Faz parte do grupo de mulheres que não se revê neste método contracetivo? Descubra se tem ou não razões para fazer essa opção.
E, se for o caso, quais as alternativas da medicina.
Responsável pela revolução sexual, nos anos da década de 1960, a pílula permitiu a emancipação da mulher e tornou-se o método anticoncetivo feminino mais usado no mundo ocidental.
Passados mais de 40 anos, e apesar de a ciência ter melhorado as formulações, com menores dosagens e novas hormonas, há muitas mulheres que receiam os efeitos secundários deste método ou a quem, por motivos de saúde, ele está contraindicado.
Se, por algum motivo, prefere ou não pode tomar a pílula, é importante que descubra se os seus receios têm fundamento e quais as opções potencialmente válidas para o seu caso. Depois, converse com o seu ginecologista. O aconselhamento médico é obrigatório para escolher o método anticonceptivo mais indicado.
«Esqueço-me sempre de tomar a pílula»
Este não deve ser um argumento para procurar outra solução, existindo rituais que ajudam a automatizar o gesto. Eugénia Chaveiro, médica ginecologista-obstetra, lembra que «é necessário tomar a pílula regularmente, mantendo os níveis hormonais estáveis» e sugere que se «associe a pílula a uma atividade diária como a higiene oral antes de dormir».
Se, mesmo assim, receia esquecer-se, Eugénia Chaveiro aconselha a «mudar para outro método contracetivo com vantagens e riscos sobreponíveis, mas com uma utilização mais confortável, como o anel vaginal ou o patch», exemplifica.
«Sou fumadora»
A pílula está «contraindicada em mulheres com mais de 35 anos que fumam mais de 15 cigarros por dia», indica a especialista. A sua toma potencia os efeitos nocivos do tabaco no sistema cardiovascular, como o risco de trombose. A decisão mais sensata é mesmo deixar de fumar, mas se ainda não o conseguiu fazer deve adotar outros métodos.
A especialista indica como alternativa «um DIU de cobre ou medicado com progesterona, uma pílula só com progesterona ou o implante subcutâneo». As fumadoras com menos de 35 anos e saudáveis podem «utilizar contraceção hormonal de baixa dosagem», sublinha a médica.
«Tenho uma doença que contraindica a toma da pílula»
As situações clínicas mais comuns que se incompatibilizam com a pílula são «antecedentes cardiovasculares, acidentes trombóticos, hipertensão arterial não controlada, diabetes com doença vascular, hepatite viral e os adenomas hepáticos».
Se tem algum destes problemas, Eugénia Chaveiro aponta como possível opção «um método sem estrogénios, como o DIU de cobre ou a utilização de um método com progesterona (minipílula, dispositivo intra-uterino libertador de progesterona, implante libertador de progesterona)».
«Quero não só evitar a gravidez como também proteger-me de doenças sexualmente transmissíveis»
Dado não ser um método barreira, uma das desvantagens da pílula é a sua natural incapacidade para proteger a transmissão de doenças sexuais. Nestes casos, segundo a ginecologista, «a única alternativa é o preservativo. No entanto, por ter uma proteção anticoncecional inferior à pílula, é aconselhável utilizá-lo associado a outro método e não de forma isolada».
«Quero um método que não interfira no desejo»
«A pílula atua ao nível da produção hormonal, podendo interferir na libido. No entanto, este efeito não está totalmente comprovado e é muito variável de mulher para mulher», elucida a médica. «É possível diminuir a dose de estrogénios ou mudar para uma contraceção hormonal com progesterona com maior ação androgénica ou só com progesterona. O dispositivo intrauterino é, mais uma vez, uma boa opção pois não tem efeitos hormonais», diz.
«Não vou ter mais filhos e quero um método definitivo»
Segundo a ginecologista, «as opções contracetivas atuais constituem alternativas tão seguras como a laqueação tubária, reversíveis e sem necessidade de cirurgia pelo que a opção pela laqueação tubária bilateral deve ser uma decisão bem ponderada».
«O método contraceptivo definitivo é a laqueação tubária bilateral», esclarece Eugénia Chaveiro. «É feita através de cirurgia, habitualmente laparoscopia ou intra parto. Atualmente, também existe a abordagem histeroscópica que não implica anestesia e internamento», acrescenta ainda a especialista.
