Durante um processo de fertilidade, quais são os desafios emocionais que os casais podem enfrentar?

Quando um casal opta pela reprodução medicamente assistida (PMA), é habitual já ter enfrentado um período de tentativas frustradas para engravidar, o que traz consigo uma carga emocional significativa. Trata-se muitas vezes de uma "última esperança" para concretizar o sonho da parentalidade, o que significa que este percurso já começou muito antes da entrada na clínica.

Ao longo deste processo, os principais desafios emocionais podem incluir: ansiedade (sobretudo a antecipatória) e depressão; stress físico e emocional; impacto na relação conjugal – é um processo que pode afetar a intimidade, a comunicação e a dinâmica do casal; sentimentos de culpa e de inadequação e isolamento social.

Durante os tratamentos de PMA, é frequente que o casal concentre grande parte da sua energia no processo médico, deixando de lado outras áreas da vida. Por isso, é fundamental promover estratégias de suporte emocional, manter uma rede de apoio ativa e criar espaço para o autocuidado. O acompanhamento psicológico pode ajudar a encontrar esse equilíbrio, proporcionando um lugar seguro para expressar emoções, lidar com frustrações e reforçar a ligação afetiva do casal.

É preciso preparação? O que é que convém ter em conta antes de se abraçar este processo que também pode ser longo?

A preparação, em muitos casos, pode fazer toda a diferença — não só a nível físico e médico, mas também emocional e relacional. A decisão de avançar com um processo PMA deve ser acompanhada de informação clara, expectativas realistas e um espaço de escuta entre o casal.

Alguns pontos que podem ser essenciais a ter em conta antes de iniciar este percurso:

  • O processo pode ser mais longo do que o esperado e imprevisível – É importante saber que os resultados nem sempre são imediatos. Pode ser necessário repetir tentativas, ajustar o plano inicial e enfrentar momentos de espera. Esta imprevisibilidade pode ser frustrante, por isso é essencial gerir bem as expectativas desde o início.
  • Os tratamentos têm impacto físico e emocional – As alterações hormonais, os exames, as intervenções médicas e o cansaço acumulado afetam tanto o corpo como o estado emocional. Estar consciente dos desafios e preparar algumas estratégias de coping pode fazer toda a diferença.
  • A importância de comunicar em casal – Cada elemento do casal vive este processo de forma diferente. Ter espaço para expressar o que se sente, sem julgamentos, é fundamental para manter a ligação e o apoio mútuo.
  • A pressão externa existe — e é preciso saber colocar limites – Comentários de amigos, familiares ou colegas podem ser bem-intencionados, mas por vezes tornam-se invasivos. Preparar-se para lidar com essas situações ajuda a reduzir o stress adicional. Isso não significa isolar-se, mas sim estabelecer limites claros e saudáveis.
  • O apoio psicológico pode fazer a diferença – Ter um espaço terapêutico durante este processo não é sinal de fraqueza, mas sim de cuidado. A psicologia pode ser uma ferramenta importante para lidar com a ansiedade, o medo do fracasso, as decisões difíceis e os momentos de espera — tornando o percurso mais consciente e com mais recursos internos.

Em suma, iniciar um processo de fertilidade exige mais do que o desejo de ser pai ou mãe. Exige preparação, suporte e disponibilidade para cuidar não só da fertilidade, mas também da saúde emocional em todas as fases do caminho.

É fundamental desconstruir a ideia de que tudo depende do corpo da mulher

É provável que as mulheres sintam uma maior pressão ou responsabilidade por parte do processo ser através do seu corpo, porém, os resultados não vão depender apenas dela. O que é que importa esclarecer para que as mulheres não sintam tanta culpa no caso de chegar um resultado negativo?

É verdade que, por ser o corpo da mulher a receber grande parte dos tratamentos, esta sinta uma maior responsabilidade — e, em caso de insucesso, até culpa. Mas é essencial reforçar que a fertilidade é um processo partilhado e complexo, com muitos fatores envolvidos, muitos dos quais estão fora do controlo de qualquer um dos elementos do casal. É fundamental desconstruir a ideia de que "tudo depende do corpo da mulher".

Um resultado negativo pode "não ser não culpa de ninguém". A fertilidade é influenciada por múltiplos fatores — biológicos, genéticos, hormonais — e, mesmo quando tudo é feito corretamente, há uma parte do processo que está fora do controlo de ambos os elementos do casal. Não há garantias absolutas, e isso precisa de ser compreendido desde o início.

