O viveiro de Amândio Esteves é uma das duas Zonas Demarcadas neste concelho transmontano pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) por ali ter sido detetada a bactéria que tem devastado culturas de elevado valor económico em alguns países europeus e que chegou a Portugal em 2019.

A oliveira é das culturas com maior peso económico no concelho de Mirandela e, em setembro de 2022, análises feitas nesta zona deram, pela primeira vez, positivo à presença da ‘Xyllela’.

Mais de três mil oliveiras para plantação que Amândio tinha no viveiro tiveram que ser destruídas, como contou à Lusa, e num raio de 50 metros, a chamada zona infetada, não pode plantar, além de tanto ele como outros agricultores que ali tenham árvores serem obrigados a destruir tudo.

Acresce ainda que as normas sanitárias impõem também uma “zona tampão” de 2,5 quilómetros em volta da área afetada, de onde não podem sair ou entrar plantas.

Amândio Esteves já queimou as oliveiras, mas o grande prejuízo é no resto do viveiro, concretamente “15 mil plantas de amendoeiras que ficaram imobilizadas porque é uma espécie suscetível à ‘Xylella’ e está dentro dos 50 metros”, não podendo ser comercializadas.

“Aí é que eu tenho prejuízo”, enfatizou, vincando que, em termos de negócio, “este ano é para a desgraça”.

“Eu tinha o viveiro todo praticamente vendido e tenho que destruir tudo, estamos a falar à volta de 60 a 70 mil euros numa empresa familiar, onde trabalho eu, a minha mulher e o meu filho”, contou.

Amândio continua a comercializar plantas de outros viveiros que tem, mas a zona afetada pela ‘Xylella’ equivale a mais de metade do negócio e, embora a lei não o obrigue a destruir as plantas de amendoeiras, diz que é o que vai fazer.

“Só indemnizam as infetadas (oliveiras), as restantes (amendoeiras) estão imobilizadas, tenho que tratar delas para depois daqui a três anos já não servirem de nada, para as destruir, já não têm tamanho para ser comercializadas, estão enormes”, afirmou.

Além das plantas em viveiro, também estão a ser destruídas oliveiras centenárias que se encontram na zona infetada, o chamado abate preventivo, “e essas não vão ser pagas a ninguém”.

“Aqui há um senhor que lhe destruíram 19 oliveiras, a mim também são 20 e tal, um senhor são sete ou oito, outra senhora também são umas sete ou oito e não está contemplado na legislação serem ressarcidos do prejuízo”, indicou.

Para este operador, “se querem combater a ‘Xylella’ desta forma não vai ser fácil”, pois “se aparecerem sintomas numa oliveira ou noutra espécie suscetível de apanhar, não há nenhum agricultor que vá dizer se ninguém vai indemnizar ninguém, as pessoas ficam caladas”.

Amândio Esteves não sabe como a bactéria apareceu no viveiro e coloca as hipóteses de ter vindo de plantas que comprou fora, nomeadamente fruteiras que às vezes os clientes lhe pedem e não costuma plantar, ou de “já estar na zona”.

“Aguardamos as análises que fizeram fora do viveiro para ver se vem alguma análise positiva ou não. Recolheram amostras há dois ou três meses e ainda ninguém sabe o resultado. Em Portugal, como em tudo, os processos são muito lentos”, afirmou.

As indemnizações estão previstas tanto para as plantas infetadas como para o destruição das mesmas, mas este operador diz que “tem que sair um despacho do Ministério da Agricultura a autorizar” as mesmas e que até hoje ainda não viu nada.

O caso de Mirandela é de setembro, mas Amândio Esteves lembra que a ‘Xylella’ já está em Portugal desde 2019, e defende que o processo para ressarcir os lesados “já devia estar contemplado há muito tempo”.

“A gente já não está à espera de nada porque já houve casos semelhantes e ninguém recebeu nada”, afirmou, lembrando o fungo bacteriano nas macieiras ou a vespa das galhas do castanheiro, que destruíram viveiros e ninguém indemnizou os proprietários.