
O alho (Allium sativum), utilizado há milénios tanto na culinária como na medicina popular, contém substâncias sulfuradas como a alicina, cuja atividade antimicrobiana, anti-inflamatória e antioxidante tem sido documentada em estudos laboratoriais e epidemiológicos.
Estes efeitos sugerem um potencial papel do alho na modulação do sistema imunitário, especialmente na resposta a agentes infeciosos.
A alicina, produzida quando o alho cru é esmagado ou picado, demonstrou capacidade para inibir o crescimento de bactérias, vírus e fungos, in vitro. Além disso, outros componentes do alho, como os tiosulfinatos e os flavonoides, parecem contribuir para a ativação de células imunitárias como os linfócitos e os macrófagos, fundamentais na defesa do organismo.
Embora a evidência clínica em seres humanos seja promissora, continua a carecer de maior robustez, com resultados por vezes contraditórios. Acresce que a eficácia pode variar significativamente consoante a forma de consumo, já que os suplementos de alho disponíveis no mercado diferem bastante na concentração e biodisponibilidade dos compostos ativos.
Como infeciologista, reconheço o interesse do alho como complemento numa abordagem preventiva, inserido numa alimentação equilibrada e num estilo de vida saudável. Além de contribuir para a resposta imunitária, tem sido associado a modestas reduções do colesterol LDL e da pressão arterial, sugerindo um possível benefício adicional para a saúde cardiovascular.
Não obstante, o alho não substitui vacinas, antibióticos ou outras intervenções baseadas em evidência científica. O seu valor reside no contributo complementar — um aliado natural, seguro e acessível, quando utilizado com equilíbrio e bom senso.
Um artigo do médico Daniel Silva Coutinho, infecciologista no Hospital Lusíadas Porto.
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