O insucesso de um ciclo não define o valor pessoal, nem a capacidade de vir a ser mãe. É importante criar espaço para que estas emoções possam ser validadas e compreendidas, em vez de reprimidas. A culpa, quando surge, deve ser acolhida e desconstruída com apoio e empatia — seja do parceiro, da rede de suporte ou de um profissional de saúde mental.

Cuidar da saúde emocional ao longo do processo é fundamental para que a mulher se sinta acompanhada, compreendida e menos sozinha neste caminho tão exigente.

E como é que a mulher pode contribuir para o sucesso do processo? E o homem?

Ambos os elementos do casal têm um papel fundamental ao longo do processo de PMA, mesmo que esse envolvimento se manifeste de formas diferentes.

No caso da mulher, o corpo está naturalmente mais envolvido, mas isso não significa que o seu contributo se limite à componente física. A forma como cuida de si — física e emocionalmente — como lida com os desafios e se permite a pedir apoio, pode ter um impacto importante no bem-estar geral ao longo do processo.

O homem, por sua vez, também tem um papel ativo, não apenas na componente médica, mas sobretudo no suporte emocional, na partilha de decisões e na criação de um ambiente de confiança e segurança. O envolvimento emocional do parceiro é essencial para que o processo seja vivido em conjunto, e não apenas pela mulher.

Quando o casal está alinhado, informado e envolvido, pode existir um impacto positivo na forma como vivenciam cada etapa.

E como casal?

Como casal, é fundamental viverem este processo em conjunto — com partilha, escuta e apoio mútuo. Cada um pode sentir cada uma das etapas e os desafios de forma diferente, e é importante haver espaço para comunicar essas emoções, bem como uma aceitação sem julgamento.

Mais do que procurar um "resultado", trata-se de manterem a ligação entre si, cuidarem da relação e enfrentarem juntos um percurso que pode ser desafiante, mas também fortalecer a ligação entre ambos.

durante um processo tão exigente, a conexão dos dois pode ser o vosso grande suporte

Como é que os casais podem fortalecer a comunicação para evitar o afastamento emocional?

É verdade que o processo de PMA pode ser solitário e desgastante, mesmo quando vivido em casal. Para evitar o afastamento emocional, os casais podem adotar algumas estratégias para fortalecer a comunicação:

  • Potenciar um espaço seguro para partilha – Criar momentos específicos para falarem sobre o que cada um sente em relação ao processo, sem interrupções ou julgamentos – pode ser fundamental para validar as emoções de ambos.
  • Fazerem "check-ins" regulares – Reservar um tempo para “check-ins” semanais pode ajudar a manter a comunicação do casal. Questionarem-se sobre como cada um está a lidar com o processo e o que precisam um do outro, de modo a conseguirem expressar de forma clara as suas necessidades, evitando assim mal-entendidos e ressentimentos.
  • Ser empática – Reconhecer que cada um vive o processo de maneira única é importante. Colocar-se no lugar do outro e validar as suas emoções pode ajudar a reforçar a ligação entre ambos.
  • Procurar ter momentos de descontração – É fácil deixar que o tratamento domine a rotina. Reservar momentos para se divertir, sair ou simplesmente relaxar pode ajudar a aliviar a pressão e reforçar a conexão emocional.
  • Recorrer a apoio externo quando necessário – Um psicólogo pode proporcionar um espaço seguro e sem julgamentos, em que o casal tenha a possibilidade de explorar as suas emoções e comunicar de forma mais eficaz.

Com estas estratégias, os casais podem fortalecer a sua comunicação, minimizando o risco de afastamento emocional durante este processo desafiador.

De que forma pequenos gestos diários podem fazer a diferença na proximidade e cumplicidade do casal?

No contexto de um processo de fertilidade, os pequenos gestos diários têm um impacto profundo na proximidade e cumplicidade do casal. A rotina muitas vezes fica centrada no tratamento, o que pode criar uma distância emocional involuntária. No entanto, gestos simples e diários podem ser poderosos aliados para fortalecer a ligação entre ambos. Falamos da comunicação e da escuta ativa, sobre reflexões sobre o dia-a-dia de cada um; Atos simples, como preparar a refeição favorita do outro, deixar uma mensagem de carinho ou dar um abraço espontâneo; Criar rotinas a dois como uma caminhada após um dia mais difícil, verem um filme ou irem tomar um café de forma espontânea.

São os gestos diários que reforçam a conexão emocional que alimenta a cumplicidade e o equilíbrio no casal, porque durante um processo tão exigente, a conexão dos dois pode ser o vosso grande suporte.

a maternidade pode ser alcançada de muitas maneiras

Datas como o Dia da Mãe, que nos recordam a "beleza" e a "magia" de ser mãe ou de gerar uma vida, podem impactar com as emoções das mulheres que estão em tratamento de fertilidade. Que mensagem devemos transmitir a estas? E como é que os parceiros podem apoiar de forma que a mulher não se sinta sozinha?

