The School of Life não é uma escola como as outras mas o que lá se aprende marca uma vida ou, pelo menos, faz o que pode para marcar. Não tem professores, quadros de ardósia ou recreios mas tem uma filosofia materializada através de cursos, workshops e outras iniciativas onde se aprende a aproveitar melhor a vida e a encontrar um caminho mais favorável para cada um.

"The School of Life" foi criada em Inglaterra, em 2008, por Alain de Botton. O filósofo, contador de experiências, psicólogo nos tempos livres, pai e marido, quis divulgar o uso da Filosofia no quotidiano através de aulas, escritas e outras boas ações, com o objetivo de provocar os alunos a pensarem na vida sem pararem de a viver.

Com sede em Londres, a escola já se espalhou por vários países do mundo, proporcionando espaços onde se partilham pensamentos, ideias e experiências entre os que por lá aparecem. Os oradores são autores, artistas, cantores e outros mentores que combinam as experiências pessoais com as ideias que os grandes pensadores nos foram deixando ao longo dos tempos.

Em Portugal a "The School of Life" ainda não criou um espaço físico onde se podem trocar ideias, mas já é possível encontrar uma série de livros de desenvolvimento pessoal, inteligentes, rigorosos e escritos por alguns dos maiores especialistas de diversas áreas.

"Como Aproveitar ao Máximo a Era Digital", de Tom Chatfield (escritor, comentador, colunista na BBC, autor de três livros que exploram a cultura digital), e "Como Manter a Sanidade Mental", de Philippa Perry (escritora, uma das mais conhecidas psicoterapeutas britânicas, colunista da revista Psychologies, com textos publicados nos jornais Guardian e Observer) são dois dos três primeiros livros da série a serem lançados em Portugal. Veja a entrevista com os autores.

Sabe “como manter a sanidade mental”? Philippa Perry, uma das mais conhecidas psicoterapeutas britânicas, pretende dar essa resposta e propõe uma terapia que começa na auto-observação e termina na reescrita da nossa própria história.

O livro da escritora britânica tem como função dar a conhecer quatro áreas que nos permitem alcançar a sanidade mental, um estado ainda pouco conhecido.

“Se pegarmos em todas as definições de loucura, todos os diagnósticos, percebemos que se dividem, de grosso modo, em duas categorias: a caótica (como o transtorno de personalidade histriónica) e a rígida (como os obsessivo-compulsivos). E é entre estes dois tipos que queremos estar: temperar o caos com um pouco de estrutura e dar à nossa rigidez um pouco de flexibilidade”, explica Philippa.

Comecemos pela auto-observação, uma etapa “muito importante, porque se não soubermos o que sentimos não podemos mudar nada. Eu acho que todos devemos encontrar formas de fazer uma auto-análise seja através de um diário, da meditação ou outra forma de reflexão”, diz a autora.

As relações pessoais também são fundamentais para esta terapia porque “não causar impacto ou não ser afetado por outro ser humano é uma forma de insanidade”, explica. “O maior castigo que podemos aplicar a nós próprios é o isolamento. Isso afeta-nos a todos os níveis. Mas quando ousamos ser nós próprios nas relações acontecem coisas fantásticas”. O desafio é ser quem realmente somos.

“Hoje em dia damos mais importância à imagem do que à pessoa que realmente somos. Damos muitas desculpas para aquilo que fazemos, tentamos racionalizar demasiado os nossos sentimentos e não devemos fazer isso. Ser nós próprios não é fácil, expõem-nos mais, mas é muito mais divertido”, conta Philippa.

A psicoterapeuta também defende que o stress em quantidades moderadas pode ser positivo, porque o ser humano precisa de ser desafiado. “Sem desafios atrofiamos. E se não temos desafios vamos à procura deles! O cérebro é como um músculo, ou o usamos ou perdemo-lo. Aprenda a tocar piano, aprenda uma nova língua, aprenda a cozinhar! Tudo isso é muito bom para evitar coágulos no cérebro daqui a uns anos (risos)”.

Por fim, Philippa propõe a reescrita da nossa própria história, “Temos de analisar as histórias que criamos na nossa cabeça, mesmo aquelas que surgem antes mesmo de sabermos falar porque a relação com os nossos pais serve de base para as relações futuras”.

A autora admite que esta terapia não é fácil de fazer mas é preciso começar por algum lado para desmistificar um assunto tão complicado como a sanidade mental e trabalhar o desenvolvimento pessoal.

“O que queremos, quase sempre, é sentir-nos diferentes sem fazer nada de diferente. Acho que somos todos culpados disso. Às vezes basta mudar um pequeno hábito e tudo fica mais divertido”, conclui.

Está na hora de começarmos a dominar a tecnologia, em vez de sermos dominados por ela. É sob este mote que nasce o livro de Tom Chatfield “Como Aproveitar ao Máximo a Era Digital”.

Para o colunista da BBC, “a tecnologia é muito importante mas é fácil subestimá-la. Temos de encontrar maneiras de usar a tecnologia a nosso favor e não cair no erro de pensar que somos fracos e ela é poderosa”.

O comportamento e a comunicação dos seres humanos sempre foram mediados, mesmo quando só se usava o papel e caneta. “Mas as cartas também são tecnologia, assim como os telefones que usamos para falar com a nossa família e amigos. Somos animais tecnológicos, usamos as ferramentas que temos ao nosso dispor. Mas a questão aqui é: qual é o melhor ou o pior uso da tecnologia?”, pergunta o autor.

Tom Chatfield explica. “Se mandarmos uma simples mensagem a dizer olá, esta não é uma interação muito rica. Mas se estivermos longe e escrevermos um email longo ou usarmos o Skipe para contactarmos com a família, estamos a dedicar tempo de qualidade com pessoas importantes ou sobre coisas importantes”.

O livro do colunista britânico pretende ajudar as pessoas a questionarem-se sobre a sua relação com a tecnologia. “Eu acho que dizer que a tecnologia nos condiciona, não nos ajuda. Muito do que fazemos é extremamente rápido, a informação sobrepõe-se ao conhecimento, a reação sobrepõe-se ao pensamento, mas como podemos mudar isto? Como podemos usar as mesmas ferramentas de maneira diferente, outras ferramentas, ser mais críticos”, indica.

“Temos de arranjar tempo na nossa vida para pensar, olhar para trás. E uma das ideias mais perigosas é pensar que mais é melhor. Estar ligado não é mau!”, diz Tom, “mas corremos o risco de gastar todo o nosso tempo e atenção instantaneamente e sem pensar”.

A tecnologia faz parte da nossa vida e não podemos dizer que não a usamos mais. “Temos de pensar em formas de ter tempo para tudo, como por exemplo usar só o email na hora do trabalho. Negociar com os amigos e com o patrão. Decidir que quando estamos com a família não usamos o telefone”, são algumas das propostas do autor.

“Um caderno é tecnologia, e acha que me consome? Claro que não. Para mim é sinónimo de sossego. Um relógio é tecnologia mas ele não me domina, nem o tempo. Podemos negociar, com cada tecnologia, nos diferentes contextos. Durante o trabalho o email é nosso amigo, ao fim de semana é nosso inimigo”, acrescenta.

O autor acredita que o nosso “tempo e atenção são muito importantes e se reagirmos sempre sem pensar não conseguimos fazer as perguntas certas, não podemos dar a todos e a nós próprios o tempo de qualidade que precisamos. Nós merecemos atenção, silêncio, paz, para pensar no que realmente sentimos. A tecnologia está a fazer o que precisamos? É nisto que temos de pensar”, conclui.