Viver em sociedade nem sempre é fácil e ter de trabalhar com colegas com feitios e personalidades complexas também não, sobretudo se for uma pessoa com baixa autoestima.
«A autoestima é indissociável da autocrítica, a capacidade de identificar e tolerar as insatisfações pessoais e as críticas dos outros», aponta a psicóloga clínica Catarina de Castro Lopes.
«Se existir uma autoestima fortalecida, será mais fácil tolerar as críticas e aprender com os erros. Se estiver segura do seu valor, sentirá maior serenidade perante as opiniões dos outros. Alguém detentor de uma autoestima adaptativa ou adequada tolera eficazmente os feedbacks do exterior. Pessoas com níveis mais elevados de autocrítica são mais capazes de naturalizar as críticas dos outros, tolerando-as e aprendendo com os seus próprios erros», diz.
A insegurança é outro dos fatores que condiciona as relações laborais. «Pode sentir uma espécie de dependência da opinião dos outros para tomar decisões. Se a sua autoestima não estiver fortalecida ou se for demasiado exigente consigo mesma pode haver um género de filtro mental que absorve todas as críticas negativas ou depreciativas, indo ao encontro da imagem negativa que tem de si própria», refere a psicóloga clínica.
A visão de uns e a visão de outros
Nem todas as pessoas lidam com a pressão da mesma maneira e o modo como o encara pode dizer muito de si:
- Sou imune ao stresse. Este não me afeta
Se esta é a imagem que passa de si, o seu chefe pensará algo como «Posso contar com esta pessoa, ajuda-me a aguentar o barco mesmo que as coisas corram mal», descreve Vítor Rodrigues. Já os seus colegas pensarão mais algo go género «Gostamos de estar com esta pessoa, ajuda a relativizar os problemas e a encontrar mais calma».
Neste caso, para melhorar a sua atitude siga o conselho de Vítor Rodrigues. «Uma imagem de calma precisa de corresponder à realidade e, além disso, importa que não aparente indiferença ou superioridade. Mantenha a calma, mas mostre interesse e empatia pelo que os outros sentem», recomenda o especialista.
- Preciso dos outros para funcionar
Se esta é a imagem que passa de si, o seu chefe pensará algo como «Às vezes cansa-me ter de andar atrás de pessoas como esta. Dava-me jeito alguém com mais autonomia, responsabilidade, iniciativa», conta o psicólogo. Já os seus colegas pensarão algo mais na linha de «É cá dos nossos mas parece que não sabe mexer-se sem ter alguém a pressioná-lo».
Siga o conselho do psicólogo para melhorar a sua atitude neste caso. «É bom mostrar iniciativa e capacidades de corredor de fundo. Algumas pessoas procuram momentos de pressão para mobilizarem as suas capacidades e isso pode funcionar, mas importa não dar a imagem de que só conseguem trabalhar em cima dos prazos ou de que não conseguem fazer por si o que lhes compete», adverte o especialista.
- Fico bloqueada muito facilmente
Se reage desta forma ao stresse, o seu chefe poderá pensar algo como «Ou trato esta pessoa com pezinhos de lã ou mais vale despedi-la. Não aguenta a pressão, logo poderá ir-se abaixo quando mais precisar dela». Já os seus colegas de trabalho, pensarão algo na linha «É pena, mas esta pessoa não consegue aguentar-se. Se precisarmos dela, poderá não estar lá, por isso é melhor não contarmos com ela».
Para melhorar a sua atitude nestes casos, siga o conselho de Vítor Rodrigues. «É sempre bom mostrar capacidade para trabalhar bem, mesmo em condições difíceis. Bloqueios deste tipo costumam surgir perante altos níveis de ansiedade, mas podem desaparecer quando se aprende a geri-la melhor. A ansiedade até pode contribuir para bons resultados, pois só se torna bloqueante quando excessiva», afirma o psicólogo.
Como se comporta quando trabalha em equipa?
