Segue uma dieta e até aumentou a atividade física mas continua com dificuldades em perder peso e, sobretudo, em estabilizá-lo? Não está sozinha! Essa é uma situação muito mais comum do que à partida poderia julgar. Saiba o que está a fazer errado. No contexto europeu, Portugal tem mais adultos obesos que França, está equiparada a Espanha, e tem menos que a Alemanha e Reino Unido. Está na média, portanto.
Mas dados do último estudo sobre a obesidade realizado por Isabel do Carmo, Osvaldo Santos, José Camolas e João Vieira, recolhidos entre 2003 e 2005 em Portugal Continental, revelaram que 53,6% dos portugueses são pré-obesos ou obesos. Números à parte, a verdade é que boa parte da população portuguesa trava frequentes batalhas com a balança. Tem dificuldade em perder peso, mesmo quando submetida a uma dieta. E, quando isso acontece, muitas vezes regride. Recupera o apetite e até o último grama perdido.
Quem desconhece as suas histórias e percursos, e só vê os quilos a mais, é tentado a dizer que estas pessoas comem muito e mexem-se pouco. Será mesmo assim? A maior parte das vezes não é, assegura a fisiologista Teresa Branco, autora de livros sobre emagrecimento, para quem esta análise é «simplista e muito redutora», como a define. O que comemos também conta, mas há mais para além do consumo e dispêndio de calorias.
O mesmo se aplica ao metabolismo, igualmente apontado como culpado de não se conseguir emagrecer facilmente. Aos 39 anos, Paula continua a responsabilizá-lo pelos quilos a mais que a acompanham praticamente desde a adolescência. Compara-se com a melhor amiga, da mesma idade. «Come muito mais do que eu e não tem problemas de peso a mais. Deve ter um metabolismo acelerado», diz, confessando que passa muito tempo de mãos dadas com dietas.
Crenças à parte, a verdade é que as pessoas não metabolizam os alimentos e determinados macronutrientes da mesma forma, garante Teresa Branco. Designadamente os hidratos de carbono. «Quem os metaboliza menos bem tem tendência a engordar mais». Mas isso não explica tudo. «A maioria das vezes, por trás dos quilos a mais há alterações de origem fisiológica, hormonal, comportamental e genéticas que levam essas pessoas a ter uma maior predisposição para aumentar de peso».
Os fatores emocionais e o sono
Teresa Branco diz que «comer emocionalmente», sem fome e para preencher um qualquer vazio, é outro dos fatores envolvidos no ganho de peso e, posteriormente, na dificuldade de emagrecer. Não sendo consideradas compulsivas, há pessoas que comem de forma emocional. «Estão sempre a petiscar porque se sentem frustradas, sozinhas, ansiosas ou depressivas. A comida passa a ser o refúgio, uma compensação», refere.
Quando isso acontece, come-se bolachas e chocolates, mas o mais curioso, «também alimentos saudáveis, que quando consumidos de forma exagerada têm calorias e podem eventualmente ser mal processados ou mal metabolizados. E aí há uma tendência para engordar». Teresa Branco diz
tratar-se de uma situação recorrente, culpada por muitos quilos a mais. E, por vezes, exasperante, pois provoca sentimentos de culpa nas pessoas que lutam contra o peso.
Prometem voltar à dieta e até voltam, mas rapidamente têm uma e outra recaída. É um ciclo vicioso. Os acontecimentos da vida podem trazer peso a mais e até obesidade às pessoas que não a tinham, embora a predisposição estivesse sempre lá, diz Isabel do Carmo. «Comer emocionalmente, sobretudo doces, cria habituação e, às vezes, dependência». Alguma medicação para a depressão e ansiedade pode também engordar.
Vários estudos demostram também que a privação do sono aumenta drasticamente o apetite. «Em termos comportamentais, é mais fácil comer mais estando mais horas acordada», diz Teresa Branco. Mas há mais! «Quando as pessoas dormem menos, há uma alteração no metabolismo dos hidratos de carbono. Desenvolvem uma resistência à insulina, que leva à sua produção excessiva. E, como se sabe, a insulina é uma hormona que promove acumulação de massa gorda». Além deste depósito de gordura, o processo «pode levar a um comportamento alimentar diferente».
