Se conseguirmos ajustar o tom e o conteúdo das nossas conversas interiores e a maneira como avaliamos o que nos acontece, podemos revolucionar a nossa vida. A tarefa não é fácil, implica uma enorme persistência e uma boa dose de exigência e concentração mas, sim, é possível aprendermos a pensar bem para viver melhor. A ideia é defendida no livro "A arte de não amargar a vida", lançado cá pela editora Pergaminho.

Da autoria do psicólogo espanhol Rafael Santandreu, nascido em Barcelona, nele o autor transporta para a vida do leitor, numa linguagem muito empática, casos reais, conselhos práticos e diretrizes da terapia cognitiva, usada nos consultórios de psicologia para que "nos transformemos em pessoas mais saudáveis e fortes". Partilhamos consigo um capítulo central da obra dedicada à "rotina do debate", como lhe chama.

Uma reflexão que, segundo o especialista, permite identificar o que pensamos de forma errada, contra-argumentar e desenvolver uma nova forma de interpretar o mundo. Muito mais feliz! Descubra, de seguida, o plano de sete passos que Rafael Santandreu identificou como prioritárias e que lhe vão permitir aspirar a um desenvolvimento pessoal que aproximará a sua existência de tudo aquilo que sempre idealizou.

1. Identifique as suas crenças irracionais

Analise o que lhe causa mal-estar emocional no dia a dia, como, por exemplo, ficar parado no trânsito ou ser repreendido pelo superior hierárquico publicamente. Descubra, depois dessa análise, quais as ideias/crenças irracionais que estão na sua origem, como achar que o mundo seria perfeito se não existissem engarrafamentos ou encarar de forma desproporcionada a atitude do chefe como algo horrível.

2. Combata as crenças irracionais

O objetivo é provar a si própria que a crença irracional está errada. "Esta transformação deverá apoiar-se em argumentos e não simplesmente num tipo de pensamento positivo", explica o autor. Quantos mais argumentos contradisserem a ideia que lhe causa mal-estar, melhor. Para ter sucesso, pode usar diferentes estratégias, uma vez que não existe uma forma única de atingir o objetivo a que se propõe.

3. Estabeleça a crença racional

Nesta terceira fase, o nosso objetivo será acreditar nela tão profundamente quanto nos seja possível. Para isso, procurámos os argumentos ao nosso alcance no segundo passo, a regra número 2. Estes são os argumentos que deve ter em linha de conta:

- Argumento na comparação

Questione-se se existem outras pessoas que são felizes na mesma situação. "Todas aquelas que partilham a nossa adversidade e se encontram emocionalmente bem são a prova de que o nosso problema não é assim tão grave. Com este argumento, é possível convencermo-nos de que a nossa situação não é razão para não sermos felizes", refere Rafael Santandreu. "Podemos, ainda, comparar-nos com pessoas que enfrentam dificuldades muito maiores e que, todavia, são felizes", pode ler-se no livro.

- Argumento existencial

Pergunte-se se, numa vida tão curta e com tão pouco sentido (ou que tem um sentido metafísico desconhecido para os seres humanos), esta adversidade de que fui alvo é assim tão importante? Num universo infinito de planetas e estrelas que nascem e morrem sem cessar, existe alguma coisa que seja realmente dramática? Depois disto, chegamos à conclusão existencial de que não há nada horrível num universo como o nosso.

"Esta lógica, que é desconcertantemente real, permite que nos distanciemos de nós próprios", assegura o especialista. "O argumento existencial pode igualmente levantar-se em relação à finitude da nossa existência. Poderemos perguntar-nos o que
terá acontecido comigo e com o problema que me preocupa daqui a cem anos? "Efetivamente, meditar na própria morte (...) dá origem a uma profunda serenidade", defende.

- Argumento das possibilidades

Pense se, apesar desta adversidade, poderia atingir objetivos interessantes para si e para os outros. "Quase sempre temos ao
nosso alcance múltiplas possibilidades de desfrutar a vida. Mas isso se não perdermos tempo a lamentar-nos cheios de amargura", considera Rafael Santandreu.

"Na terapia cognitiva, costumamos rever com o paciente as áreas em que ele se poderia desenvolver apesar da adversidade de que foi vítima", refere o especialista. Nesta fase, revemos oito áreas. "Trabalho, amizade, aprendizagem, arte, ajuda aos outros, amor sentimental ou familiar, espiritualidade e lazer", acrescenta ainda.

4. Desenvolva uma rotina de trabalho

Esta é a primeira das quatro regras que o especialista preconiza na fase seguinte deste plano de desenvolvimento especial. "É preciso desenvolver uma rotina de trabalho que apresente todos os dias um pequeno desafio, mudar as crenças irracionais mais difíceis de serem mudadas, fazê-lo cada vez com maior intensidade e deixar que o tempo passe", defende Rafael Santandreu.

5. Pense nas coisas com profundidade

Esta é a segunda regra desta fase. "É preciso insistir que se trata de nos convencermos das crenças racionais", relembra o especialista. "Não é suficiente repeti-las como um papagaio", refere o autor. "A terapia cognitiva é uma terapia de argumentos, não um exercício de pensamento positivo", acrescenta ainda.

6. Desafie os argumentos lógicos

É a terceira regra avançada por Rafael Santandreu para esta fase. "Existem vários argumentos lógicos que nos irão auxiliar no combate às crenças irracionais. A melhor estratégia pode ser começar por escolher os que são mais convincentes para cada um
de nós e, nos dias seguintes, irmos acrescentando novas razões", considera o especialista.

7. Faça uma avaliação final

A quarta regra exige uma autoanálise. "A prova de que este exercício foi corretamente realizado será o facto de sentirmos as nossas emoções mudarem?", questiona ainda Rafael Santandreu. Depois de ir cumprindo as sete fases deste plano, o momento de avaliação final impõe-se. Nesta altura, se o seguiu à risca, será seguramente uma pessoa mais tranquila, mais forte, mais realizada e, seguramente, também mais feliz.

Texto: Nazaré Tocha