Nem todas as pessoas têm um perfil de líder pelo que nem todas lidam com a liderança do mesmo modo:
- Tento liderar o grupo
Neste caso, o seu chefe poderá pensar algo como «Tem capacidade de liderança e de afirmação pessoal e, provavelmente, é capaz de negociar, de ouvir o outro e de mediar. É indicado para funções de responsabilidade, de mediação de conflitos e de negociação comercial», analisa Alcina Rosa. Se tenta liderar a equipa, os seus colegas têm seguramente uma visão diferente. «Se forem pessoas bem resolvidas, podem perceber que é alguém capaz de estabelecer consigo uma relação de cooperação», diz.
«Se tiverem grande capacidade de afirmação e não gostarem de ver o outro a afirmar-se, podem achar que é prepotente», acrescenta esta especialista. Para melhorar a sua atitude, siga a dica de Vítor Cotovio. «Se tem boas ideias, é produtiva, ouve os outros e sabe manifestar-se, continue assim, mas evite deslumbrar-se. Se isso acontecer passa a centrar-se em si mesma e pode perder esse trunfo», aconselha.
- Não consigo expor as minhas ideias
Se, quando trabalha em grupo, tem dificuldades em expor os seus pontos de vista, e se seu chefe se viu representado nas decisões tomadas, ele pensará algo como «Tenho aqui alguém mesmo muito bom para trabalhar numa função com um nível de responsabilidade menor. Sabe ouvir e consegue trabalhar na dependência de alguém», diz a psicóloga clínica Alcina Rosa. Neste caso, pode ter várias reações por parte dos seus colegas.
«Alguns olharão para si como a pessoa ideal para Trabalhar e pensarão que sabe fazê-lo em equipa, ouvir e é capaz. Outros pensarão que é um colega que não se queixa e de quem se pode abusar», sublinha. Para melhorar a sua atitude siga o conselho desta psicóloga clínica. «Pense em que aspetos se pode desenvolver. Valorize-se para ganhar a confiança necessária para ir manifestando a sua posição e sentir que tem um papel ativo a desempenhar», refere.
- Prefiro trabalhar sozinha
Se prefere trabalhar sozinha, o seu chefe poderá pensar algo como «É um ótimo candidato para projetos individuais», diz Alcina Rosa. Noutros casos, «pode vir a sugerir-lhe que desenvolva as suas competências sociais». Perante os colegas, as pessoas com esta atitude «são normalmente vistas como muito competente e confiáveis mas socialmente inábeis, muito tímidas», afiança.
«São valorizadas e estimadas e vistas como alguém com quem se deve contar porque há determinadas informações que só elas dominam», refere ainda. «Se quiser melhorar as suas competências sociais, tem de fazer um trabalho de desenvolvimento pessoal e possivelmente até psicoterapêutico para vencer os seus medos sociais», aconselha a especialista.
Lidar com os erros e assumir responsabilidades
Quando uma coisa corre mal, existem formas diferentes de lidar com os erros. Veja em qual dos perfis tende a encaixar-se:
- Acho que os erros devem ser logo assumidos
Passa a imagem de uma «pessoa honesta, confiável que sabe assumir responsabilidades mesmo que seja difícil», diz Vítor Rodrigues. Mas, atenção, «não deixe que uma eventual tendência para ter sentimentos de culpa a leve a assumir erros com demasiada facilidade», avisa o psicólogo clínico.
- Defendo que os erros só devem ser comunicados quando já não há nada a fazer
«Parece ter boa vontade mas o senso de responsabilidade e lealdade não é dos melhores. Dava jeito que soubesse trabalhar em equipa», pode pensar o seu chefe. «Se não partilha, como podemos confiar nele?», é possível que aqueles que trabalham consigo se questionem. Mude! «Aprenda a partilhar responsabilidades e a pedir ajuda, mostrando espírito de colaboração e humildade, usando frases como «Fiz asneira e estou tentar resolvê-la. Alguma sugestão?».
