Na nossa prática clínica como profissionais de saúde oral, uma das queixas mais comuns dos nossos doentes é a dor de dentes, frequentemente descrita como pior do que qualquer outra dor que já tenham sentido. Frases como "não me custou tanto ter o meu filho" ou "nem quando parti um osso doía tanto" mostram bem o quão sensível e impactante é esta zona.

O impacto na qualidade de vida é compreensível se pensarmos que é com os maxilares que falamos, comemos e até sorrimos. Estão literalmente no centro da nossa expressão e interação. Mas afinal, porque doem os maxilares?

Na maioria dos casos, há três causas principais:

  • Dor de origem dentária
  • Dor na gengiva
  • Dor da articulação temporomandibular — a que nos permite mastigar

A dor orofacial (DOF) engloba todas as estruturas da cavidade oral. Na prática clínica, este tipo de dor é frequentemente associado a problemas dentários ou disfunções da articulação temporomandibular; no entanto, em cerca de 30% dos casos, os dentistas deparam-se com um tipo de dor que não pode ser atribuído a nenhuma destas causas. A prevalência da dor orofacial é variável, com estimativas que oscilam entre os 16,1% e os 33,2%.

Independentemente da causa, o fenómeno base é quase sempre a inflamação — que nada mais é do que o nosso corpo a reagir a uma agressão, com aumento do fluxo sanguíneo na zona, elevação da temperatura e ativação dos receptores da dor.

Vamos por partes, começando pela mais comum: a dor de dentes.

No interior do dente existe um nervo, que pode ser agredido por exemplo por uma cárie ou uma fratura. Quando isso acontece, o nervo inflama. Como está envolto por uma estrutura rígida, o inchaço não tem para onde ir — e é isso que provoca uma dor tão intensa, que pode surgir ao frio, ao calor, ao mastigar ou até sem estímulo aparente.

É como entalar um dedo: incha e fica sensível a qualquer toque — só que, no dente, a dor é interna e constante.

Se este estímulo se prolongar, o nervo pode morrer — e ao morrer, pode infeccionar. Surge então a dor de gengiva, causada pela inflamação dos tecidos à volta do dente. Muitas vezes o dente em si já não dói, mas sim a gengiva ao redor, inflamada pela infeção.

Também pode ocorrer o que chamamos de gengivite — uma inflamação causada pela presença de bactérias, geralmente por má higiene oral. O principal culpado aqui é a falta de fio dentário, o que faz com que a inflamação surja entre os dentes, deixando a gengiva sensível e, por vezes, dolorosa ao toque.

Finalmente, temos a dor causada pela articulação temporomandibular. Como qualquer articulação, ela pode ficar inflamada ou “sobrecarregada”. Pode acontecer, por exemplo, que os dentes não encaixem bem, e com o tempo isso cause tensão durante a mastigação. Resultado: a articulação pode começar a doer, estalar ou até dar a sensação de “sair do sítio”. Nesses casos, o uso de aparelhos pode ser fundamental para corrigir falhas no encaixe dos dentes e prevenir complicações.

Estas dores podem ainda irradiar para outras partes do corpo — é comum estarem associadas a dores de cabeça, de pescoço ou de ouvido, pois as estruturas nervosas destas zonas estão interligadas.

A boa notícia é que, na maioria dos casos, o tratamento é simples e eficaz. Os tratamentos dentários atuais têm taxas de sucesso muito elevadas — embora, como em toda a medicina, nunca possam garantir 100%.

"Os dentistas desempenham um papel fundamental na identificação e no manejo dessas condições, especialmente quando a fonte da dor não é imediatamente aparente, evitando assim procedimentos desnecessários.

Um artigo de João Almeida Amaral, médico dentista na Clínica Santa Madalena e professor universitário na Universidade de Lisboa.