Datas comemorativas, em particular O Dia da Mãe é, sem dúvida, uma data carregada de significados profundos e, para muitas mulheres em tratamento de fertilidade, pode ser um momento de intensas emoções. Para aquelas que ainda não conseguiram realizar o sonho da maternidade, este dia pode gerar sentimentos de tristeza, frustração, raiva ou até de inadequação.

A mensagem que acredito que devemos transmitir é de empatia, compreensão e acolhimento. É fundamental relembrar que o caminho para a maternidade é único para cada mulher e que ela não está sozinha nesse percurso. O apoio emocional e a validação dos sentimentos são essenciais, assim como reforçar que a maternidade pode ser alcançada de muitas maneiras, e que esta jornada, com todos os seus altos e baixos, faz parte de uma experiência que ultrapassa este momento específico - reforçando que o valor de uma mulher não é, nem deve ser nunca definido pela capacidade de engravidar.

Falta ressalvar que os parceiros naturalmente também podem sofrer nestas datas, que não são exclusivas da mulher, até porque os relembra deste sonho tão desejado, mas que ainda não foi alcançado. Os parceiros acabam por ter um grande papel de suporte ao longo de todo o processo, reforçando apenas que nunca devem negligenciar a sua necessidade de apoio.

Os parceiros podem demonstrar o seu apoio de várias formas, por exemplo: oferendo apoio através da escuta ativa e empática, em que as palavras não são sempre necessárias, por vezes a presença e o apoio silencioso podem ser altamente significativos; mesmo sem uma gravidez este momento que pode ser de reflexão e ajudar a reconhecer e valorizar o processo único do casal, na construção da sua própria família; sempre que possível evitar comparações, que não são úteis nem justas; e até planear alguma atividade de lazer que possa trazer alguma leveza ao momento, e alivar a pressão emocional associada a esta data.

Neste dia, mais do que focar apenas na maternidade, é importante reforçar a valorização do ser feminino em todas as suas dimensões e papéis, e reconhecer a força e resiliência que o processo de fertilidade exige.

uma mulher não se resume nunca à sua capacidade reprodutiva

Que impacto os processos de fertilidade podem ter na autoestima e identidade da mulher?

Os processos de fertilidade podem afetar profundamente a autoestima e a identidade da mulher. A infertilidade pode potenciar sentimentos de inadequação, culpa e diminuição do valor pessoal, especialmente quando a maternidade é vista como parte integrante da identidade feminina. Esses sentimentos podem ser exacerbados por pressões sociais e culturais. É crucial reconhecer e abordar essas emoções, promovendo uma autoimagem positiva e reforçando que a capacidade de ser mãe não define o valor ou a identidade de uma mulher.

Falamos de:

  • Mudanças na imagem corporal: As alterações hormonais, a recuperação de alguns procedimentos e até mesmo a preocupação constante com o sucesso do tratamento podem afetar a perceção da própria imagem.
  • Sentimentos de inadequação: Quando o sonho da maternidade não se concretiza num tempo esperado, a mulher pode começar a questionar a sua própria capacidade, o que pode levar a sentimentos de inadequação e culpa.
  • Desconexão com a própria identidade: A fertilidade muitas vezes é um pilar importante na identidade da mulher, e o desafio para conseguir engravidar pode fazer com que se sinta perdida, questionando o seu propósito. Algo que deve ser desmistificado.

É fundamental trabalhar a autoestima durante este período, focando não apenas no sucesso do tratamento, mas também no cuidado da mulher como um todo, envolvendo todas as esferas e papéis que desempenha na sua vida – uma mulher não se resume nunca à sua capacidade reprodutiva, e pode ser necessário em consulta de psicologia, por exemplo, voltar a encontrar diferentes propósitos e uma valorização das suas diferentes capacidades, bem como, outros objetivos de vida que lhe darão novas motivações.

Que estratégias podem ajudar as mulheres a manterem a sua saúde mental e emocional durante os tratamentos?

