava. E isso, a muitos de nós, parece-nos o suficiente. Não chega?

Não chega, não chega de todo. Essa é das principais mensagens que precisamos de passar. Obviamente, e é importante sublinhar, a reciclagem tem de acontecer e tem de ser bem feita. No entanto, se continuarmos a consumir desalmadamente, sob a desculpa de que depois reciclamos, o verdadeiro problema continuará. Porque o nosso problema hoje é vivermos neste planeta como se tivéssemos outro à nossa espera depois de o arruinarmos por completo: uma economia centrada num crescimento célere e constante, absolutamente dependente do consumo e do consumismo, hipercarbónica, ao serviço da extração imparável de recursos e da emissão de CO2, acumulando objetos inúteis, descartando esses mesmos objetos depois de os transformar rapidamente em resíduos.

Esta sociedade linear do “deita fora” gerou esta crise de lixo que tem hoje entre mãos e que não tem fronteiras. Vivemos uma crise global de resíduos que é fruto do nosso comportamento consumista e de uma economia linear baseada num padrão de produção e descarte sucessivos. Temos de perceber com urgência que esse paradigma se esgotou e tem os dias contados. Portanto, antes de reciclar, há ainda todo um outro caminho, fundamental. Recorrendo às palavras de Bea Johnson, nós precisamos coletivamente, de “Recusar aquilo de que não precisamos; reduzir aquilo de que precisamos; reutilizar aquilo que consumirmos; reciclar o que não pudermos recusar, reduzir ou reutilizar; e compostar tudo o resto”.

sustentabilidade
créditos: Laura Mitulla

A Eunice abre o livro com uma frase bela mas perturbadora. “Não herdámos a Terra dos nossos antepassados. Pedimo-la emprestada aos nossos filhos”. Cita os Lakota, um povo indígena da América do Norte. Esquecemos por completo o princípio implícito nestas palavras?

Esquecemos.  E essa é uma reflexão essencial. Precisamos, como comunidade, de respeitar duas noções para garantir um mundo melhor: memória e legado. Não podemos esquecer e desrespeitar quem ancestralmente sempre cuidou da Terra com respeito e temos a obrigação de assumir a responsabilidade pelo legado que vamos deixar ao futuro.

A Terra não é nossa e não precisa de nós para sobreviver. Nós é que, aparentemente, nos esquecemos disso.

Tem no prefácio do seu livro um contributo de peso, a Bea Johnson. Julgo que ela põe o dedo na ferida. Acusamos a indústria mas, depois, enquanto consumidores esquecemo-nos que a apoiamos. Estamos a ser hipócritas?

Não estamos a ser hipócritas, simplesmente não despertámos para o problema. Quando a nossa consciência desperta, o caminho torna-se irreversível. E aí a nossa voz ganha um poder que não tínhamos noção que possuía, porque não a usávamos. A minha compra é um voto. A minha compra é o grito mais sonoro que posso emitir e o sinal com mais impacto que posso dar. Se escolho comprar a granel, se escolho comprar alimentos não embalados, se escolho comprar em segunda mão. O que muda é a forma como consumimos e a indústria, o mercado, estão a ouvir-nos.

Desafio Zero
Eunice Maia publicou este 2020 o livro que faz testemunho da sua mudança de atitude face ao resíduos e ao consumo. créditos: Manuscrito

É possível chegarmos ao lixo zero, ou trata-se meramente de um conceito que nos incentiva a melhorar?

Como digo várias vezes no livro, para mim, o “zero” é uma utopia, um arquétipo, por que vale a pena lutar. Um estilo zero waste e low impact é necessariamente condicionado por fatores que nem sempre controlamos, que não nos são acessíveis ou que simplesmente ainda desconhecemos perto de nós, como superfícies ou mercearias a granel e com sistema BYOC [Bring Your Own Container], existência de mercado dos produtores, secções comerciais com alimentos biológicos sem embalagem de plástico, ausência de vontade ou jeito para cozinhar os próprios produtos, falta de tempo ou de espaço para determinadas práticas, ausência de sistemas eficazes de recolha e tratamento de resíduos.