- Tenho dificuldade em assumir erros
Não se espante se o seu chefe pensar algo como «Quem funciona assim não está aberto a aprender. Quando a oportunidade surgir, talvez seja melhor promover outra pessoa». Não tenha, por isso, receio de responder algo na linha de «Ajudem-me a ir mais longe da próxima vez». Terá seguramente o apoio da maioria dos seus colegas.
Como lida com prazos apertados?
Nem toda a gente encara os timmings e a pressão que geram da mesma maneira:
- Aviso logo que não é viável
O seu chefe poderá pensar que «não tem autoconfiança nem senso de responsabilidade ou empenho e que será uma pessoa a dispensar». Já os seus colegas poderão achar que «não se pode confiar em si como apoio ou recurso». Neste caso, é melhor adotar a atitude do «Farei o que puder». «É importante mostrar capacidade e empenho, mas também razoabilidade», defendem os especialistas.
- Tento cumpri-lo mesmo antecipando que não será exequível
Neste caso, o seu chefe poderá pensar algo como «Parece ponderada e cuidadosa, com vontade de trabalhar. Posso confiar-lhe responsabilidades». Já os seus colegas acharão que é «uma pessoa com quem se pode trabalhar. É sincera e tem boa vontade». Neste caso não precisa de mudar porque «já mostra sentido de autoafirmação e vontade de trabalhar».
- Cumpro nem que tenha de trabalhar fora de horas
Se tem esta atitude, provavelmente o seu chefe pensará algo como «Esta pessoa dá-me imenso jeito. Vamos aproveitar tanto empenho, enquanto não estourar». Já os seus colegas, terão outra opinião. «Temos de competir mesmo quando tem mais tempo e nós precisamos de cumprir obrigações com a família», referem.
«Está a pôr-nos em causa», podem considerar. «Alguém que se sacrifica demais pelo trabalho pode criar, nos outros, hábitos de abuso. Pode ainda criar, junto dos colegas, desconfianças e ressentimentos», aconselha Vítor Rodrigues, que defende um meio termo para evitar problemas futuros.
As (muitas ou poucas) horas que (não) passa a trabalhar
«Utilize as redes sociais numa perspetiva profissional e fique apenas aberta a contactos pessoais muito importantes», aconselha Alcina Rosa, psicóloga clínica. Existem, todavia, pessoas que violam esse princípio e que acabam por diminuir a sua produtividade em função disso:
- Passo 100% do tempo a trabalhar e não vou ao Facebook nem a outras redes sociais
Se tem um chefe para quem «o fundamental é estar a trabalhar», ele vai olhar para si como alguém que vê «o trabalho como uma prioridade e que poderá promover.» Alguns colegas podem, contudo, considerá-la uma ameaça, considerando que «quer colar-se ao chefe para benefício pessoal e/ou que não tem mais nada para fazer», elucida a especialista.
- Só passo 80% do meu tempo a trabalhar
«Se o seu chefe não beneficia dos seus contactos sociais, vai ter a imagem de um trabalhador que valoriza menos e a quem serão atribuídos menores graus de responsabilidade, porque não está focado», descreve a especialista. Alguns colegas pensarão o mesmo. «É alguém que desvaloriza o trabalho, um abusador: o que não faz vai sobrar para os outros», refere Alcina Rosa.
- Só trabalho em 50% do tempo que passo no emprego
«Desinteresse, desrespeito e irresponsabilidade». Esta é, para a psicóloga clínica, a imagem que passa às chefias e aos seus pares. «Se tiver necessidade de manter o emprego será obrigada a mudar», alerta a especialista.
Texto: Vanda Oliveira e Nazaré Tocha com Alcina Rosa (psicóloga clínica), Catarina de Castro Lopes (psicóloga clínica), Lisa Ferreira Vicente (médica especialista em ginecologia/obstetrícia), Luís Gouveia Andrade (médico oftalmologista), Manuel Carrageta (médico cardiologista e presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia), Maria do Céu Machado (médica pediatra), Quintino Aires (psicólogo clínico) e Vítor Rodriges (psicólogo e psicoterapeuta)
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