«Não quero tomar hormonas que não sejam produzidas pelo organismo»
Apesar das contraindicações em alguns casos, Eugénia Chaveiro sublinha que «os contraceptivos hormonais têm efeitos benéficos, como regularização do ciclo e diminuição do fluxo menstrual, das dores menstruais e da acne. Estão também associados a menor ocorrência de quistos no ovário, de gravidez ectópica e de doença benigna da mama».
«Os estudos revelam, ainda, uma menor incidência de cancro do ovário, do útero e colorretal», refere ainda. Quando a mulher não pretende tomar hormonas extrínsecas, a médica ginecologista considera que «o dispositivo intra-uterino de cobre, que tem igual eficácia, ou o uso de preservativo, de menor eficácia, podem ser boas opções».
«A pílula afeta o meu peso e favorece a retenção de líquidos»
Segundo Eugénia Chaveiro, este é um dos argumentos apontados com frequência pelas pacientes para descontinuarem a contraceção hormonal. A médica lembra, no entanto, que «não existem evidências científicas que relacionem a contraceção hormonal com o aumento de peso com as dosagens hormonais atuais».
Nesta situação, pode, por exemplo, mudar para «uma pílula com um progestagénio mais recente, a drospirenona, que diminui a retenção de líquidos». Aproveite para se motivar em relação à prática de exercício e repense as suas opções alimentares.
«Não quero tomar a pílula enquanto estou a amamentar»
Há uma pílula adequada ao período de amamentação que só «contém progestagénio e deve ser iniciada ao 21º dia após o parto», indica a especialista. Não aumenta o risco de trombose, o qual está aumentado no período pós-parto, e parece ter efeitos benéficos na quantidade e qualidade do leite, permitindo um período mais prolongado de amamentação».
Se, ainda assim, prefere usar um método não hormonal, Eugénia Chaveiro indica que «o mais seguro será o dispositivo intrauterino, que pode ser introduzido entre a quarta e a oitava semana depois do parto», elucida a médica.
«Desde que tomo a pílula, sinto mais dores de cabeça e alterações de humor»
Este tipo de sintomas pode ocorrer «nos primeiros meses de contraceção hormonal, habitualmente nos primeiros três. Passado este tempo, geralmente desaparece». Antes de mais, «é importante excluir outras patologias como hipertensão ou síndrome depressiva», mas «é possível mudar a pílula para uma de menor dosagem ou para outro progestagénio».
Contraceção hormonal
Existem outros métodos, para além da pílula, que se incluem nesta classe de medicamentos, esclarece a ginecologista Eugénia Chaveiro:
- O que contém
No grupo da contraceção hormonal, incluem-se, para além da pílula, os patchs, o anel vaginal, os implantes subcutâneos e injetáveis ou o dispositivo intrauterino libertador de hormonas. Diferem na forma de administração e são compostos por «esteróides sexuais sintéticos semelhantes aos que são produzidos pelos ovários. Podem ser estrogénios e progesterona ou só progesterona».
- Como atua
«As diferentes formulações contracetivas criam um ambiente hormonal que inibe a ovulação (libertação do óvulo pelo ovário que fica suscetível fertilização, se ocorrer o encontro com espermatozoides). O progestagénio, ao atuar a nível do endométrio (tecido que cobre o interior do útero), muco cervical e função tubária, contribui para um ambiente adverso à sobrevivência dos espermatozoides, evitando a gravidez», refere.
Antecedentes pessoais e familiares:
Cancro da mama e pílula
Eugénia Chaveiro refere que «a contraceção hormonal está contraindicada nas mulheres com história de cancro da mama há menos de cinco anos». Nas que tiveram esta patologia há mais de cinco anos e não tem evidência de recidiva, a médica considera que «poderá ser utilizado, mas não como primeira escolha (contraindicação relativa)». A especialista aponta, ainda, que «a história familiar de cancro da mama não contraindica a sua utilização».
Toma medicação?
Alguns medicamentos «podem diminuir a eficácia da pílula, além de aumentar ou reduzir a eficácia de outros fármacos», alerta a especialista:
- Antiepiléticos
«Induzem a produção de enzimas hepáticas, interferindo com os níveis de estrogénios no sangue e pondo em risco a eficácia da pílula. Os antifúngicos também produzem alterações semelhantes», confessa Eugénia Chaveiro.
- Antibióticos
«Põem em risco o efeito contracetivo, por alterarem a absorção das hormonas a nível intestinal», elucida a médica ginecologista-obstetra.
Texto: Fátima Lopes Cardoso com Eugénia Chaveiro (médica ginecologista-obstetra)
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