Embora estejamos perante um microrganismo desconhecido até há 2 anos e que já nos surpreendeu várias vezes, a evolução do SARS-CoV-2 no sentido de um aumento da sua infecciosidade e uma diminuição da gravidade da doença que provoca tem de ser vista como natural. Um vírus para ter sucesso necessita de ter uma capacidade eficaz de penetração e replicação celular e de hospedeiros para se disseminar, como tal, não tem qualquer ganho em lesar e muito menos anular o hospedeiro.

Um aumento da capacidade de penetração e replicação celular leva necessariamente ao aumento da competitividade de determinada variante e é isto que estamos a observar neste momento com a variante Omicron a tornar-se predominante e a substituir a variante Delta, que por sua vez já tinha, pelo mesmo motivo, substituído a variante Alfa.

No entanto, por vezes temos alguma dificuldade na avaliação precisa das características de determinada variante, dado que é esta a primeira pandemia em que alteramos de forma significativa o comportamento normal de um vírus ao reduzir a sua transmissibilidade através de medidas de confinamento rigoroso e pela administração massiva de vacinas.

Assim ao detetarmos uma menor gravidade global da doença provocada por determinada variante, temos muitas vertentes em presença para conseguir isolar de forma precisa a ação da mesma. Por outro lado, também não nos pode surpreender que as variantes que forem surgindo sejam menos sensíveis à vacina, dado que essa característica aumenta a sua competitividade, tendo as doses administradas que ser adaptadas às variantes que forem surgindo para manter uma eficácia elevada.

Habitualmente, a presença simultânea de várias variantes não se tem verificado, excetuando o período de transição em que uma variante demora a substituir de forma definitiva a anterior, como acontece no momento atual com a variante Omicron a substituir a variante Delta.

Uma pergunta recorrente é sobre a possibilidade de alguém em presença de duas variantes poder ser infetado por ambas. Essa possibilidade existe, tendo, no entanto, sido reportada muito raramente e em indivíduos com maior risco de serem infetados como por exemplo na presença de imunodepressão. Por outro lado, os casos reportados não demonstraram um aumento da gravidade da doença neste cenário.

Perante um contexto de uma variante com maior capacidade de infeção e em ambientes com presença de um maior número de pessoas, como são os que se geram habitualmente nesta altura do ano, devem ser usadas todas as armas que temos à nossa disposição para minimizar o risco, como a testagem prévia efetuada de forma rigorosa.

As medidas que contrariam a transmissibilidade como o uso de máscara, o distanciamento e a desinfeção das mãos deverão estar sempre presentes.

Subjacente a isto, o cumprimento do plano de vacinação, para o que é necessário o avanço mais célere da administração da dose de reforço, é a medida mais importante para diminuir de forma significativa a gravidade da doença, em caso da ocorrência de infeção.

Um artigo do médico António Morais, Professor Universitário, Pneumologista e Presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.

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