Não, ter "pernas gordas" não é o único sintoma de lipedema. Embora a acumulação desproporcional de gordura nos membros seja a característica mais visível da doença, o lipedema é uma doença crónica distinta da obesidade e da retenção de líquidos. As pacientes frequentemente relatam ter "dois corpos separados": um tronco e umas pernas (e/ou braços) que não combinam.

Para além da desproporção de gordura, as pacientes com lipedema queixam-se frequentemente de dor e sensibilidade exagerada ao toque, mesmo com estímulos leves, e da fácil formação de equimoses (nódoas negras). Outros sintomas comuns incluem uma sensação de peso e cansaço nos membros afetados, que pode agravar ao longo do dia e com o calor. A doença também pode ser acompanhada de défice de massa muscular, livedo reticular (pele com aspeto marmoreado), sensação de arrefecimento da pele nas áreas afetadas, e laxidez ou hipermobilidade das articulações.

Adicionalmente aos sintomas físicos, o lipedema afeta profundamente a saúde mental das pacientes, com cerca de 85% a relatarem que a doença interfere com o seu bem-estar psicológico. Sentimentos de insegurança, frustração, baixa autoestima, ansiedade e depressão são comuns. Muitos casos estão associados a distúrbios do comportamento alimentar, como anorexia e bulimia, pela incessante procura de perda de peso sem sucesso nas áreas afetadas. Condições como hipotiroidismo e défice de vitamina D também são frequentemente observadas em mulheres com lipedema.

É fundamental salientar que o diagnóstico de lipedema é essencialmente clínico, baseado na observação do médico e na história relatada pela paciente, uma vez que não existe um exame específico que o confirme. Ter "pernas gordinhas" nem sempre significa lipedema, e para o diagnóstico, é necessário que haja uma sintomatologia específica associada. A doença é recorrentemente mal diagnosticada como simples obesidade, uma característica constitucional familiar ou linfedema, o que atrasa significativamente o tratamento adequado e agrava o sofrimento físico e emocional das pacientes.

Um artigo de Joana de Carvalho, especialista em cirurgia vascular, directora Clinica da LegClinic.