Atualmente, há uma procura incessante por conteúdos “positivos”, com o objetivo de aprendermos a ver a vida com lentes coloridas, mesmo quando tudo está negro. No entanto, o efeito desse positivismo pode ser reverso e é preciso cautela com o otimismo exagerado ou desenquadrado, que se pode tornar tóxico para si e para quem está à sua volta.
O otimismo envolve um conjunto de crenças e traços que ajudam as pessoas a focarem-se sobre os aspetos positivos da vida, em vez dos negativos. Está associado a estilos específicos de enfrentamento, enquadramento de objetivos pessoais e afeto positivo.
Os otimistas não só prestam mais atenção a informações positivas, como também mostram comportamentos ativos e tendem a enquadrar a informação de uma forma positiva, auxiliando-os na tomada de decisão e na resolução de problemas. Ao contrário, os pessimistas dão mais ênfase às informações negativas e mostram passividade, negação e evitamento. No entanto, apesar desta dicotomia, a maioria das pessoas funciona no meio termo.
Mas, para entendermos melhor o otimismo, é importante termos a noção de que existem diferentes tipos apontados na literatura científica.
- O otimismo disposicional é definido como uma expectativa global de que, na vida, irão ocorrer mais coisas boas (desejáveis) do que más (indesejáveis). Como um traço de personalidade, presume-se que seja estável, com pouca margem para mudanças. Embora alguns estudos mostrem os efeitos positivos deste otimismo no humor e saúde das pessoas, também tem sido demonstrado que pode provocar vieses que prejudicam a vida das pessoas com este traço.
- O otimismo como estilo de atribuição vê o otimismo como sendo atribuído a uma causa específica, tendo como base três características: permanência (algo bom que acontece na vida das pessoas, que será provavelmente recorrente), difusão (essa “coisa boa” estender-se-á a outros eventos futuros) e internalidade (“eu causei isto, logo posso causar novamente”). Pelo contrário, os eventos negativos são considerados como impermanentes, não generalizados e devidos a causas externas.
- O otimismo comparativo introduz a relatividade da expectativa de bons resultados para a pessoa em comparação com outro semelhante. Ou seja, o grau de otimismo é um elemento comparável entre pessoas e pode ser ajustado mediante a relação que elas têm entre si e o respetivo grau de influência uma sobre a outra.
- O otimismo situacional refere-se às expectativas gerais de um bom resultado num contexto específico. Por exemplo, uma pessoa pode estar otimista em relação a um processo de recrutamento e seleção para o qual se candidatou, mas não ser otimista noutros contextos (tais como, vida amorosa, saúde).
- O otimismo estratégico é uma negação específica de risco baseada na crença de que se tem controlo da situação. Isto significa que, por exemplo, um chefe pode ignorar determinados riscos que a empresa para a qual trabalha pode enfrentar, porque considera que as suas decisões estão no seu controlo e que, por consequência, os resultados são expectáveis.
- O otimismo realista é definido como a tendência de manter uma perspetiva positiva dentro das restrições do mundo físico e social. Neste caso, o realismo refere-se à relação entre conhecimento, escolhas possíveis e ações escolhidas num determinado momento.
Não obstante a literatura mostrar que o otimismo pode ter efeitos positivos na vida das pessoas, a verdade é que o nosso cérebro tem um viés de otimismo embutido, conhecido como "a ilusão de invulnerabilidade", "otimismo irrealista" e/ou "fábula pessoal". Este viés leva-nos a acreditar que temos menos probabilidade de sofrer infortúnios e mais oportunidades de alcançar o sucesso do que a realidade sugere. Acreditamos que viveremos mais do que a média, que somos mais inteligentes do que a média e que teremos mais sucesso na vida do que a média. Mas, por definição, não podemos estar todos acima da média.
O viés do otimismo pode levar a uma tomada de decisão com consequências negativas. Por exemplo, as pessoas podem ignorar fazer o check-up de saúde anual, não usar o cinto de segurança, não usar protetor solar, ou terem comportamentos de risco, porque acreditam que o pior nunca lhes vai acontecer.
Se considera que o seu otimismo está a prejudicá-lo(a), levando-o(a) a ter comportamentos de risco, ou se as pessoas ao seu redor se queixam que está sempre a incitá-las a ver o lado positivo, em situações que, de uma forma geral, são consideradas negativas e que só o tempo pode ajudar a processar esses eventos, então considere procurar ajuda. Pode estar a ser percecionado pelos outros como sendo tóxico(a) e isso prejudicar a qualidade das suas relações interpessoais.
Um artigo da psicóloga Laura Alho, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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