Até ao momento, foi o continente europeu a pagar o preço mais alto pela doença, respondendo por quase dois terços das 164.000 mortes em todo mundo.

A Itália é o país mais afetado (23.660 mortes), seguida de Espanha (20.453), França (19.718) e Reino Unido (16.060), de acordo com um último balanço da epidemia estabelecido com base em fontes oficiais.

Com 135.000 casos identificados e cerca de 4.000 mortes, a pandemia está "sob controlo e manejável" na Alemanha, julgaram as autoridades, que autorizaram a reabertura de lojas com área inferior a 800 metros quadrados esta segunda-feira.

"Orgias de discussões"

Mercados, livrarias, oficinas mecânicas, lojas de roupas e outras lojas passam a receber clientes. O federalismo leva a que a medida seja aplicada de maneira significativamente diferente nas 16 regiões estaduais do país e muitos estabelecimentos comerciais ainda permanecerão fechados na capital Berlim.

Na cidade de Leipzig, Manuel Fischer, dono de uma boutique de moda, disse estar "incrivelmente feliz" por reabrir o seu negócio, enquanto carrega os manequins para o terraço sob o sol da primavera.

Já locais culturais, bares, restaurantes parques, ou áreas desportivas, permanecerão fechados. Grandes aglomerações, como espetáculos ou competições desportivas continuam proibidas até pelo menos 31 de agosto.

As escolas retomarão gradualmente as suas atividades a partir de 4 de maio. Continuam proibidos encontros com mais de duas pessoas, uma distância mínima de 1,5 metros deve ser observada em locais públicos, e o uso de máscara é "altamente recomendado". A situação permanece "frágil", alertou a chanceler Angela Merkel.

Nesta segunda-feira, ela também não escondeu a sua irritação com as "orgias de discussões" no país sobre um possível desconfinamento total e o crescente desrespeito, segundo ela, pelas regras de distanciamento social.

Essa estratégia para sair da crise, implementada pela Alemanha, o motor económico do Velho Continente, é observada com atenção por uma Europa que vive confinada há quase um mês.

Reencontrar amigos

O desafio é enorme: relançar progressivamente a atividade, contendo a impaciência de populações confinadas, até os riscos de explosão social, evitando um possível ressurgimento do vírus e preservando os sistemas de saúde saturados.

Sinal da emergência económica, o Banco da Espanha prevê para 2020 uma queda vertiginosa por causa da pandemia, "sem precedentes na história recente": de 6,6% a 13,6% do PIB da quarta economia da zona do euro.

A vizinha Áustria permitiu na última terça-feira a reabertura de pequenos comércios e de jardins públicos. A Noruega começou a reabrir as suas creches esta segunda-feira, o primeiro passo na suspensão lenta e gradual das restrições decretadas em meados de março. Silje Skifjell deixou os seus dois filhos, Isaak e Kasper, numa creche no norte de Oslo, com o mais velho "muito feliz por encontrar ps seus amigos".

A Albânia autorizou a retomada da atividade económica em cerca de 600 setores, incluindo agricultura, pecuária, produção de alimentos, mineração, indústria têxtil e pesca.

França, Espanha e Itália, que registam um declínio no número de pacientes e de óbitos, também estão a preparar-se para as primeiras medidas de desconfinamento.

"Mitsu mitsu"

"Teremos que aprender a conviver com o vírus", alertou o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, no domingo à noite. Criticado por ter demorado a generalizar os testes e a obrigar o uso de máscara, o Executivo francês está a trabalhar num desconfinamento muito progressivo a partir de 11 de maio.

Em Itália, as primeiras medidas não serão tomadas antes de 3 de maio, disseram as autoridades. Mas, pouco a pouco, as empresas reabrem, mesmo que de forma parcial e com muitas precauções.

Em Espanha, 399 mortes foram registadas nas últimas 24 horas, contra 410 no dia anterior, os números mais baixos em quatro semanas, anunciou o Ministério da Saúde nesta segunda-feira.

O necrotério improvisado em uma pista de patinagem em Madrid, que simbolizava a hecatombe, será fechado na quarta-feira e, a partir de 27 de abril, as crianças, estritamente confinadas desde meados de março, poderão sair para tomar ar fresco.

Em contrapartida, no Reino Unido, a contenção introduzida a 23 de março foi estendida por pelo menos três semanas na quinta-feira. O governo ainda não planeia uma saída.

No Japão, que agora tem o maior número de casos na Ásia, depois da China e da Índia, os médicos soaram o alarme. Apesar do estabelecimento do estado de emergência, o número de casos registados ultrapassou os 10.000 neste fim de semana.

Efeito colateral nas redes sociais, as mensagens quase diárias da governadora de Tóquio a pedir distanciamento inspiram manga, música e até mesmo um videojogo. O jogo adota a palavra "mitsu", que descreve lugares confinados.

"A luta continua"

Nos Estados Unidos, onde uma queda de braço opõe o presidente Donald Trump, que defende uma rápida retomada da atividade económica, a vários governadores democratas, o governador do estado de Nova Iorque, centro da epidemia, anunciou que a pandemia iniciou uma curva "descendente".

No domingo (19), porém, a marca de 40.000 mortos foi ultrapassada em todo país, de acordo com a contagem da universidade americana Johns Hopkins.

Após a Páscoa cristã e judaica, o mundo muçulmano prepara-se este ano para o Ramadão num Médio Oriente com confinamento generalizado: da Arábia Saudita a Marrocos, passando por Egito, Líbano e Síria. "Os nossos corações choram", lamenta o muezim da Grande Mesquita de Meca, a cidade sagrada do Islão.

Em África, onde a marca de mil mortos foi ultrapassada este fim de semana, confrontos violentos ocorreram no domingo à noite em vários distritos da capital do Níger, Niamey. Moradores contrários ao toque de recolher e à proibição de orações coletivas enfrentaram a polícia em protesto.

Com gritos de "a luta continua", "não recuem", os manifestantes queimaram pneus e ergueram barricadas nas ruas.

Para o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves le Drian, a COVID-19 exacerba as "fraturas" globais e a rivalidade sino-americana. "O meu medo é que o mundo de amanhã se pareça furiosamente com o mundo antes, mas pior", previu ele em entrevista ao jornal Le Monde.

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