Dados do estudo “Os Portugueses e o Colesterol 2023”, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, indicam que cerca de oito em cada dez óbitos por causa cardiovascular, que ocorrem antes dos 70 anos, poderiam ser evitados e três em cada quatro portugueses não sabe quais os seus níveis de colesterol, desconhecimento este que se acentua nas camadas mais jovens e que intimida num período em que as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte no nosso país.

Falámos sobre este tema com a professora Ana Abreu, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal, matando mais de 30 mil portugueses anualmente. Porque é que estes números são alarmantes?

As doenças cardiovasculares mantêm uma prevalência muito elevada devido ao agravamento dos múltiplos fatores de risco como a obesidade, a diabetes, o excesso de colesterol e o tabagismo, entre outros, no contexto de uma sociedade de consumo. Deverão ser tomadas urgentemente medidas de prevenção primária (para a população) e secundária (para os doentes cardíacos) usando estratégias estruturadas e eficazes.

Em relação às populações mais jovens, como está o cenário atual das doenças cardiovasculares em Portugal? Qual a prevalência? O que nos dizem os números?

Nos jovens, os fatores de risco e as doenças cardiovasculares também aumentaram, sobretudo devido a estilos de vida pouco saudáveis, como o tabagismo e aparecimento de novas formas de fumar, a ingestão de alimentos processados, de “fast-food”, de alimentos com mau valor nutricional ricos em açúcares e gorduras saturadas.

O diagnóstico precoce é crucial para o tratamento eficaz de doenças cardiovasculares. De que forma é que os jovens podem estar alerta para estas doenças, mesmo sem sintomas aparentes?

Os jovens devem ter conhecimento da existência dos chamados fatores de risco de doença cardiovascular, como a falta de exercício e o excesso de tempo de sedentarismo, a alimentação inadequada não saudável, o tabagismo e os novos cigarros eletrónicos ou o “vaping” (em ascensão), a ingestão de álcool e bebidas energéticas e açucaradas, o consumo de drogas, a obesidade, e até de pressão arterial elevada e excesso de colesterol.

Como podemos lidar com estes fatores no mundo moderno?

Terá de haver mais informação e educação relativamente às consequências que esses fatores acarretam a nível cardiovascular e da saúde em geral. Deverão ser difundidos nos média, nomeadamente nas redes sociais, modelos de pessoas saudáveis com perfis de características modernas que possam ser considerados como “influencers” para a saúde cardiovascular.

Existe uma crença comum de que as doenças cardiovasculares afetam principalmente as camadas mais velhas da população. É mito?

É verdade que as doenças cardiovasculares são mais frequentes nos idosos, contudo começam a ocorrer cada vez mais cedo, até em crianças e adolescentes, devido a problemas genéticos (por exemplo a hipercolesterolemia familiar) e ao estilo de vida atual pouco saudável, muito consumista e baseado em escolhas apelativas, mas pouco saudáveis.

Falando em hábitos saudáveis, quais são as principais recomendações para os jovens manterem o seu coração saudável?

Fazerem exercício, se possível diariamente, por exemplo caminhada acelerada, natação, ou jogos; permanecerem pouco tempo seguido sem se movimentarem, quebrando o tempo junto ao computador ou ao telemóvel com quaisquer actividades mesmo que por minutos; dormir bem com horários regrados, pelo menos 8 horas de sono; evitar álcool, açucares, gorduras animais, refeições copiosas e alimentos processados, com muito sal; ter refeições com horário regular e controlar o peso; não fumar, nem mesmo as novas formas de fumo; não utilizar drogas; programarem o tempo de trabalho intercalados com tempos de lazer e descanso, evitando stress e “burn-out”.

Considera que seria importante a promoção de educação sobre saúde cardiovascular nas escolas e nas comunidades para alcançar um maior impacto entre os jovens?

Seria fundamental a educação para a saúde e para a doença nas escolas, iniciada precocemente no ensino pré-primário. Nas comunidades, em espaços públicos, seria essencial transmitir mensagens de prevenção simples que pudessem minimizar o risco cardiovascular.