O mais importante é mesmo tentar e ir conseguindo; é celebrar as pequenas mudanças. Creio também que é esta consciência de um certo fracasso, que será sempre inerente à luta pelo “zero”, que nos une em torno desta causa, criando “comunidade”. É o fracasso mais vitorioso que conheço. O zero é impossível, mas merece que façamos alguma coisa, que comecemos! Que lutemos juntos todos os dias por ele. Não há nenhuma fórmula mágica, nenhum guia, nenhum livro que o possa fazer por nós. É dentro de nós que está o caminho. É dentro de nós que está a revolução.

Precisamos cada vez mais de celebrar os pequenos gestos, de fazer os outros acreditar no poder do seu impacto e da sua mudança, em vez de os julgar e criticar.

A Eunice fala em “ecoologia” [a ecologia cool]. Porquê? A ecologia estava a ser maltratada?

Passos para fazer a revolução sustentável fora de portas, de acordo com Eunice Maia:

- Dizer “não, muito obrigada” a brindes, publicidade, descartáveis.

- Planificar bem as compras; comprar menos quantidade e apostar na qualidade.

- Evitar processados e embalados, fazendo as próprias refeições com alimentos "de verdade".

- Comprar a granel.

- Levar e reutilizar os próprios sacos e contentores.

- Escolher legumes e fruta "feios" ou fora dos padrões ("quem vê caras "não vê sabores).

- Dizer "não" às palhinhas.

- Andar sempre com um kit de talheres e guardanapo de pano.

- Levar marmita.

- Andar sempre com uma garrafa reutilizável e (re)abastecer.

- Comprar menos e em segunda mão.

- Deixar sugestões de melhoria a marcas e serviços e instituições.

- Envolver-se em comunidade nesta revolução com o exemplo.

Não, mas o fundamentalismo afasta as pessoas. E nós precisamos cada vez mais de celebrar os pequenos gestos, de fazer os outros acreditar no poder do seu impacto e da sua mudança, em vez de os julgar e criticar. Gosto sempre de citar a frase da Anne-Marie Bonneau (zero waste chef), pelo seu otimismo e força: “Nós não precisamos de um grupo de pessoas a praticar zero waste de forma perfeita; precisamos de milhões a fazê-lo de forma imperfeita”. Acredito muito nisso, no poder dos pequenos gestos imperfeitos. A ecologia precisa de milhões de ativistas imperfeitos.

A loja mostrou-me também como é importante a dimensão estética para atrair pessoas que chegam à ecologia primeiro por essa via: pessoas que começaram a mudar as despensas e a consumir a granel e a guardar os alimentos nos seus ´frasquinhos` porque tudo ficava mais bonito assim, e a partir dessa pequena mudança, para lá da dimensão estética, chegaram ao impacto ambiental.

A ecologia e o ativismo ambiental só têm a ganhar com o caminho imperfeito de quem quer começar e dá os primeiros passos.

Traça-nos no seu livro um elucidativo percurso sobre o monstro chamado plástico. A Eunice conseguiu bani-lo da sua vida? Onde encontra as alternativas?

Não, nem pretendo bani-lo. E não quero de modo nenhum demonizar um material que é extraordinário quando pensamos nas suas características e na forma como contribuiu para o progresso da humanidade.

O desafio que lanço neste livro não pretende, contudo, ser uma manifestação de uma fervorosa cruzada antiplástico. É importante repetir: o inimigo não é o plástico; é o uso que dele fazemos, a forma como o consumimos e descartamos. O problema está em nós e no nosso comportamento, não no material. Aliás, ironicamente, o plástico chega a ser, numa lógica de análise do ciclo de vida [LCA - Life Cycle Assessment], se pensarmos nas primeiras fases desse ciclo, mais sustentável do que outros materiais normalmente elencados como alternativa; o papel, o algodão, o vidro, o aço, por exemplo, possuem uma pegada superior.

