Há uns tempos, fiz um retiro de ioga de cinco dias, em plena natureza, numa quinta em Aljezur, pertencente a uma comunidade ecossustentável. A minha experiência começou logo no dia da partida. Tive de levantar-me muito cedo para apanhar o autocarro expresso das 07h45 em Almada. Levei uma mochila de campismo com o que achava que precisava para aqueles dias e deixei a mente a vaguear pela vista da janela que ia tendo ao longo da costa vicentina.

Mas ainda fui atendendo chamadas de trabalho e encaminhando por e-mail tudo aquilo que precisava de ser feito. Fi-lo até duas viajantes alemãs que iam comigo para o retiro me alertarem que talvez fosse melhor desligar o telemóvel. A partir do momento em que saímos da autoestrada, em Sines, o caminho passa a ser serpenteado, atravessando vilas do litoral alentejano de onde vão saindo trabalhadores imigrantes, muitos deles paquistaneses.

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Chegados ao destino, depois de atravessar Santiago do Cacém, Odeceixe, Odemira e Cercal do Alentejo, tive o primeiro contato com uma jovem alemã que organizara o encontro. Tomámos um segundo pequeno-almoço no café junto à paragem e seguimos para uma quinta num vale verde. Ficámos instalados em tendas individuais numa quinta de uma comunidade ecológica praticante de permacultura, que pelo que aprendi, implica estar em harmonia com a natureza. Não ir contra ela mas, sim, deixá-la seguir o seu curso. Por exemplo, a cortiça protege as árvores do fogo.

Fiz, enquanto lá estive, um workshop sobre comunicação não violenta com base no livro de Marshall B. Rosenberg "Nonviolent communication – A language of life" e são quatro os ensinamentos essenciais nesse processo. O primeiro pressupõe uma escuta ativa, decorrente de um processo de observação. O segundo é marcado pelos sentimentos e pela necessidade de estarmos atentos ao que sentimos e de expressarmos ao outro o que sentimos.

O terceiro prende-se com as necessidades. Temos de aprender a identificá-las e a expressar aquilo de que precisamos. O quarto tem a ver com pedidos e traduz-se na consciencialização e na ação do que deve ser feito, daquilo que gostaríamos que fizessem por nós ou connosco e na necessidade de esperar do outro o mesmo processo. Para além desses quatro ensinamentos, acrescento um quinto, que implica forçosamente um novo recomeço.

Devíamos aplicar este processo ao que somos e ao que fazemos e à comunicação do nosso negócio e do nosso cliente. Fazer restart é poder escutar, sentir e perceber com base na nossa experiência o que é preciso e ouvir o outro e as suas necessidades e, de seguida, definir uma estratégia e implementar um plano de ação com base no valor que lhe queremos atribuir. A mensagem que aqui quero deixar é que, às vezes, é preciso abrandar. Foi o que senti em 2019.

Não precisamos esperar pelo início de um ano novo para o fazer. Devemos fazê-lo quando sentimos necessidade de parar para pensar, quando a mente está muito agitada e o corpo em stresse. Não sei se já vos aconteceu sentirem-se hiperativos, sempre em busca do que fazer, com uma lista de tarefas infindáveis e com dificuldade em descortinar soluções para os problemas, como eu, quando busco respostas para a comunicação do nosso negócio e do nossos clientes.

Nessas situações, o corpo acompanha a mente evasiva. É a necessidade de pararmos e nos conectarmos. E como é que se faz? É ouvir o que a nossa mente e o nosso corpo nos querem dizer. É estarmos atentos. Não estou a falar de uma dimensão espiritual ou religiosa exterior mas, sim, de procurarmos e de ouvirmos aquilo que sentimos, aquilo que está dentro de nós. Temos emoções à flor da pele que não escutamos ou que não sabemos interpretar e deixar fluir.

E está na altura de começar a inverter essa situação. Este foi o ponto de partida do que apreendi no retiro que fiz. Precisamos de fazer um processo de desintoxicação da mente e do corpo. Um processo durante o qual faremos uma pausa das tecnologias digitais opcionais e das distrações ocasionais da nossa vida. Durante este período, esteja atento ao seu propósito ou avalie o que (não) faz sentido. No final dessa pausa, reintroduza as tecnologias opcionais.

Faça a gestão das distrações ocasionais, recomeçando do ponto de partida, mas esteja atento ao valor que estas têm na sua vida. Analise se lhes dará ou retirará o foco que precisa e avalie também o que pode fazer para maximizar esse valor através da sua utilização. Este processo, que pode ser replicado ao processo de comunicação do nosso negócio como empreendedores multitasking, terá seguramente impactos positivos na sua vida. Slow down and keep going.