As alterações climáticas sempre constituíram uma temática de agenda pública, no entanto assistíamos a uma sazonalidade equilibrada, onde os diferentes agentes socioeconómicos e políticos assumiam a necessidade de tomarmos medidas atempadas que visassem a sustentabilidade do nosso planeta.
Atualmente presenciamos um panorama de risco sendo necessário tomar medidas urgentes de modo a transformar o atual ciclo da cadeia produtiva que terá de levar ao abandono da utilização dos combustíveis fósseis.
Com a intensificação do desenvolvimento tecnológico e industrial, os processos produtivos recorreram cada vez mais a fontes energéticas como o petróleo e o carvão e o aquecimento global tem vindo a manifestar-se a um ritmo muito preocupante. Tudo isto, se tem vindo a acumular em termos de pegada ecológica e requer uma reflexão profunda.
Integrado no clima mediterrânico e com uma longa costa, Portugal está particularmente vulnerável a fenómenos resultantes das alterações climáticas. A tendência será de seca acentuada e risco aumentado de incêndios nas próximas décadas, aumentando o risco para a saúde pública em diferentes áreas.
O atual panorama mundial é de grande alerta, com catástrofes naturais cada vez mais intensas e de maior frequência.
No nosso país com os invernos mais suaves e os verões mais húmidos, alguns insetos transmissores de doenças estão a expandir a sua área de sobrevivência. Dengue, malária e o vírus Zika surgem em novas zonas onde antes o clima não era propício e é preciso reforçar a vigilância e a colaboração internacional. Já se registam “invasões” destas espécies na Europa e no nosso país o sul é a região que já está na linha da frente para sofrer estes impactos em termos de saúde pública, podendo estender-se a todo o país se não agirmos preventivamente.
Por outro lado, as doenças do sistema respiratório têm vindo a ser intensificadas pelas alterações climáticas. Existe uma maior suscetibilidade de contrair sinusite, bronquite, asma e alergias, essencialmente em crianças e outros grupos de risco. As temperaturas elevadas também estão muitas vezes associadas à poluição atmosférica que, para além de afetar a componente respiratória, afeta também a nível cardiovascular. A acumulação químicos industriais na atmosfera, como os clorofluorcarbonetos, tem degradado a camada de ozono na estratosfera, originando níveis de radiação ultravioleta elevados, que intensificam também, para além as doenças respiratórias, o envelhecimento prematuro da pele, danos na córnea, risco de cataratas e outras formas de lesão ocular e o aparecimento de melanomas.
Os períodos de seca têm também repercussões sobre a saúde, pelo aumento da morbilidade e da mortalidade, desnutrição devido à escassez de alimentos, risco de doenças transmissíveis e de doenças de origem hídrica. Fenómenos como furacões, vulcões e outras manifestações meteorológicas extremas estão a tornar-se mais frequentes e mais críticas e as suas consequências graves, como mortes, despoletam também outras complicações para a saúde.
Portanto, a saúde pode ser afetada por múltiplas condições climáticas e variáveis associadas que nos levarão a ser confrontados com diversas patologias até aqui controláveis, mas em relação às quais temos de ter muita atenção face ao seu potencial desenvolvimento epidemiológico, através de fatores como as temperaturas extremas, poluição, doenças de origem hídrica e doenças com origem em vírus.
Urge a necessidade de incluir a saúde pública nas respetivas agendas das alterações climáticas, capacitar os serviços de saúde para uma vigilância clínica, epidemiológica e laboratorial contínua, que privilegie a prevenção da doença e a promoção da saúde dos grupos mais vulneráveis e promover uma adequada comunicação do risco de todas as alterações climáticas junto do utente.
Um artigo de opinião do médico Germano de Sousa, especialista em Patologia Clínica.
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