Acha que cuida suficientemente do seu coração? Pense nisso! A sua saúde depende da dele. Tudo conta, a sua alimentação, os hábitos ou a forma física. Siga as nossas dicas, validadas pelo médico cardiologista cardiologista, para o manter saudável e permanentemente funcional. O coração é uma espécie de central encarregue de distribuir o sangue pelo corpo todo. Este órgão contrai-se cerca de 100.000 vezes por dia.

Por um lado, envia para cada canto do organismo o sangue que se oxigenou depois de passar pelos pulmões e, por outro, recolhe o sangue que já foi utilizado e envia-o para os pulmões, para se recarregar de oxigénio. Se, em algum momento, este duplo circuito sanguíneo for interrompido, a consequência pode ser fatal, porque todos os órgãos do seu corpo precisam desse sangue oxigenado para funcionar.

O trabalho do coração completa-se com um complexo emaranhado de veias e artérias que devem estar em plena forma. Contudo, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nos países desenvolvidos. Em Portugal também! A melhor forma de as combater é através da prevenção. Há, por isso, que exercitar o coração e manter o colesterol, a obesidade e a hipertensão sob controlo e evitar hábitos prejudiciais.

No topo da lista dos mais nocivos, surgem, como seguramente já saberá, o tabagismo e a ingestão excessiva de álcool, mas são são os únicos a afetar a saúde do seu coração, que merece o melhor. E, para consegui-lo, nada como começar a seguir, desde já, as dicas que partilhamos consigo de seguida. Em todo o mundo, são muitos os cardiologistas e os especialistas que as receitam diariamente aos pacientes que os consultam.

1. Vigie o seu colesterol

O colesterol e os triglicéridos são gorduras necessárias ao nosso organismo mas, em excesso, podem danificar o sistema cardiovascular. Apesar do colesterol se medir em conjunto, é composto por diferentes tipos, dos quais se destacam apenas dois, o colesterol HDL (considerado o bom colesterol) e o LDL (o mau). "O HDL tem efeitos protetores sobre as artérias", esclarece o cardiologista Carlos Aguiar.

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"Deve ser superior a 40 mg/dl no sangue nos homens e a 50 mg/dl nas mulheres, mas o colesterol total não deve ultrapassar os 200 mg/dl. O mesmo acontece com os triglicéridos. Os seus níveis devem ser inferiores a 150 mg/dl no sangue", explica o médico. Para manter as gorduras sob controlo tem de medir os seus níveis regularmente. Desta forma, pode detetar atempadamente qualquer alteração que, se não for tratada, pode afetar gravemente a sua saúde cardiovascular. Porque é que estes níveis sobem mais do que devem?

Normalmente, por causa de maus hábitos alimentares e falta de exercício físico, dois dos principais erros que os portugueses cometem. Assim, percebe-se a importância do desporto e da dieta mediterrânica, que as novas gerações têm vindo a menosprezar, na manutenção de níveis normais. Também se alteram por questões genéticas e, para equilibrá-los, utilizam-se as mesmas medidas.

2. Coma (mais) verduras, frutas e leguminosas 

A alimentação afeta, sobretudo, os níveis de colesterol, um dos principais causadores das doenças cardiovasculares. Portanto, comer não tem apenas de lhe fornecer os nutrientes necessários para manter o seu corpo saudável mas, também, para manter o colesterol controlado.

Isto não quer dizer que não possa comer de tudo mas que deve evitar as gorduras de origem animal e as hidrogenadas. A alimentação ideal deve incluir frutas, verduras, cereais, leguminosas, peixe e azeite, o que corresponde à dieta mediterrânica. É a mais recomendável, não só para pessoas com problemas de coração mas para toda a gente.

3. Abuse do peixe e do azeite

Entre todos os alimentos que compõem a dieta mediterrânica, dê especial  importância a estes dois. A ingestão regular de peixe faz com que o nosso equilíbrio de colesterol seja o ideal. O consumo de azeite também favorece um bom colesterol. Há alimentos que deve evitar sempre, os industrializados, a pastelaria industrial, as batatas fritas e os aperitivos de pacote. Contêm muita gordura hidrogenada e, para além disso, viciam.

