“Meritíssimo, não estou em condições de prestar declarações”, começou por dizer o antigo banqueiro, de 77 anos, justificando de seguida, após questão do presidente do coletivo de juízes, Francisco Henriques, sobre as razões na base dessa decisão: “Foi-me atribuída uma doença de Alzheimer”, escreve a agência de notícias Lusa.
O antigo líder do BES nunca marcou presença nas anteriores oito sessões do julgamento, face à permissão da lei em relação ao contexto da pandemia de covid-19. Ricardo Salgado viu ainda os seus advogados apresentarem em outubro um atestado médico de diagnóstico de doença de Alzheimer, visando assim a suspensão do julgamento, mas essa pretensão foi recusada pelo tribunal.
Ricardo Salgado responde neste julgamento por três crimes de abuso de confiança, devido a transferências de mais de 10 milhões de euros no âmbito da Operação Marquês, do qual este processo foi separado.
Que doença é esta e como se diagnostica?
Há 30 milhões de pessoas com Doença de Alzheimer em todo o mundo, uma doença cujo diagnóstico melhorou mas para a qual ainda não existe um tratamento eficaz.
A incidência das demências - que afetam entre 160 mil a 185 mil pessoas em Portugal - deve duplicar a cada cinco anos nas próximas décadas, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) citadas pela agência de notícias France-Presse.
Descrita pela primeira vez em 1906 pelo médico alemão Alois Alzheimer, esta doença neurodegenerativa causa a deterioração progressiva das capacidades cognitivas do paciente, até desencadear a perda total de autonomia, roubando-lhe praticamente todas as características da sua personalidade.
Os principais sintomas são os esquecimentos recorrentes, problemas de orientação e alterações das funções executivas, como por exemplo não saber como utilizar o telefone. Após o aparecimento destes sintomas, é essencial consultar-se um médico ou um centro especializado, onde vários exames neuropsicológicos permitirão diagnosticar ou descartar a doença.
Quais as causas?
Na maioria dos casos, a principal causa é desconhecida, segundo Stéphane Epelbaum, neurologista do hospital parisiense Pitié-Salpêtrière. "Não sabemos porque é que em algumas pessoas os neurónios começam a degenerar-se e noutras não".
A idade "é o maior fator de risco conhecido", segundo a OMS. Estima-se que a partir dos 85 anos, uma em cada quatro mulheres e um em cada cinco homens desenvolvam Alzheimer. A partir dos 65 anos, o risco de desenvolver a doença duplica a cada cinco anos.
Esta doença não deve, no entanto, ser considerada uma consequência inevitável da velhice. Só em 1% dos casos existe um fator hereditário, com o aparecimento precoce, por volta dos 60 anos ou inclusivamente antes. Para o resto dos casos, alguns estudos apontam como fatores de risco o sedentarismo, obesidade, diabetes, hipertensão arterial, tabaco, álcool e alimentação desequilibrada.
A depressão, o nível baixo de escolaridade, o isolamento social e a ausência de atividade intelectual também são citadas pela OMS como condições favoráveis ao desenvolvimento da doença.
Como se diagnostica?
Durante muitos anos, diagnosticar a doença de Alzheimer era uma tarefa difícil. Mas hoje existem métodos eficazes de diagnóstico.
O paciente é submetido a um exame clínico, com testes com perguntas para detetar transtornos cognitivos, explica Epelbaum. Para confirmar a doença, os médicos podem recorrer a imagens por Ressonância Magnética ou à Tomografia por Emissão de Pósitrons, a fim de visualizar as modificações no cérebro. Também há a possibilidade de realizar punções lombares para detetar alguns marcadores da doença.
Com agências
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