Cuidar da saúde mental e emocional durante os tratamentos de fertilidade é fundamental, pois pode existir um desgaste significativo. Algumas das estratégias que podem ser úteis:

  • Autocuidado e limites saudáveis: Estabelecer limites para evitar a sobrecarga emocional e física é essencial – como por exemplo, situações ou conversas que possam ser gatilhos de stress, comunicando claramente as suas necessidades aos outros. Reservar tempo para atividades que lhe proporcionem prazer, como hobbies, meditação ou até momentos de descanso, bem como não descuidar das rotinas essenciais ao bem-estar, sono, alimentação equilibrada, atividade física e promover atividades sociais.
  • Apoio psicológico: O acompanhamento psicológico pode ser uma ferramenta muito útil para lidar com a tomada de decisões, reflexões sobre possíveis desafios, frustrações, medos e a ansiedade antecipatória, quer seja previamente aos tratamentos ou na espera pelos resultados, bem como gerir outras emoções presentes durante e após os tratamentos. É importante ter um espaço onde possa expressar os seus sentimentos sem receio de julgamento, e sem colocar limites à exploração dos mesmos.
  • Gerir e redefinir expectativas realistas: É importante ajustar as expectativas em relação ao processo, compreendendo que a fertilidade e os seus tratamentos são um caminho imprevisível, o pode ajudar a reduzir a pressão que os casais colocam em si mesmos.
  • Rede de apoio: Ter uma rede de apoio composta por amigos e familiares que possam oferecer suporte emocional, sem pressão ou julgamentos.
  • Práticas de relaxamento e mindfulness: Técnicas de relaxamento, como yoga, meditação ou respiração profunda, podem ajudar a reduzir o stress e aumentar o bem-estar emocional.
  • Grupos de apoio: A partilha de experiências com outras pessoas que experienciam desafios semelhantes pode ajudar a que não se sinta tão isolados, e encontrem alguma validação e compreensão.

Estas estratégias não ajudam apenas a manter uma estabilidade emocional, mas também contribuem para uma melhor gestão de todo processo, com os seus altos e baixos.

apoio da rede social deverá ser compassivo e discreto

E como quem está a volta pode ajudar?

A rede de apoio desempenha um papel fundamental no apoio aos casais em processo de tratamentos de fertilidade. No entanto, é importante que os mesmo sejam sensibilizados e informados quanto à melhor maneira para o fazer, idealmente um apoio de forma sensível e empática, respeitando o espaço e as necessidades do casal, como seres individuais e em conjunto. Diria que na base do apoio estará:

  • Escuta ativa e empática: Muitas vezes o casal pode precisar de alguém para que os ouça, sem julgamentos ou tentativas de "resolver" o problema. Ouvir com empatia, sem oferecer soluções imediatas, permite que a pessoa se sinta compreendida e apoiada.
  • Evitar pressões, perguntas invasivas e comentários desnecessários: Embora bem-intencionados, comentários como "tens de ter calma, vai correr tudo bem", ou "há sempre uma solução, não podes pensar no pior", podem ser sentidos como minimizadores da dor e da frustração que o casal está a viver. O apoio deve ter enfoque no presente, e não na resolução, até porque não fará sentido dar falsas expetativas ou arriscar passar mensagens que estão fora do nosso conhecimento.
  • Respeitar o espaço emocional e os limites estabelecidos: O processo de fertilidade pode ser exaustivo, e a necessidade de espaço emocional pode surgir. Oferecer ajuda de maneira discreta, sem invadir a privacidade ou forçar o contato, ajuda a garantir que a pessoa se sinta acolhida, mas não pressionada.
  • Proporcionar momentos de descontração: Estar ao lado de quem vive o processo de fertilidade também pode envolver criar momentos de distração e alívio do stress. Às vezes, um passeio, um jantar de amigos, ou uma conversa leve podem ser uma grande ajuda a que nem tudo esteja focado nesta problemática que em grande parte já ocupará muito da vida destes casais.
  • Encorajar o autocuidado: Quando o casal ou um dos membros em específico está focado no tratamento, pode negligenciar sem se aperceber alguns aspetos - os amigos e familiares podem incentivar, sem forçar, atividades que promovam o bem-estar.

O apoio da rede social deverá ser compassivo e discreto, com base no respeito do outro e das suas necessidades emocionais. Essencialmente, dar apoio enquanto amigo ou familiar é estar disponível, sem julgamentos, e proporcionar um espaço em que o casal quando sentir necessidade possa sentir-se seguro e acolhido. Sendo que não são profissionais, muitas vezes também não saberão exatamente o que fazer em certas situações, e é importante terem abertura para o verbalizar e para perguntarem "o que precisam?" ou "como posso ajudar?".

E de que forma a mulher pode expressar as suas emoções ao parceiro sem sentir culpa ou receio de sobrecarregar a relação?

Pode ser frequente a mulher sentir que ao expressar o que sente está a sobrecarregar a relação, até porque as emoções podem ser intensas, sentidas por vezes como contraditórias e o processo que é a dois pode ser vivido de forma diferente. A base, é encorajar a reciprocidade, isto é, incentivar o parceiro também a expressar os seus sentimentos, para que a comunicação seja bidirecional – este é um projeto conjunto e ambos devem sentir o à vontade para se expressarem, mesmo que de formas diferentes por serem pessoas com a sua idiossincrasia.

