Todos os dias 12 portugueses são diagnosticados com Cancro do pulmão e 11 morrem pela doença. O cancro do pulmão continua a demonstrar uma taxa de sobrevivência muito baixa, sendo a probabilidade de sobreviver de apenas 15% cinco anos após diagnóstico.

Falámos com Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão.

Porque é essencial termos um rastreio nacional do cancro do pulmão?

O cancro do pulmão continua a ser a doença oncológica que mais mortes provoca em Portugal e na União Europeia.

Em Portugal, o diagnóstico continua o ocorrer em mais de 60% numa fase avançada da doença o que se traduz numa taxa de mortalidade e custos de tratamento elevados.

A existência de um rastreio nacional para o cancro do pulmão assume-se da maior relevância para aumentar o diagnóstico precoce, naturalmente com um melhor prognóstico para os doentes.

O que está a travar a sua implementação?

Há muitos anos que se estuda a melhor forma de efetuar este rastreio. Decorreram vários estudos que conduziram à metodologia hoje em dia seguida.

Foi fundamentalmente em 2020 e 2021, nomeadamente com o Estudo Nelson, que passou a existir um consenso alargado sobre o custo efetividade de este rastreio através de uma TC de baixa dose e que se estendeu a sua implementação a um numero alargado de países.

Atualmente a comissão Europeia acabou de incluir este rastreio nas recomendações sobre rastreios no âmbito dos planos nacionais Oncológicos.

Trata-se de um rastreio que exige a congregação de bastantes recursos, desde logo, equipas multidisciplinares, profissionais qualificados e equipamentos dispendiosos.

Implica ainda estar assegurada uma correta referenciação para que todos os participantes no rastreio com achados no TAC sejam atempadamente seguidos e tratados.

O rastreio do cancro do pulmão só será realidade com uma mudança das prioridades estratégicas a nível dos decisores em saúde, em que se passe a considerar a deteção precoce e tratamento em fase inicial do doente um ganho em saúde e não mais um custo a acrescer.

Quais são os principais sinais e sintomas desta doença?

Os principais sinais e sintomas do cancro do pulmão vão desde a falta de ar, a tosse persistente ou com expectoração com sangue, dor no peito, infeções respiratórias repetidas, rouquidão, fadiga.

No entanto, muitos destes sinais são comuns a outras patologias e quando surgem, num fumador, são muitas vezes associadas ao próprio consumo de tabaco.

Mas importa ainda realçar que muitas vezes são impercetíveis ou leves e como tal desvalorizados, o que induz a um diagnóstico em fase avançada onde existem sintomas de outra natureza.

Que sinal nos deve fazer procurar um médico?

Desde logo perante um dos sintomas já referidos.

Sabemos que o tabagismo é um dos principais fatores de risco do cancro do pulmão, mas não é o único. Quais são os outros?

O tabagismo é o principal facto de risco , constituindo assim a sua principal causa evitável, estimando-se que seja responsável por mais de 80% dos casos detetados.

A poluição atmosférica, a exposição a certos materiais, como: radão e amianto, e a determinados agentes cancerígenos, são os outros principais fatores de risco conhecidos.

O cancro do pulmão pode ser genético?

Há situações em que ocorreram vários casos de cancro do pulmão em membros da mesma família e que têm estado a ser estudados, como em mulheres não fumadoras, mas em que se terá concluído, desde início, a exposição a determinados fatores de risco, com ao gás radão. Não existindo ainda dados definitivos, continua-se a efetuar estudos sobre essa possibilidade

Muitas vezes confunde-se, na população, o cancro do pulmão com metástases pulmonares. São coisas diferentes, certo?

Cancro do pulmão e metástases pulmonares são duas coisas diferentes, por vezes confundida pela população.

Cancro do pulmão é um carcinoma pulmonar, isto é, com origem no pulmão.

Metáteses pulmonares correspondem a tumores originados noutros órgãos, tais como: mama, rim, ou outros.

Por que motivo a taxa de sobrevivência do cancro do pulmão a cinco anos é tão baixa (cerca de 15%)? Quais os principais fatores a concorrer para esse resultado?

A taxa de sobrevivência do cancro do pulmão a 5 anos, embora com melhoria ao longo dos últimos anos, continua francamente baixa e aquém do que seria desejado.

O diagnóstico da doença em fase avançada justifica essa situação, associando esta patologia a um peso de morbilidade e mortalidade elevados e a um custo igualmente elevado a nível do tratamento.

É possível intervir e salvar mais vidas?

Como prioridades elencaria:

Desde logo investindo na prevenção, associada maioritariamente a uma causa conhecida.

Efetuado o diagnóstico precoce onde a implementação do rastreio de base populacional assumirá papel fulcral.

No que toca ao acesso a tratamentos, qual a situação de Portugal?

A nível dos tratamentos não somos o país com o acesso mais rápido à inovação. No entanto, não será ao nível do tratamento propriamente dito que comparamos pior com outros países congéneres. O panorama da saúde doença em Portugal só se tornara sustentável no tempo, e trará ganhos em saúde à população, quando ocorrer uma mudança de paradigma, privilegiando o bem-estar dos cidadãos, a prevenção, o diagnóstico precoce e a correta articulação entre os vários agentes na resposta dos cuidados de saúde.

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