Onde está, então, o cerne desta questão?

O cerne da questão está sobretudo no fecho, ou ausência dele, do seu ciclo de vida, no pós-consumo. Este material é o principal agente omnipresente da poluição marinha, causando danos irreversíveis nos ecossistemas, devido à sua permanência e durabilidade, com consequências na saúde humana e do planeta, provocando prejuízos económicos avultados.

A minha luta é contra os plásticos descartáveis, de uso único, que não fazem qualquer sentido. E, nesse caso, a primeira alternativa é mesmo dizer “não”, recusar: não quero o saco do supermercado para a fruta, não quero a palhinha, não quero os talheres descartáveis. E planificar, andar sempre com as alternativas que já temos em casa (não é preciso comprar!): talheres embrulhados num guardanapo de pano, sacos reutilizados.

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Crescer ou sobreviver. A escolha parece-nos óbvia enquanto preservação da espécie. Acha que a racionalidade nesta escolha vai conseguir sobrepor-se ao modelo económico em que vivemos?

Este é um momento extremamente crítico, num planeta cujos recursos exaurímos, provocando a emissão de CO2 em níveis que excedem há muito o que é considerado seguro, desencadeando alterações climáticas e o aquecimento global. “A nossa casa está a arder”, como nos lembra Greta Thunberg. Vivemos numa era definida como Antropoceno, a primeira era geológica marcada pelas alterações biofísicas das ações humanas à escala planetária. Esta crise climática é consequência do nosso consumo excessivo. Produzimos de mais. Consumimos de mais. Descartamos de mais. Não se trata já de crescer, mas de sobreviver. Nunca a consciência desta realidade foi tão aguda. Não temos outra hipótese.

A minha luta é contra os plásticos descartáveis, de uso único, que não fazem qualquer sentido. E, nesse caso, a primeira alternativa é mesmo dizer ´não`

A Eunice fala-nos no seu livro da “alienação feliz” no que respeita ao lixo. Uma espécie de varrer o problema para debaixo do tapete. Como podemos diagnosticar em nossas casas a doença lixo?

Temos de a encarar. Perceber o lixo que produzimos, perceber as categorias e os pesos. Perceber as suas fontes. Perceber como reduzir e de que alternativas dispomos. O primeiro passo para a cura é o diagnóstico depois do exame. O mesmo se passa com o nosso lixo.

sustentabilidade
créditos: Sylvie Tittel

Voltando à irracionalidade e tocando na questão do recusar. Será que se recusarmos sistematicamente, a cadeia de produção vai deixar de gerar mais “lixo”? Ou vai alimentar uma parte dessa cadeia (produtor-cliente intermédio) sem precisar do consumidor?

O consumidor é o elemento fundamental do consumismo. Se ele recusar, o produtor vai mudar. Pensemos na extraordinária revolução que está a acontecer nas alternativas aos produtos de origem animal. O consumidor deu o sinal, o mercado está a reinventar-se e a inovar para lhe responder. Pensemos na Renova, por exemplo, o consumidor deu o sinal [“queremos papel higiénico sem embalagem de plástico”], a empresa reinventou a embalagem e criou um revestimento de papel. A recusa, o não, é um catalisador de inovação, de criatividade e de mudança.

Passos para fazer a revolução sustentável dentro das nossas casas, de acordo com Eunice Maia:

- Aproveitar ao máximo os alimentos (talos, cascas, sementes) e dar nova vida aos restos.

- Acondicionar e preservar corretamente os alimentos.

- Fazer o "download" de aplicações que combatem o desperdício,

- Fazer compostagem caseira ou doar os resíduos orgânicos através da "ShareWaste" APP.

- Separar os resíduos e reciclar.

- Fazer os próprios produtos de limpeza, higiene e beleza ou substituir por produtos sem embalagem plástica ou comprar a granel.

- Optar por escovas de dentes de madeira (ou de cabeça amovível).

- Não usar cotonetes de plástico.