Cientistas de Harvard descobriram também gordura castanha em adultos, capaz de influenciar o peso. Até há pouco tempo, pensava-se que este depósito de tecidos adiposos castanhos localizado no fundo do abdómen só existia nos bebés, sendo fundamental para a sua proteção térmica, visto não terem outro meio de resistir às mudanças de temperatura (o seu metabolismo ainda não está ajustado nesse sentido). Nos adultos, julgava-se que existia só de forma residual. Mas, afinal, essa gordura está lá e funciona.
Isabel do Carmo explica que «quanto mais frio está, mais ela se ativa e, ativando-se, aumenta o metabolismo, e, portanto a pessoa pode emagrecer». Logo, as temperaturas amenas funcionam ao contrário. Muitos fatores podem assim contribuir para que a batalha do emagrecimento seja complexa e demorada, desde alterações intrínsecas a cada pessoa até ao facto de, por exemplo, não estar a dormir as horas de sono necessárias. Daí a necessidade de existir um acompanhamento personalizado ao longo de todo o processo de emagrecimento. E posteriormente.
Os genes, o meio ambiente e as hormonas
A endocrinologista Isabel do Carmo fala em «genética e epigenética» para explicar o excesso de peso. Diz que cada vez se reconhece mais a existência de um conjunto de genes que predispõe para a obesidade e tem influência sobre o apetite. De qualquer forma, ela «só vai revelar-se se houver abundância», assegura. Relativamente à epigenética, que é tudo aquilo que no meio ambiente vai influenciar esses genes a expressarem-se, explica que o primeiro risco começa no ventre materno.
Cabe às mães prevenir o problema «não comendo excessivamente nem pouco» durante o tempo de gestação. Autora de vários livros sobre obesidade, Isabel do Carmo assegura que o excesso de peso em qualquer altura da vida (por razões genéticas ou porque a pessoa comeu excessivamente relativamente às suas necessidades) vai tornar as batalhas futuras para emagrecer naturalmente mais difíceis.
«Quando há excesso de peso, há adipócitos (células gordas) que não morrem quando se emagrece. Encolhem, ficam lá e pedem comida», explica. A endocrinologista garante que, em termos de saciedade e de apetite, «manda mais o tubo digestivo do que a cabeça, e pouco a parte cognitiva». É, por isso, que as pessoas que querem emagrecer «têm de fazer um grande esforço de motivação. Estão a travar uma luta». O funcionamento hormonal também tem uma palavra a dizer, segundo Teresa Branco.
«Quando as mulheres começam a ter níveis de concentração hormonais em défice, têm tendência para aumentar o peso», diz, explicando que isto se torna evidente na pré-menopausa e no período que se segue ao desaparecimento da menstruação. Em média, há um aumento de peso na ordem dos cinco a dez quilos, «com acumulação de gordura na região abdominal e no tronco», mesmo em mulheres que comem menos. Nesta fase da vida, «há também uma tendência para a perda de massa muscular», o que contribui à partida para um «dispêndio calórico diminuído».
A produção da hormona tiroideia em menores quantidades ao longo da vida é, segundo a fisiologista, mais uma das transformações a levar em conta. «Menores concentrações da hormona tiroideia levam a uma diminuição de todo o metabolismo e a uma maior tendência para a acumulação da gordura corporal», explica. Portanto, é difícil emagrecer, quando uma série de transformações caminha no sentido contrário!
3 regras para perder peso
A nutricionista Magda Rocha deixa três conselhos essenciais para quem quer emagrecer. Comece hoje mesmo a pô-los em prática:
- Nunca chegue a sentir fome, pois quando isto acontece e se senta à mesa, é mais fácil comer sem se importar se a comida é saudável. Faça refeições e snacks ao longo do dia para não chegar a esse ponto.
- Beba água ao longo do dia, no mínimo dois litros de forma gradual. A hidratação é muito importante e evita a retenção de líquidos, que pode levar ao aumento de peso.
- O sono é essencial na regulação do peso, por isso, crie as condições para que ele ande em dia e com qualidade. Dormir bem, descansar, faz com que o corpo recupere e seja mais fácil evitar o desânimo e tentações à volta da comida.
Texto: Júlia Serrão
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