A ideia foi transmitida à agência Lusa por Maria de Jesus Moura, diretora da unidade de psicologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa e que vai abordar o “impacto da doença na vida de um adolescente” no 3º Seminário de Oncologia Pediátrica que decorre em Lisboa, a 11 de fevereiro.

A especialista chama a atenção para o facto de a maioria dos adolescentes não ter contacto com doenças crónicas ou crónicas e complexas. “A experiência que têm de saúde e doença é distinta e mais associadas a anginas ou otites”, disse.

Para Maria de Jesus Moura, “é preciso ajudar a compreender que um adolescente já percebe a doença, mas também precisa de tempo para integrar as mudanças que vão ocorrer na sua vida”. E são muitas e numa altura complicada da vida. “Em criança, esperamos que a curva da autonomia seja exponencial, mas a doença vem trazer uma dependência súbita”, disse.

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De repente, adiantou, “estes jovens ficam dependentes”. A doença também se avista como “um corte, a começar pelo ambiente escolar, numa altura em que mais precisam de estar com o grupo, de se envolver, de se sentirem integrados”.

Isolamento comum na adolescência

A especialista ressalvou ainda que a vivência de uma doença como o cancro na adolescência “faz a diferença”, pois esta é a altura em que os jovens mais se isolam, mais estão fechados sobre si próprios, a chamada idade do armário”, que chega entre os 13 e os 14 anos nas raparigas e os 15 e 16 anos nos rapazes. As equipas e famílias têm de encontrar estratégias integradas para lidar com a doença, pois “a adolescência é um mundo”.

Maria de Jesus Moura revelou que aos profissionais de saúde cabe transmitir várias mensagens. Primeiro, responsabilizar o adolescente para as questões de saúde. “Se não gostam de ser tratados como crianças, então devemos explicar-lhes que a adesão à terapêutica é importante e responsabilizá-los por isso”.

Por outro lado, o objetivo das equipas é “normalizar o mais possível a vida destes jovens”. “A doença é uma área da vida de uma pessoa, mas a pessoa é muito mais do que estar doente”, frisou. E essa normalização deve passar por “maiores desafios: manter os hobbies, que às vezes têm de estar adaptados, manter as tarefas académicas, dar sentido de continuidade dos projetos e manter contactos com os outros”.

O outro, e maior propósito, destes profissionais que lidam com estes doentes é “o profundo respeito por esta etapa”.

O 3º Seminário de Oncologia Pediátrica para Pais, Familiares e Amigos de crianças e adolescentes com cancro é promovido pela Fundação Rui Osório de Castro e vai decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Neste seminário será anunciado o primeiro vencedor do Prémio Rui Osório de Castro/Millennium BCP, uma iniciativa que irá premiar com 15 mil euros um projeto que promova a melhoria dos cuidados prestados a crianças com doença oncológica.