Desde que o governo anunciou a decisão drástica de confinar os italianos em suas casas, Roberto Fichera, um animado senhor de 84 anos, sai de casa apenas para o estritamente necessário: "Compras e uma escapada de vez em quando à farmácia para a minha medicação".

Nestas circunstâncias, a questão do isolamento dos idosos está na ordem do dia, pois a Itália tem a população mais envelhecida da Europa  segundo as estatísticas  e poucos vivem em residências para a terceira idade.

Recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS)

  • Caso apresente sintomas de doença respiratória, as autoridades aconselham a que contacte a Saúde 24 (808 24 24 24). Caso se dirija a uma unidade de saúde deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.
  • Evitar o contacto próximo com pessoas que sofram de infeções respiratórias agudas; evitar o contacto próximo com quem tem febre ou tosse;
  • Lavar frequentemente as mãos, especialmente após contacto direto com pessoas doentes, com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;
  • Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir;
  • Evitar o contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;
  • Adotar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo);
  • Seguir as recomendações das autoridades de saúde do país onde se encontra.

Felizmente para Roberto, o bairro de Monti, onde vive, entre o Coliseu e a estação central de Termini, tem um comércio forte e ele consegue fazer tudo a pé, "uma bênção", afirma, já que mora sozinho e não tem carta de condução.

"Vou para a fila como toda a gente, e respeito a distância de segurança, mas geralmente deixam-me passar à frente pela minha idade avançada, algo que aceito de bom grado, já que para algo ser velho é uma vantagem", comenta entre risos.

Para já, ele gere bem o confinamento obrigatório. "Sou caseiro e gosto de ficar ocupado em casa, assim comecei a fazer uma grande limpeza de primavera, o que me ocupou vários dias", explica.

"Evidentemente, tive de desistir de algumas coisas, como uma visita com um amigo a uma loja Ikea para comprar uma mesa nova. Mas vou sobreviver", brinca o idoso.

Durante a conversa, é preciso insistir um pouco para que ele admita que a situação extraordinária alterou seu dia a dia: "A única coisa que me angustia é o silêncio. Não se ouve nenhum barulho, nenhum carro, as ruas estão vazias... Quando saio para caminhar e ouço passos atrás, quase dá medo. Ficamos preocupados", comenta.

"Consegue-se ouvir até o canto dos pássaros, em pleno centro. Percebe?", pergunta, incrédulo.

Poesia e Aperol

Roberto vai dormir por volta da 1h00 e acorda às 9h00. Todas as manhãs, mede a temperatura, pois os idosos são os mais vulneráveis: os falecidos na Itália têm idade média de 80 aos.

"Nada de febre, nada de tosse, tudo bem", se tranquiliza.

Do outro lado do Tíber, no bairro de Trastevere, Carla Basagni, pintora e poeta amadora, também passa muito tempo à janela a observar a Via della Lungaretta, a rua principal que liga o ponto do eléctrico com a praça de Santa Maria in Trastevere e sua fonte majestosa.

Normalmente, há um fluxo contínuo de turistas, músicos de rua e vendedores ambulantes. Mas hoje a rua está completamente deserta. E Carla refugia-se na leitura.

"As livrarias estão fechadas e não posso comprar livros, mas tive uma ideia: releio os livros que abriram a minha mente e coração. Basta procurá-los e reaparecem como por magia nas minhas estantes".

"E ajudam-me a recordar que o tempo está do nosso lado, apenas temos de ser pacientes", completa.

Carla, que também vive sozinha, faz o que pode para manter a forma. "Faço exercícios em casa. Bebo água pelo menos cinco vezes por dia e um pouco de vinho, embora goste muito", explica.

"Às vezes, coloco um pouco de Aperol na água para dar uma bonita cor vermelha", confessa, sem esconder o sorriso.

"Também preparo bons pratos", afirma, antes de explicar que esclarece as suas ideias escrevendo poesias.