A "Síndrome do Super-Herói" é um conceito psicológico que descreve um comportamento caracterizado por um desejo exacerbado de ajudar os outros, assumindo responsabilidades excessivas, em detrimento do próprio bem-estar. Esta síndrome costuma ser observada maioritariamente em profissionais das áreas da saúde, educação e segurança pública, mas também é verificada noutras ocupações que, à semelhança das enunciadas, requerem um alto nível de empatia e dedicação aos outros.

As raízes desta síndrome residem em fatores psicológicos e sociais, tais como os padrões de educação e cultura (valores familiares ou culturais que reforçam o altruísmo extremo podem predispor os indivíduos a esse comportamento), necessidade de validação (o desejo de ser reconhecido ou apreciado pelo que faz pode ser um motor para assumir responsabilidades excessivas) e o medo do fracasso ou do abandono (o comportamento pode ser uma forma de evitar críticas, rejeição ou sentimentos de inadequação).

As principais características de indivíduos com esta síndrome são:

  • Desejo persistente de salvar os outros - há uma necessidade contínua de resolver os problemas alheios, colocando as necessidades dos outros à frente das próprias. Isto pode gerar enormes disrupções nas relações mais próximas e sentimentos ambivalentes na própria pessoa ou nas pessoas à sua volta.
  • Negligência do próprio bem-estar - o foco excessivo em ajudar os outros leva ao descuido de aspetos tão importantes como a saúde física, emocional e mental.
  • Perfeccionismo e exigência exacerbada - estas pessoas acreditam que são as únicas capazes de resolver determinadas situações, o que pode gerar uma sobrecarga de trabalho e uma redução ou anulação de tempo de qualidade para si.
  • Dificuldade em pedir ajuda - existe uma tendência para assumir que pedir ajuda é um sinal de fraqueza, resultando em isolamento emocional e stress acumulado. Além disso, se as pessoas mais próximas sugerirem que está na altura de procurar ajuda, isto faz com que canalizem ainda mais a sua atenção nos outros, levando amiúde a separações e ao afastamento dos amigos e familiares.

Todas essas características têm um impacto negativo na saúde mental e os principais quadros clínicos, consequentes desta síndrome são:

  • Burnout - o desgaste físico e emocional é comum, especialmente em profissões altamente exigentes.
  • Ansiedade e depressão - o peso das expectativas irreais pode gerar sentimentos de incapacidade e frustração.
  • Autoestima fragilizada - sentimentos de inutilidade, incompetência e incapacidade emocional levam a que a pessoa esteja num ciclo vicioso, em que ajudar os outros pode ser a única solução que veem para se sentirem úteis.

Superar a Síndrome do Super-Herói requer autoconsciência e mudanças nos padrões de pensamento e comportamento. Nesse sentido, a terapia cognitivo-comportamental tem-se revelado particularmente eficaz na intervenção desta síndrome, porque ajuda a pessoa a:

  • Estabelecer limites - aprender a dizer "não" e reconhecer os próprios limites é essencial para preservar a saúde mental e física.
  • Priorizar o autocuidado e autoestima - investir tempo em atividades que promovam o bem-estar pessoal é fundamental para recarregar baterias e para existir um equilíbrio entre o trabalho, a vida pessoal e o tempo para estar sozinho(a) e fazer atividades que lhe deem prazer.
  • Identificar padrões disfuncionais - essa identificação permitirá desenvolver estratégias para lidar com a pressão autoimposta.
  • Praticar delegação - aceitar que outras pessoas também podem contribuir para resolver problemas e que a corresponsabilização é adequada na maioria das situações.

Não existem estudos epidemiológicos que facultem dados concretos e precisos sobre a prevalência desta síndrome a nível mundial, mas sob o ponto de vista clínico, parece estar presente em muitas pessoas que, numa avaliação cognitiva, apresentem padrões de pensamento e comportamento relacionados com o abandono, padrões excessivos e privação emocional – conceitos que são avaliados e explicados em contexto de consulta psicológica.

A Síndrome do Super-Herói, como qualquer outra síndrome, não é uma doença diagnosticável. Neste caso particular, reflete uma aspiração nobre que, quando desequilibrada, pode resultar em prejuízos significativos para a saúde e a qualidade de vida da pessoa. Reconhecer os limites da própria capacidade e entender que pedir ajuda não diminui o valor de ninguém é fundamental para encontrar equilíbrio entre o altruísmo e o autocuidado. A consciencialização sobre esta síndrome é essencial, especialmente em profissões de alto desgaste emocional, para que se previna a patologia e o sofrimento psicológico e se promova relações mais saudáveis consigo próprio(a) e com os outros.