Provêm das plantas tropicais e os seus sabores e aromas são, por norma, acentuados graças ao teor de óleos essenciais que possuem. Enquanto as ervas aromáticas são folhas e talos de plantas medicinais normalmente usadas frescas, as especiarias, normalmente secas, podem ser sementes como a pimenta e a mostarda, estigmas como o açafrão, frutos como a noz-moscada, cascas como a canela ou rizomas como o gengibre.
Estas especiarias, algumas delas utilizadas na nossa culinária há séculos, têm ainda a vantagem de serem muito fáceis de usar em qualquer cozinhado. O naturopata João Beles, um apologista deste ingrediente alimentar, revela as propriedades terapêuticas de cinco delas e aponta ainda as doses a ingerir para maximizar a sua ação. Agora que passou a ter esta informação, deixa de ter desculpa para não as utilizar no seu dia a dia.
1. Açafrão-da-índia
Resulta dos estigmas secos da flor Crocus sativus, usados inteiros ou moídos. A curcumina, o seu principal constituinte fitoquímico, tem propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e regeneradoras dos tecidos. Protege o estômago de úlceras e ajuda a digerir as gorduras. Além disso, ajuda no tratamento da diabetes, alergias, artrite e outras doenças inflamatórias neurodegenerativas. Cerca de 5 a 10 gramas por dia é a dose indicada.
2. Noz-moscada
É obtida a partir do fruto da planta moscadeira. As suas propriedades resultam da miristicina, pertencente a uma classe de medicamentos usados para tratar a depressão. Promove o apetite, facilita a digestão e reduz a flatulência. Também ajuda a tratar a diarreia, os vómitos e náuseas. A dose diária recomendada é de 1 a 2 gramas. Apesar de ser muito usada para aromatizar o puré de batata, também há quem a utilize em sopas e estufados.
3. Canela
Em pau ou moída, é extraída da casca de uma planta natural do Ceilão. Contém polifenol MHCP, um óleo essencial com atividade antibacteriana, antiviral e analgésica. A canela é útil no tratamento da diabetes, equilibrando os níveis de glicose no sangue e limitando a sua acumulação como gordura. Além disso, reduz as inflamações das vias respiratórias e a produção de expetoração, como confirmaram inúmeros estudos.
Esta especiaria é eficaz a atenuar indigestões e enfartamentos. Cerca de 2 a 4 gramas, consumidos em pó diariamente, é a dose recomendada. Mas, atenção, se sofre de úlcera gástrica ou do duodeno, evite o consumo. Embora seja essencialmente utilizada para aromatizar bolos e sobremesas, como o arroz-doce, a aletria e o pastel de nata, também há quem a use para dar mais paladar ao café e a bebidas quentes preparadas com leite.
4. Gengibre
Pode ser consumido seco ou fresco. Tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias que derivam de fitoquímicos como fenóis, lecitinas e gingerois, presentes na sua composição. Esta especiaria ajuda na prevenção e tratamento de enjoos de movimento, na gravidez ou resultante de quimioterapia. É também um anti-inflamatório útil na osteoartrite e como coadjuvante do tratamento de úlceras do estômago ou duodeno.
Para além disso, o gengibre ajuda no tratamento de gripes e constipações e desinflamação das cordas vocais. Cerca de 2 a 4 gramas por dia é a dose recomendada. Para ter ação respiratória, pode ser usado em rebuçado, misturado com mel. Limite o seu consumo durante a gravidez. Este ingrediente deve ainda ser ingerido antes das férias e das deslocações, idealmente 30 minutos antes da viagem para prevenir enjoos.
5. Pimenta-de-caiena
É o tipo de pimenta com efeitos terapêuticos mais bem demonstrados. Muito picante, deriva das malaguetas secas de um pimento vermelho e contém capsaicina, uma molécula com ação analgésica e anti-inflamatória, para além de carotenoides, pigmentos vasodilatadores. Esta especiaria, muito usada atualmente, ajuda a aliviar a dor crónica, promove a saciedade e a queima de gorduras, sendo útil na obesidade.
A pimenta-de-caiena, que encontra facilmente em qualquer supermercado e hipermercado, também promove a vasodilatação, atuando como estimulante sexual, pelo que deve ser idealmente ingerida horas antes do ato sexual. A dose diária é a partir de 2 gramas, consoante o gosto e a tolerância. Tenha em atenção que as pessoas com fragilidade capilar (varizes) e hemorroidal não devem consumi-la, alertam os especuialistas.
Como comprar e conservar especiarias
Estes são alguns dos cuidados que deve ter:
- Prefira as especiarias de cultura biológica. As convencionais podem adicionar pesticidas aos seus preparados.
- Compre-as inteiras ou partidas e vá moendo (num moinho de especiarias ou num almofariz), para preservar os aromas por mais tempo.
- Compre em pequenas quantidades. O dinheiro que poupa ao levar em quantidade não compensa a perda de aroma.
- Guarde-as hermeticamente fechadas, de preferência em sacos ou frascos de botica, num local escuro, para os aromas não se destruírem, alterarem ou impregnarem outros alimentos.
Texto: Rita Miguel
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