4. Controle a sua tensão arterial

A hipertensão arterial é o excesso de pressão que o fluxo sanguíneo exerce sobre o sistema cardiovascular, que produz a deterioração acelerada das artérias, provocando danos nos órgãos. Os problemas que pode causar são inúmeros e podem afetar o cérebro, os olhos, o coração, os rins ou as artérias periféricas. Não tem sintomas que a alertem, pelo que tem de fazer um controlo regular da sua pressão arterial.

Os valores da pressão arterial são representados por duas medidas (por exemplo, 120/80 mm/Hg). O primeiro valor corresponde à pressão arterial sistólica, quando o coração se contrai para bombear o sangue e este atinge o seu nível de pressão mais elevado, a máxima. O segundo valor diz respeito à pressão arterial diastólica, quando o coração relaxa para se encher de sangue e a pressão arterial atinge o seu valor mais baixo, a mínima.

Se estes valores estiverem acima dos considerados saudáveis, deve adotar um estilo de vida adequado e seguir as indicações do médico quanto a hábitos e  medicamentos. E quais são os valores de referência? De acordo com Carlos Martins, "fala-se de hipertensão arterial quando uma pessoa apresenta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, um dos valores [máxima ou mínima] ou ambos acima de 140/90".

"A pressão arterial normal corresponde a um valor inferior ou igual a 120/80", esclarece ainda o médico cardiologista. "Entre 120/80 e 140/90, diz-se que a pessoa se encontra num estadio de pré-hipertensão, pois apresenta um risco maior de vir a ter hipertensão arterial", refere ainda este especialista.

5. Não fume

Fumar é muito prejudicial ao coração. O tabaco aumenta 20% o risco de enfarte. É um dos maiores riscos contra a sua saúde, e é evitável. E, se não sabe como deixá-lo, atualmente dispõe de ajuda médica e farmacológica para o fazer. Todos os estudos revelam existir uma relação direta entre o tabagismo e os problemas cardiovasculares, para além de outras doenças graves:

- É uma das principais causas de redução da esperança de vida.

-  É o principal fator de risco para diferentes tipos de doenças cardíacas, como a cardiopatia isquémica, doença cardíaca provocada por depósitos ateroscleróticos.

-  Quem fuma tem 20% mais probabilidades de sofrer um enfarte e o dobro de ter uma angina de peito do que um não fumador.

- Contribui para o aparecimento de enfartes e hemorragias cerebrais.

- É o fator de risco mais significativo no aparecimento de aterosclerose nas artérias periféricas.

- Só se conhece em fumadores uma doença rara que gangrena as extremidades, denominada tromboangeíte obliterante ou doença de Buerger.

- Está demonstrada a relação entre diferentes tipos de cancro e o consumo de qualquer forma de tabaco.

6. Não ingira mais do que 30 gramas por dia de álcool

Não ultrapasse os dois copos de vinho. O facto de o álcool ser bom para a circulação, porque é vasodilatador, não pode servir de desculpa para abusar. Na verdade, o vinho é recomendado por muitos nutricionistas pelas suas propriedades benéficas mas nunca nos podemos esquecer que continua a ser álcool, e este, em excesso, é prejudicial para a saúde. Portanto, não precisa deixar de bebê-lo mas é fundamental reduzir a sua ingestão, para bem do seu coração.

7. Esteja atento à sua forma física

O excesso de gordura corporal é prejudicial. Ter o peso correto não é só uma questão de estética. A má alimentação e a falta de exercício traduzem-se em obesidade, situação ideal para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Não é só o excesso de peso que é prejudicial, a concentração de gordura numa parte concreta do corpo também é nociva.

Na verdade, o excesso de gordura abdominal, por envolver órgãos internos, aumenta o risco de diabetes, de hipertensão e de doenças cardiovasculares. Para evitar o excesso de peso combine uma alimentação equilibrada com a prática regular de exercício físico. Não é preciso fazer dieta se estiver praticamente no seu peso ideal.