Fora de casa, nas compras, contamos com uma legislação que facilita a disponibilização de produtos a granel?

Não, infelizmente. Posso dizer que, comparando com as congéneres europeias e mundiais, a nossa legislação sobre o granel está completamente desfasada do “espírito do tempo”. Para dar um exemplo, foi com surpresa, com perplexidade, que assistimos à publicação do Decreto-Lei n.º 157/2017, que determina que “o arroz e a trinca de arroz destinados ao retalho são obrigatoriamente pré-embalados". Consultámos de imediato na altura associações de comerciantes a granel de outros países e várias outras lojas pioneiras como a nossa neste conceito, na Alemanha, na Inglaterra, em Itália, França, e em nenhum destes países há qualquer proibição de venda de arroz a granel. Pelo contrário, a tendência é precisamente legislar para proteger e incentivar o consumo a granel e sem embalagens, como alternativa e medida de combate ao efeito nocivo do plástico e dos BPA. Acrescente-se ainda que, em França, a Associação de comerciantes a granel conseguiu, em março de 2018, que fosse permitida a venda e a distribuição de azeite e óleos a granel. Não percebemos por isso como, enquanto a Europa e o mundo dão sinais no sentido oposto, para salvaguardar a sustentabilidade do nosso ecossistema, Portugal regride e impõe a comercialização pré-embalada de arroz. Não deveríamos acompanhar o espírito do tempo e o sinal inequívoco que os consumidores estão a dar de preferência pela ausência de embalagens e por um consumo mais responsável e consciente? Não deveríamos rever a legislação obsoleta (parada nos anos 80) e introduzir a permissão (obviamente balizada por normas de higiene e segurança alimentar) de venda sem embalagem?

Comparando com as congéneres europeias e mundiais, a nossa legislação sobre o granel está completamente desfasada do “espírito do tempo”.

Não basta comprar a granel é preciso conhecer a origem dos produtos. A Eunice tem uma loja de venda a granel, conhece os fornecedores. Portugal é um bom exemplo de aposta nas produções locais?

É, sim, cada vez mais. Estamos a fazer por isso. No nosso caso, tratando-se de mercearia seca, é ainda difícil garantir a oferta de produtos bio, nacionais a granel; não há produção ainda suficiente. Mas os nossos cinco anos de operação mostram que há cada vez mais produtores e cada vez mais qualidade. Por exemplo, no que diz respeito às embalagens, temos um orgulho enorme nos nossos fornecedores que reviram e inovaram, apostando connosco num programa de reutilização de embalagem, numa lógica circular.

sustentabilidade
créditos: Laura Mitulla

Se tivesse de escrever um manifesto sobre os princípios para uma compra consciente, quais seriam os pontos imprescindíveis?

Antes de comprar, fazer algumas perguntas e responder com total honestidade a: preciso mesmo deste produto ou tenho já algo parecido ou igual? Vou usá-lo quantas vezes? Se for roupa: consigo conjugar esta peça com outras peças? Tem qualidade e está bem produzida [resistência, durabilidade, indicações sobre manutenção]? De que materiais é feito? Como e onde foi produzido? Quem produziu, em que condições? Sei quem estou a apoiar com esta compra? Está alinhado com os meus valores? O que lhe posso fazer no final de vida?

Toca no seu livro num aspeto importante: reduzir em comunidade. Não será, talvez, um dos maiores desafios? Seremos em Portugal comunitários?

Somos e podemos ser ainda mais. A nossa condição “urbana” anulou muitos dos princípios circulares que trazemos das nossas pequenas comunidades de origem, como aconteceu comigo, e que estamos novamente a resgatar e a valorizar.

Eunice, vamos supor que voltava ao passado e se encontrava consigo mesma com dez anos. Que conselho daria a essa Eunice ainda menina, sobre a forma como devia cuidar do planeta que recebeu?

O segredo é amar. Sempre.

Esta é a segunda de uma série de três entrevistas sobre o movimento "zero waste". Reveja a entrevista a Ana Milhazes.