No casal a comunicação aberta e honesta é fundamental para o bem-estar emocional de ambos. Aqui estão algumas formas que podem facilitar essa expressão:

  • Criar um espaço seguro para a partilha: A relação deve ser um espaço sem julgamentos e podem tentar criar momentos onde ambos possam falar sem pressa e favorece a abertura de cada um. Neste espaço, partilhem os vossos medos, frustrações, momentos de incerteza, sem medo de que isso sobrecarregue a relação – e escutem-se mutuamente.
  • Falar sobre o que sentem e pensam, não com enfoque nas soluções: Ter a necessidade de se expressar não significa sempre a necessidade de encontrar uma solução, a expressão é em muitos casos uma forma alívio emocional face ao que sentem e pensam. O fundamental pode ser a escuta e a validação.
  • Usar a linguagem do "eu": Ao comunicar os sentimentos e ou pensamentos, usar frases como "Eu sinto..." ou "Eu estou a viver..." em vez de "Tu achas..." ou “Tu não percebes…”, pode reduzir a sensação de que a culpa está a ser atribuída ao parceiro. Isso também promove uma comunicação mais empática e menos defensiva.
  • Aceitar a vulnerabilidade: Os membros do casal podem ter receio de mostrar a sua vulnerabilidade, como se fosse uma fraqueza e com receio de serem vistos como incapazes. No entanto, mostrar vulnerabilidade na relação pode fortalecer o vínculo. A vulnerabilidade partilhada cria um espaço de intimidade e confiança, onde ambos se sentem apoiados, não sobrecarregados.
  • Envolver o parceiro no processo emocional: Em vez de esconder ou reprimir emoções, pode-se envolver o parceiro no processo emocional. Geralmente, ao o quanto o outro nos ajuda emocionalmente, criamos uma dinâmica de reciprocidade, abertura e apoio mútuo.

A partilha de sentimentos e pensamentos face sobre esta jornada, deverá ser compreendida como oportunidade de fortalecer a relação e até conhecer melhor o outro, para que nesta situação saiam mais resilientes, e não como um peso ou uma sobrecarga.

Que ferramentas/estratégias o casal pode utilizar para equilibrar a esperança e a frustração face a resultados incertos ou negativos?

O equilíbrio entre a esperança e a frustração quanto a resultados incertos ou negativos é um dos maiores desafios durante o processo de fertilidade, e muito prevalente nas consultas de psicologia.

Algumas das estratégias que os casais podem adotar para manter o equilíbrio emocional podem passar por:

  • Definir expectativas realistas: Embora seja natural existir esperança, e positivo, é importante que o casal tenha expectativas realistas quanto ao processo e ao seu caso em particular.
  • Foco no processo e não apenas no resultado: Pode ser útil o foco ser o processo de construção da parentalidade, sem ser logo e apenas a meta final de uma gravidez bem-sucedida. Celebrar as pequenas vitórias, como avanços no tratamento, tomadas de decisão mais complicadas, ou momentos de crescimento e união como casal, proporcionando um alívio emocional e ajudando a manter a motivação.
  • Estabelecer momentos de pausa: Quando os tratamentos de fertilidade começam a dominar a vida do casal, pode ser útil fazer uma pausa. Reservar tempos de descanso, desconectarem-se dos tratamentos e focarem-se noutras áreas da vida (trabalho, lazer, amizades, entre outros), a ideia é proporcionar um equilíbrio e reduzir a frustração que se pode acumular em particular quando estamos perante tratamentos sucessivos sem o resultado esperado.
  • Reforçar a comunicação positiva: Em momentos de frustração, manter a comunicação positiva e focada compreensão mútua entre o casal - através da compreensão e validação dos sentimentos do outro, sem enveredar por julgamentos, ou por uma desesperança marcada.
  • Ter apoio psicológico: A terapia de casal ou apoio individual pode ser fundamental para que o casal consiga gerir os altos e baixos emocionais. A psicoterapia vai proporcionar ferramentas para lidar com a frustração, ansiedade, desafios e deceções, para além de ajudar a manter a esperança de uma forma equilibrada e funcional.
  • Redefinir o conceito de "sucesso": O sucesso no tratamento de fertilidade não se resume apenas ao resultado final. É fundamental reconhecer os esforços, a resiliência e o compromisso do casal durante o processo – o pode ser uma - tornando esta jornada significativa independentemente do resultado.