Insónia. Esta palavra resume o autêntico pesadelo que muitas pessoas vivem quando dão voltas e voltas na cama sem conseguir pregar olho. Mas este é um problema que vai muito além de noites mal dormidas. "Mesmo que não saibamos para que serve o sono, sabemos que a sua falta nos causa cansaço, dificuldade de concentração, defeito de memória e tendência a adormecer, sobretudo em situações monótonas", sublinha António Atalaia, neurologista. Não descansar convenientemente é nocivo.

Não conseguir dormir reduz a nossa qualidade de vida e prejudica a nossa saúde e o nosso bem-estar. A insónia é a mais frequente perturbação do sono. Dormir mal, descansando pouco, por mais horas que se esteja na cama, deve ser encarado como uma situação preocupante, como têm alertados inúmeros estudos, nacionais e internacionais. Passar, pontualmente, uma noite em branco é comum e acontece a todos. O problema surge quando esta situação se torna demasiado frequente.

O neurologista António Atalaia descreve a insónia como "um caso continuado de dificuldades em adormecer em menos de 30 minutos e/ou de manter a continuidade do sono e/ou despertar muito antes da hora de levantar". Está frequentemente associada a dificuldades de concentração e a situações de cansaço durante o dia. No fundo, traduz-se numa recuperação deficitária de energia que, depois, impede e/ou condiciona a realização plena de qualquer atividade física ou mental.

Todos conhecemos a sensação de uma boa noite de sono, o bem-estar que é acordar satisfeito e com uma sensação de descanso noturno efetiva. "Um sono reparador permite que a atenção da pessoa esteja no seu máximo, bem como a capacidade de concentração. Facilita a perceção de ideias, a conceção de planos e a criatividade em geral. Um sono reparador afasta a necessidade de voltar a dormir durante mais horas que um sono não-reparador", acrescenta ainda o especialista.

O que é que não me deixa dormir?

Ainda que isso não o console, não está sozinho! Este problema afeta cerca de 30% a 45% da população adulta mundial. Em França, um terço da população queixa-se. Em Portugal, as percentagem não diferem muito. Há pessoas que sofrem de insónia sempre e outras que são apenas afetadas por este distúrbio do sono de forma esporádica. Depois das férias, por exemplo, a fase de regresso ao trabalho, com a consequente readaptação aos horários laborais, é propícia às noites mal dormidas.

Mas quais são afinal as causas da insónia? Segundo António Atalaia, "embora as pessoas possam ter insónia por padecerem de uma patologia primária do sono, como as apneias do sono ou os movimentos periódicos do sono, as insónias secundárias a causas extrínsecas ao sono são mais comuns". Na sua origem, estão diversos fatores, que podem (ou não) estar interligados, nomeadamente fatores psicológicos, associados à ansiedade que surge de problemas laborais, familiares ou pessoais.

Para além desses, o especialista aponta ainda fatores ambientais, em particular a ausência de um ambiente adequado ao descanso, como é o caso de um quarto com excesso de ruído, de frio, de calor ou até de luminosidade. Em terceiro lugar, surgem os maus hábitos. A ingestão excessiva de bebidas e/ou de alimentos estimulantes que perturbam o sono, como o café. Irregularidade de horários, por exemplo, no caso de quem trabalha por turnos, é outro dos que o neurologista menciona.

Os diferentes tipos de insónia que o impedem de dormir

Existem diversos tipos de insónia. Muitos deles surgem habitualmente associados a causas distintas. A Classificação Internacional das Desordens do Sono, criada pela Academia Americana da Medicina do Sono há uns anos, aponta os mais preocupantes. Por isso, nos casos em que não conseguir dormir é uma regra sem exceção, há que detetar a causa do problema e recorrer a um especialista em medicina do sono para ultrapassar o problema e descansar sem ter de contar carneiros.

1. Insónia de ajustamento 

Relacionada com uma situação de stresse identificada, que pode ser de natureza psicológica, psicossocial, interpessoal, ambiental ou física, é uma forma de insónia aguda. Habitualmente, regista-se uma melhoria devido à adaptação do paciente à situação e a duração dos sintomas não ultrapassa, em média, o limite máximo de três meses.

2. Insónia psicofisiológica

Associada a uma preocupação constante e uma ansiedade excessiva do paciente com o seu problema de sono, consiste na dificuldade em adormecer às horas normais mas os que sofrem deste distúrbio podem adormecer involuntariamente fora delas e, sobretudo, fora do quarto e/ou de casa. O quarto de dormir desperta ansiedade e pensamentos ruminativos acerca do sono e o distúrbio resulta de um condicionamento errado que se autoperpetua e condiciona a insónia.

3. Insónia paradoxal

O paciente apresenta, nesta situação, os sintomas de quem sofre de insónias mas os exames não confirmam a falta de descanso nem a curta duração do sono.

4. Insónia idiopática

Quando não há uma causa evidente, mas o problema é detetado e confirmado por exames complementares de diagnóstico, estamos, habitualmente, na presença de uma insónia idiopática.

5. Insónia derivada de uma higiene do sono inadequada

É causada por um horário de sono inadequado e/ou irregular, eventualmente com períodos de sono diurno e queixas de insónia ou com períodos de permanência na cama muito prolongados. É ainda marcada pelo uso impróprio de substâncias estimulantes ou que perturbam o sono, principalmente, perto da hora de deitar, como é o caso da cafeína, da nicotina e/ou do álcool. As atividades físicas ou intelectuais intensas antes de ir dormir também as causam.

6. Insónia comportamental da criança

Afeta milhares de crianças em todo o mundo. Verifica-se nos casos em que o ato de adormecer é muito prolongado e se acompanha de muitas exigências e de complacência excessiva dos pais.

7. Insónia situacional

É o chamado estranhar a cama quando se dorme fora de casa. Dormir quando está muito calor pode também ser um desafio e esse é outro exemplo de uma causa extrínseca ambiental de insónia. Também é frequente em casos de altitude extrema.

8. Insónia secundária a doença

Algumas doenças podem afetar o sono na medida em que os seus sintomas se manifestem mais ou menos durante a noite. "Um doente com doença de refluxo gastro-esofágico pode acordar frequentemente durante a noite por causa do refluxo, por este causar tosse ou dor torácica. Um doente cardiopata pode ter dor torácica durante a noite e isso pode desencadear insónia", esclarece António Atalaia.

"O mesmo para ataques noturnos de asma. A lista de possíveis causas físicas é grande", sublinha o neurologista. Por outro lado, "as doenças psiquiátricas com queixas de ansiedade ou depressão (ou ambas) são uma causa muito frequente de insónia", acrescenta ainda o médico.

9. Insónia secundária a abuso de drogas

É o caso do abuso de álcool. "O seu efeito hipnótico, que causa sonolência, dura pouco tempo e a pessoa acorda a meio da noite com os outros sintomas do etilismo, de que fazem parte o coração a bater depressa, a boca seca ou as náuseas", explica o neurologista.

Texto: Ana Catarina Alberto com António Atalaia (neurologista)