Tal como quando meditamos, sonhamos de olhos abertos, lemos ou ouvimos música, também sob o efeito da hipnose o corpo relaxa gradualmente e entramos em estado alfa (ondas cerebrais relacionadas com calma e recetividade).
A ação terapêutica da hipnoterapia já é reconhecida pela comunidade médica e, em Portugal, esta técnica é aplicada e ensinada a pacientes com queixas de dor crónica ou aguda.
A Unidade Multidisciplinar de Dor do Hospital de Santa Maria é um dos locais que já a aplica, para além de alguns consultórios de psiquiatria e psicologia. Os objetivos são eliminar ou reduzir a medicação, quando possível, e realizar algumas intervenções mais invasivas com o apoio de hipnose.
Equipas multidisciplinares
Como explica Luís Abrantes, enfermeiro nesta unidade e hipnoterapeuta credenciado, «a equipa da Unidade de Dor é constituída por anestesiologistas, psicólogos, psiquiatras e enfermeiros». A resolução dos casos (alguns referenciados de outras unidades hospitalares) conta com o contributo de ortopedistas e neurocirurgiões entre outras especialidades.
«O acompanhamento é dado a doentes «oncológicos, osteoarticulares, fibromiálgicos, pós-trauma, pessoas que sofreram queimaduras e têm dor neuropática e doentes amputados com dor fantasma do membro amputado», refere o enfermeiro.
Taxa de sucesso
A hipnose «não tem a ver com não se estar consciente, nem fazer aquilo que não se quer. É um estado agradável modificado de consciência que permite ser-se sugestionado. O doente vai, progressivamente, poder trabalhar os mecanismos que são deixados nele, os sinais pós-hipnóticos», acrescenta.
«Ele próprio vai poder, posteriormente, ativá-los para controlar a dor, imaginando, por exemplo, que tem um interruptor que pode ser desligado para deixar de sentir desconforto e passar a sentir-se confortável», esclarece Luís Abrantes. Cerca de 70 por cento dos casos acompanhados no Hospital de Santa Maria são bem-sucedidos.
As técnicas
A hipnose baseia-se numa relação de confiança construída entre o terapeuta e o paciente e permite que este modifique, de alguma forma, a sua maneira de sentir e de estar, abrindo a sua mente (o consciente e o subconsciente) a formas imaginárias de controlar o seu conforto.
«A implantação do interruptor que permite desligar o desconforto é um dos métodos, mas há outras formas de modificar o padrão de dor, nomeadamente através de imagens mentais ou da utilização de cor. A criação de imagens agradáveis permite ao doente estar calmo e diminuir a tensão corporal; na utilização da cor, a hipnose atribui um tom ao seu desconforto e, ao esbatê-lo, as queixas diminuem», refere.
Passo a passo
Cerca de 20 por cento da população não é hipnotizável, sendo
necessário realizar-se previamente uma entrevista e testes de
suscetibilidade que permitem avaliar se o paciente «relaxa e se tem um
bom imaginário».
Isto porque, sob o estado de hipnose, «deve-se
conseguir sentir o que é sugerido, fazer um desvio do padrão (por
exemplo, sentir calor onde não existe). Numa sessão preparatória, o
doente tentará perceber o que lhe é pedido e, na seguinte, irá
concretizar esse treino», afirma o especialista.
Cada sessão dura até uma hora. «Alguns utentes
controlam a dor após sete sessões mas outros, após 20 sessões,
continuam a beneficiar de ajuda», explica Luís Abrantes.
Aplicação em problemas de besidade e infertilidade
Para além de casos de dor crónica e aguda e de fobia, a hipnose também pode ser usada como técnica complementar para tratar
casos de obesidade ou infertilidade e quando a ansiedade ou o stresse
são fatores relevantes, interferindo, nomeadamente na produção hormonal.
A aplicação da hipnose no âmbito do parto é também uma possibilidade e
poderá vir a ser aplicada no futuro, de forma pioneira, no Hospital de
Santa Maria.
Casos contraindicados
Patologias que impedem o recurso à hipnose clínica:
- Esquizofrenia (embora não seja consensual)
- Doença de Alzheimer ou demência
Para encontrar um hipnoterapeuta credenciado, a título
particular, contacte a Associação Portuguesa de Hipnose Clínica e Experimental ou consulte o site www.imaginalportugal.com.
Texto: Leonor Macedo com Luís Abrantes (enfermeiro na Unidade Multidisciplinar de Dor do Hospital de Santamaia e hipnoterapeuta)
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