Avanços como o aparecimento da Psicologia Positiva, que veio de certa forma contribuir para uma maior aproximação à compreensão dos seus mecanismos e ao ensino de métodos para aumentar as potencialidades dos indivíduos no sentido de uma vida emocional mais saudável, não foram porém suficientes para fazerem estagnar a sede da sua procura...

Porque os tempos são cada vez mais de fragilidades, inseguranças e incertezas e nada tendo como garantido, vivemos em estado de “sítio” e de alerta permanente em relação ao futuro e quase sem margem de manobra para podermos controlar “cinestesicamente” todos os seus movimentos.

Sem a capacidade de controlarmos os limites do que desejamos perante a infinidade do que o mundo ainda nos pode oferecer, o sentimento de culpa vai aumentando em nós à medida que o tempo passa e apenas nos permite olhar para trás com a sensação de que estivemos lá, em cada momento, mas sem efetivamente podermos inalar os seus odores e saborear toda a gama dos seus paladares...
No passado, o tempo parecia não ter pressa de ir a lugar nenhum e a palavra felicidade quase que passava despercebida no vocabulário porque naturalmente se camuflava de pura alegria na simplicidade do quotidiano de cada um... Agora, vive-se a correr na sua perseguição como se a felicidade fosse algo exterior a nós e os nossos sentidos não a conseguissem agarrar...

Com o avanço das tecnologias e consequente abertura a um conhecimento mais global, não tardou que uma avalanche de novas formas de prazer recaísse sobre a nossa curiosidade, remetendo-nos para um mundo de tal forma acelerado e apelativo que todas as nossas experiências passaram a ter um carácter irregular e raramente definitivas... Começamos a acreditar que por detrás de uma bela paisagem se esconde sempre uma outra muito mais bela e que será sempre possível acabar por alcançar...

É quando uma inimiga chamada Ansiedade começa a sair à rua e se instala inexpressivamente nos rostos e olhares insatisfeitos da multidão... Num movimento frenético de vai e vem em direcção a lugar nenhum...

A ansiedade alimenta-se de pressões quando os prazeres mundanos se tornam cada vez mais “eloquentes” perante o nosso sistema sensorial que se dispersa já - fragilizado - na complexidade em redor...

Tenhamos então a coragem de fazer uma viagem progressiva de regresso ao que é simples e faça-mos novamente desabrochar a

sensibilidade que nos anda a escapar...

E declaremos definitivamente paz à nossa guerra interior... Como diz António Damásio, “O custo de uma existência melhor consiste na perda da inocência acerca da própria existência”... Assim, sendo cada um de nós uma parte do todo de uma consciência universal, é urgente que nos tornemos também cidadãos atentos ao nosso universo interior, ao mesmo tempo que nos abrimos ao mundo das possibilidades, colocando-nos numa trajetória de luz que ilumine a nossa singularidade.

O mundo não é um lugar perfeito, mas se quisermos o nosso mundo pode sê-lo mesmo que nele caiba também a imperfeição... Por mais dinâmico e complexo que o mundo se nos apresente, a simplicidade continua nele, somente a aguardar para ser despida de preconceitos retornando ao seu conceito inicial... Tal como o escultor que vai lapidando a pedra bruta para alcançar a perfeição da sua obra de arte no final... Eu acredito que podemos construir a partir do caos, agarrando nos sentidos para ligá-los aos momentosdas coisas simples que neles couberem... e ao invés de vivermos assustados e angustiados, procuremos munir-nos de habilidades e competências sem desesperar por adiarmos o êxito...

Dou o exemplo de uma jovem que conheço que se apaixona por aquele emprego na caixa de um supermercado escondendo na carteira uma

licenciatura e sem querer descobre que afinal aquele é que é o seu verdadeiro lugar... Isso não faz dela um ser humano inferior mas apenas alguém que resolve simplificar a sua vida. Viver com um salário mais baixo é cada vez mais uma habilidade e pode até tornar-se num desafio...

Renunciemos se necessário ao nosso lugar no topo de carreira para mergulharmos de cabeça naquilo que mesmo sendo mais simples, entendemos ser uma vida de melhor satisfação...

Perante a volatilidade das relações amorosas, não nos deixemos contagiar pela onda dos que sonham com um Brad Pitt ou com uma Angelina Jolie, quando ainda não somos sequer capazes de captar as expressões de beleza interior do rosto do amor que já temos...

A felicidade a existir, será apenas um lugar de entendimento entre a turbulência e a serenidade dentro da simplicidade dos sentidos!!!!

Grácia Nunes

Animadora de Psicologia Positiva

Revista Insights