Com o aparecimento de infeções pelo novo coronavírus, vários produtos escassearam no mercado cabo-verdiano. E, estando a pesquisar sobre a doença, a bióloga Diara Kady Rocha procurou uma solução para uso pessoal, mas apercebeu-se que tal não havia na ilha de São Vicente.
Daí, a necessidade aguçou o engenhou e fez um desinfetante para uso pessoal, mas rapidamente começou a produzir para oferecer a amigos, e já chegou a algumas instituições nessa ilha, como a Casa da Sopa da Igreja do Nazareno.
“Estou a fazer isso não em troca de dinheiro. Esta é uma iniciativa voluntária para quem não pode comprar”, explicou a investigadora, indicando, inclusive, que já contactou a Câmara Municipal de São Vicente, no caso de precisar para as suas instituições sociais.
Começou há pouco mais de uma semana a produzir 250 mililitros (ml), mas dada a procura, só na segunda-feira produziu mais de cinco litros do desinfetante, que segue os protocolos da Organização Mundial de Saúde (OMS), disse à Lusa.
Para produzir o desinfetante para as mãos, a bióloga usa álcool, água oxigenada, glicerol e água, colocando depois o produto em frascos que são selados com ‘parafilm’, uma película flexível usada principalmente em laboratórios, e a tampa do recipiente.
Diara Rocha já endereçou uma carta à entidade reguladora da saúde de Cabo Verde, a sugerir que as instituições que fazem produção a nível comercial incluam esta receita, como uma “mais-valia”.
“Porque é uma coisa que se produz mais rápido do que o comercial álcool gel, mas isso já é da competência deles analisarem. Disseram que estão a analisar esta proposta”, disse a também professora universitária, que garante todos os critérios de segurança na preparação do produto.
Para a bióloga cabo-verdiana, este produto poderá ser ainda uma mais-valia em África, onde muitos países, tal como Cabo Verde, enfrentam escassez de água, pelo que o país poderá fornecer não só álcool gel, como outros desinfetantes.
Até agora, Diara Rocha notou que as pessoas ficam “agradecidas” pela oferta e, depois de uma notícia num órgão de comunicação social cabo-verdiano, foi felicitada pela Fundação Calouste Gulbenkian, onde foi aluna bolseira do doutoramento.
“Tem sido gratificante, de certa forma. Do meu ponto de vista pessoal, é uma forma de ajudar, colaborar, fazer alguma coisa e não ficar de braços cruzados perante uma coisa que sei fazer”, salientou a cientista cabo-verdiana, que pede frascos vazios para colocar o produto.
E, depois do desinfetante, Diara Rocha não quer parar por aqui.
“Agora estou a pensar nas máscaras”, avançou à Lusa, dizendo que já tem algumas diretrizes dos centros de prevenção, sobre os modelos, e gostaria que as máscaras caseiras fossem uniformizadas, para não ser cada um a fazer a sua invenção.
“Já fiz uma proposta à Uni-CV [Universidade de Cabo Verde] e agora aguardo o ‘feedback'”, prosseguiu a bióloga, referindo que a ideia será envolver costureiras, que por algum motivo já não estão no ativo, bem como os estudantes de Educação Artística.
“São coisas simples, e estando de quarentena, é uma forma de nos sentirmos úteis ao fazer coisas para os outros, sem estar a pensar em dinheiro, porque nesses tempos nós temos de pensar em questões humanitárias e rever os nossos valores”, salientou a docente na Faculdade da Educação e Desporto (FaED) da Uni-CV no Mindelo.
Diara Rocha é licenciada em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, mestre na área de Produção Agrícola Tropical e doutorada em Ciências Biomédicas, área de Parasitologia, tendo trabalhado muitos anos em Saúde Pública e Medicina Tropical.
Cabo Verde regista sete casos do novo coronavírus, um deles na ilha de São Vicente e os restantes nas ilhas da Boa Vista e de Santiago.
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