Há dezenas de anos que é perfeitamente conhecido e cientificamente comprovado, por muitas centenas de estudos, que na origem das perturbações mentais (emocionais) está o stress social crónico causado por graves preocupações, ameaças de todo o género e experiências traumatizantes. O stress do nosso meio ambiente altera o nosso organismo e faz-nos ficar doentes.
Stress social e sofrimento
O stress social, que atua sobre o nosso organismo, desde o momento da conceção, altera a nossa organização neurobiológica e hormonal normal dando muitas vezes origem a perturbações mentais e à maioria das doenças (crónicas) e autoimunes que ao longo da nossa vida nos vão atormentar. Gabor Maté, um médico canadiano de grande renome internacional, expõe precisamente este processo de reação do nosso organismo ao stress social no seu último livro, O Mito do Normal - Trauma, Doença & Cura numa Cultura Tóxica.
Uma das vantagens de conhecermos este processo é de que, com conhecimento de causa, podemos questionar a afirmação de que medicamentos curam. Os antidepressivos, os ansiolíticos, os estabilizadores de humor e sedativos, os estimulantes do sistema central nervoso receitados a dezenas de milhares de crianças em Portugal, diagnosticadas com a Perturbação de Hiperatividade e Déficit de Atenção, não curam e são perigosos.
Uma outra consequência de sabermos que é o nosso meio ambiente, stressante e traumatizante, que despoleta o desenvolvimento da grande maioria das doenças das quais sofremos, é de que é urgente examinar, com muita atenção, a saúde mental das empresas, das instituições, das repartições e dos serviços do Estado. Isto para evitar o agravamento do atual estado (deplorável) de saúde dos cidadãos e da sociedade e reduzir os riscos desta situação se propagar às gerações futuras.
É absolutamente inaceitável, do ponto de vista moral, ético e económico, para não citar que estes três critérios, que não se atue, de forma decidida, no sentido de tornar a nossa sociedade menos stressante, menos tóxica e doentia.
Uns sofrem muito mais do que outros
A prevalência das perturbações mentais (emocionais), todas elas muito perigosas e incapacitantes, é significativamente mais elevada nos países mais desiguais e opressivos. Autores como Wilkinson e Pickett (2009) demonstraram que quanto maior é a desigualdade e a opressão, mais elevada é a percentagem da população que desenvolve uma ou mais perturbações mentais.
Outros investigadores, tais como Forster, Kentikelenis, Bambra (2018) demonstraram que a prevalência das perturbações mentais é mais elevada, quanto menor é o rendimento das famílias. No mesmo país ou na mesma cidade (por exemplo, em Lisboa), em bairros separados por algumas centenas de metros, ou por uma estação de metro, a prevalência da perturbação mental (e de muitas outras doenças) no bairro com um rendimento médio, elevado (por exemplo, a Quinta das Conchas), é muito menor do que no bairro contíguo com rendimentos muito baixos, por exemplo, a Musgueira.
A injustiça, a exploração e a indiferença perante o sofrimento dos outros, fomentam a segregação e a exclusão social, têm efeitos devastadores nas pessoas e na sociedade.
Nem todos somos igualmente responsáveis pela nossa insensatez
Neste contexto, é extremamente importante, e preocupante, o comportamento, tantas vezes imoral e associal no topo das empresas, na administração pública e nos serviços públicos, nos órgãos de soberania. Tratar mal as outras pessoas, enganá-las, explorá-las e oprimi-las denuncia a insanidade de quem tem estes comportamentos, faz com que centenas de milhares de homens, mulheres e crianças adoeçam e dezenas de milhares acabem por morrer, em sofrimento, prematuramente.
É absolutamente necessário que as pessoas no topo da sociedade reflitam, procurem ajuda e melhorem os seus comportamentos. A falta de empatia e de sentido de justiça, não são necessariamente perturbações mentais, mas são, seguramente, muito pouco saudáveis para todos nós.
Administradores, diretores e governantes
Quando os bancos e muitas outras grandes empresas fazem milhões de euros de lucro, por dia, sem qualquer esforço adicional ou contrapartida, estamos perante situações desconcertantes e potencialmente traumatizantes para a maioria dos cidadãos. Quando, ao mesmo tempo, centenas de milhares de famílias se veem obrigadas a reduzir o pouco conforto de que dispõem, as despesas em alimentação e vivem angustiados com a ameaça de perderem o apartamento, estamos perante situações extremamente injustas, comportamentos muito violentos e de grande insensibilidade. Os subsídios piedosos e a caridade dos governos ajudam a suportar a miséria, mas são, ao mesmo tempo, humilhantes para todos nós. No entanto, em Portugal, há muito, muito dinheiro, tanto que os bancos o não querem nem sabem o que fazer com ele.
Numa sociedade muito pouco evoluída, muito fragilizada e com clivagens de classe muito acentuadas, os cidadãos, todos os cidadãos, particularmente os poderosos e muito ricos, precisam de parar e refletir. Provavelmente, precisamos também de um acordo social que inspire o desenvolvimento de uma sociedade mais saudável, onde todos assumimos o dever e a obrigação de proteger e cuidar da pessoa humana e do cidadão.
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