A malária é uma doença causada por um parasita (Plasmodium falciparum) que é transmitido por mosquitos. A patologia afeta cerca de 200 milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente nos trópicos, e causa cerca de 600 mil mortes por ano, a maioria na África subsaariana, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O tratamento padrão atualmente é a artemisinina - desenvolvida pela cientista chinesa Tu Youyou, vencedora do Prémio Nobel de medicina, em combinação com outros tratamentos. Porém, há já alguns anos foram observadas resistências ao tratamento, principalmente no Camboja.

Para determinar se o continente africano pode ser a próxima vítima deste tipo de resistência, um grupo de investigadores infetou diferentes espécies de mosquitos com parasitas resistentes à artemisinina provenientes de pacientes cambojanos ou de testes laboratoriais.

Estes parasitas infetaram facilmente diversas espécies de mosquitos Anopheles, entre eles o Anopheles coluzzii - o principal vetor da malária na África.

Os investigadores, liderados por Rick Fairhust, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) - que depende do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) - também descobriram um fundo genético comum em parasitas resistentes à artemisinina que lhes permite infetar várias espécies de mosquitos. Para os cientistas, essa capacidade pode explicar o rápido desenvolvimento da malária resistente à artemisinina no Sudeste Asiático.

Os mosquitos que transmitem o parasita resistente têm, além disso, a tendência para atacar em espaços abertos, limitando a estratégia de controlo do vetor com base em redes ou inseticidas.

Em comunicado, a revista Nature Communications assinala que o estudo "não demonstra que os mosquitos infetados podem efetivamente transmitir a doença para os seres humanos", mas há a "possibilidade dos parasitas resistentes à artemisinina se propagarem para além do Camboja até África, o que vai representar um desafio significativo para a erradicação da malária".