8. Faça (mais) exercício

Os médicos sempre nos disseram que o exercício físico é a melhor forma de nos mantermos saudáveis, o que faz ainda mais sentido no caso do coração. A razão é muito simples. O coração é um músculo e, como tal, quanto mais o exercitar, mais o fortalece. Um coração forte manterá o seu sistema circulatório em boas condições. Não se trata de se transformar numa atleta mas, sim, de praticar desporto regularmente.

Deve fazer desporto, pelo menos, três vezes por semana, durante 30 minutos por sessão. Um estilo de vida ativo previne, por norma, fatores de risco como o sedentarismo, a hipertensão ou a hipercolesterolemia. Ir ao ginásio é uma boa opção mas não é a única. Caminhe, nade, ande de bicicleta ou corra, se preferir. E tome nota de alguns truques  para aumentar a sua atividade física.

Apesar de não substituírem o desporto, as dicas que lhe apresentamos de seguida vão ajudá-lo a manter-se em forma com o mínimo esforço:

- Suba e desça as escadas em vez de usar o elevador.

- Ande a pé sempre que puder e esqueça o carro.

-  Se puder, ande de bicicleta, tanto para passear como para se deslocar.

- Quando tiver de fazer um recado, vá a pé.

- Se trabalha sentado, levante-se e caminhe um pouco de hora a hora.

- Quando for trabalhar, não estacione muito perto do seu destino ou desça uma paragem antes se for de transportes públicos.

-  Realize todas as tarefas físicas que conseguir na lida da casa, como cuidar do jardim.

- Se tiver um cão, quando o levar a passear, não fique sentado à espera. Brinque com ele e ande.

- Não faça compras nas lojas mais próximas. Ande e procure uma mais afastada.

9. Faça check-ups médicos a partir dos 35 anos

Por último, e não menos importante, deve consultar o seu médico sempre que tiver alguma dúvida ou notar algum sintoma. E deve fazê-lo de imediato, porque, quando falamos do coração, o tempo conta imenso. Aliás, o tempo salva vidas! Para além disso, é sempre aconselhável fazer check-ups periódicos, especialmente a partir dos 35 anos. Estes exames de rotina não implicam que tenha de fazer tratamentos.

Servem para descartar possíveis problemas cardiovasculares e despreocupar-se perante esta possibilidade. Estas doenças aparecem com o passar dos anos e tornam-se mais frequentes por volta dos 40 anos. E quem corre mais risco? A resposta não é propriamente tranquilizante para nenhum dos géneros.

Tanto os homens como as mulheres padecem de problemas cardíacos, embora as mulheres pareçam estar um pouco mais protegidas até à menopausa, podendo iniciar a vigilância um pouco mais tarde. Os pacientes de maior risco são fumadores, pessoas com excesso de peso ou taxa de colesterol elevada, diabéticos e hipertensos.

10. Cuide da sua saúde mental

"Mente sã em corpo são", diz o ditado, como duas partes de um todo que têm de estar em harmonia. Como consegui-lo se vive constantemente nervoso? O stresse é um dos males do nosso tempo e há que aprender a conviver com ele e a saber controlá-lo. Sem equilíbrio psicológico é impossível gozar de  boa saúde e o seu coração ressente-se de forma especial. As situações de stresse incidem diretamente no coração.

E, em muitos casos, desencadeiam episódios cardiovasculares, como anginas de peito ou enfartes. Para além disso, o stresse costuma surgir acompanhado de hábitos nocivos, como o tabagismo ou uma alimentação descontrolada, que representam uma situação de risco muito elevado. Para evitá-lo, deve mudar a sua atitude perante situações que lhe provoquem stresse.

Apesar de ser difícil, todos os dias nos preocupamos desnecessariamente ou sofremos por antecipação mas, em muitos casos, não somos capazes de ver as outras coisas boas que a vida tem. Trata-se um pouco de mudar o chip. É mais fácil dizê-lo e lê-lo do que fazê-lo e pô-lo depois em prática no quotidiano mas, se pretende viver mais e melhor, não tem grande alternativa. É melhor que comece a ter consciência disso.

Texto: Madalena Alçada Batista com Carlos Aguiar (médico cardiologista)