Apesar da evolução terapêutica vivenciada nos últimos anos, com o desenvolvimento de terapêuticas alvo e imunoterapia, o cancro do pulmão continua a ser a principal causa de morte por cancro em Portugal, na Europa e no Mundo.

Em Portugal, a cada dia, 15 pessoas recebem um diagnóstico de cancro de pulmão, ao mesmo tempo que 13 pessoas morrem com a doença. Números que a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirma, revelando que em 2020 Portugal registou cerca de 5.415 novos diagnósticos de cancro do pulmão e a perda de 4.797 vidas pela doença.

Esta mortalidade elevada explica-se pelo diagnóstico numa fase avançada da doença, que acontece em mais de metade dos doentes. Pelo contrário, se detetada numa fase precoce, a sobrevivência à doença é cerca de oito vezes superior. Da mesma forma que, quanto mais localizado no momento do diagnóstico, melhor será o prognóstico. A título de exemplo refira-se que quando o tumor apresenta até 2cm e não atinge gânglios ou outros órgãos, a expetativa é de cinco anos após o tratamento, oito doentes em cada dez continuem a viver.

Como conseguir o diagnóstico numa fase mais precoce?

Procurar o médico é fundamental, o melhor a fazer quando existem sinais ou sintomas de alerta. De futuro, sem dúvida, que será a realização de um rastreio.

Os sintomas mais frequentes que justificam uma ida ao médico incluem tosse recorrente, sangue na expetoração, falta de ar, infeções respiratórias frequentes, alterações da voz, cansaço, perda de peso inexplicada e dor no peito ou no ombro.

Numa fase já avançada, os doentes com cancro do pulmão podem apresentar crescimento de células cancerígenas em diversos órgãos, como o cérebro, o fígado e ossos, e a presença destas metástases degrada a qualidade de vida. Por exemplo, a presença de lesões cerebrais pode causar confusão, lentificação, alterações da fala, desequilíbrio e crises convulsivas.

Numa fase inicial, a doença pode ser assintomática ou manifestar-se de forma inespecífica, explicando a procura tardio do médico. Na população de maior risco, o rastreio com TAC (tomografia computorizada) torácica de baixa dose permite detetar a doença numa fase precoce e assintomática.

Foram realizados diversos estudos sobre a realização de rastreio de cancro do pulmão através de TAC torácica, em populações de alto risco, e confirmaram que a redução da mortalidade ultrapassa 20%. Os dois principais estudam são o NLST (National Lung Screening Trial) e o NELSON (Nederlands–Leuvens Longkanker Screenings Onderzoek), que incluíram 53 454 e 15 789 pessoas, respetivamente. Perante estes resultados, a Comissão Europeia recomendou, em 2022, a implementação de rastreio do cancro do pulmão com TAC torácica de baixa dose a fumadores ou ex-fumadores com uma elevada carga tabágica.

A  PULMONALE (Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão) realizou o desenho de um projeto piloto de cancro do pulmão seguindo os critérios do estudo NELSON. Assim, pretende incluir pessoas com alto risco para cancro do pulmão tendo em conta a história tabágica, doença pulmonar crónica, exposição a carcinogéneos ou história familiar, e com idade compreendida entre os 50 e os 75 anos. A TAC torácica de baixa dose deverá ser realizada ao início do rastreio, repetida um ano após, e depois de dois em dois anos até completar quatro exames.

É possível evitar a doença?

Sim. Estima-se que cerca de 85% dos cancros do pulmão em homens e 47% nas mulheres sejam causados pelo consumo tabágico. Outros fatores de risco são a exposição a poluentes e substâncias como o rádon, amianto, a existência de outras doenças nomeadamente pulmonares (como por exemplo, a fibrose pulmonar) e a infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH).

É importante recordar que o cancro do pulmão também pode surgir em não fumadores, daí que seja tão importante que mesmo não fumadores estejam sensibilizados para os sinais de alarme

Se suspeita que pode ter cancro do pulmão, o que fazer?

Na presença de sinais ou sintomas recorra ao médico, e recorde que muitos dos sintomas são inespecíficos e podem estar associados à presença de outras doenças que não o cancro do pulmão. Será necessário realizar exames. O tratamento do cancro do pulmão é multidisciplinar e tem vindo a conquistar uma grande evolução nos últimos anos, tanto na abordagem da doença localizada, como na avançada/metastizada.

A fixar:

  • O rastreio do cancro do pulmão permite o seu diagnóstico precoce, antes do aparecimento de sintomas, e reduz a mortalidade em pelo menos 20%.
  • A evolução registada nos últimos anos trouxe novas opções terapêuticas.
  • É essencial que na presença de sinais e sintomas recorra ao seu médico.
  • O cancro do pulmão tem um enorme impacto na sobrevivência e qualidade de vida, que podemos prevenir – sobretudo não fumando. A consciencialização deste facto é a melhor estratégia, aliada à atenção aos sinais de alarme.

Um artigo de opinião da médica oncologista Fernanda Estevinho.