Um dos fatores que tende a desmotivar um pedido de desculpas é o medo que a outra pessoa não nos perdoe (e, em alguns casos, que percecione o pedido de desculpas como uma oportunidade para a humilhação). 

Outro elemento é a necessidade de fugirmos ao ato de assumir a nossa responsabilidade – pedir desculpa é assumir perante o outro que errámos, que não somos perfeitos. É, não raras vezes, mais fácil fugir e minimizar as consequências do nosso comportamento no outro e/ou responsabilizar a outra pessoa, a situação que nos motivou a magoar o outro ou até as circunstâncias da nossa vida. 

Dizer para nós próprios “Eu não fiz nada de errado, quer ficar chateada, então isso é uma escolha da responsabilidade dela” pode funcionar a curto-prazo, pois permite-nos evitar o contacto com a nossa dor, focando a responsabilidade no outro. Mas que custos tem este evitamento para a nossa vida e bem-estar? Perder a outra pessoa e os momentos de bem-estar com a mesma?

Outra barreira para o perdão é também o impacto que pedir desculpas pode ter na autoestima, na forma como nos percecionamos a nós próprios. Enquanto seres humanos, pretendemos, a nível social, sermos “bons”, pessoas com “moral e ética” e, por isso, pedir desculpa é, mais uma vez, assumir que, naquele momento em que magoámos o outro, fomos maus, incompetentes ou imorais. 

Karina Schumann, psicóloga e professora na Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, que se tem vindo a dedicar ao estudo de temas como a resolução de conflitos, a experiência do perdão, o ato de pedir desculpa e sobre a relação entre as experiências de magoar e ser magoado por terceiros, defende que existem inúmeros benefícios associados ao pedido de desculpas.

Como principais benefícios, destacam-se os seguintes:

- reparar relações, no sentido de potenciar uma reaproximação emocional;

- atenuar sentimentos de mágoa e zanga (e a “motivação para a vingança” da vítima), o que provoca uma sensação de libertação;

- “encerrar” assuntos pendentes e alcançar alguma sensação de paz e tranquilidade;

- quebrar “ciclos disfuncionais” (por exemplo, pedir desculpas pode impedir que diferentes gerações de uma família permaneçam zangadas, afastadas, sem contacto). 

Segundo a autora, pedir desculpa é o ato que funciona como uma “supercola” para as relações, pois revela preocupação (com a pessoa e com a relação), cuidado, compromisso e motivação para a mudança, para alcançar o equilíbrio e a reconciliação, assim como revela arrependimento pelos atos do passado, que provocaram dano. 

Neste sentido, a literatura aponta 3 elementos que caracterizam um pedido de desculpas considerado “verdadeiro” ou “genuíno”, nomeadamente:

  1. Ser sincero e autêntico na comunicação. 
  2. Aceitar a responsabilidade pelo ato cometido (pelo qual pedimos perdão), não reiterando o ato errado. 
  3. Reconhecer e valorizar o impacto negativo/consequências que o nosso comportamento teve no outro (aceitando, mais uma vez, a responsabilidade pelo mesmo).

Por fim, é importante salvaguardar a importância de dar tempo e espaço para a outra pessoa perdoar – e respeitar esse mesmo período, mesmo que não corresponda às nossas expectativas. Qualquer tipo de pressão para o perdão e desrespeito deste tempo, faz com que o pedido de desculpas possa ser percecionado como manipulação emocional. 

Naturalmente que pedir desculpas não tende a ser suficiente nem resolve tudo por milagre, mas é um ponto de partida. A pessoa que errou tem um papel ativo para a mudança, no sentido de provar que o pedido de desculpas foi genuíno e que não existe, de todo, a intenção de magoar novamente a pessoa (a qual, para perdoar, faz um voto de confiança). Este alerta é, particularmente, importante para vítimas de algum tipo de violência, ou de relações tóxicas.

Quanto à capacidade do ser humano de perdoar, de facto, existem erros, circunstâncias e/ou pessoas que facilitam ou, por oposição, dificultam o tão importante perdão. Uma investigação de Karina Schumann sugere que, da mesma forma que a empatia numa relação amorosa flutua durante o tempo de relacionamento, também a nossa capacidade de empatizar com o pedido de desculpas do outro (e com a própria pessoa) flutua, influenciando a nossa disponibilidade para perdoar ou, por outro lado, continuar distante e zangado com o outro. 

A quem deve um pedido de desculpas? Por vezes, pode ser a si próprio, por alguma decisão, ou omissão. Faça essa reflexão e peça desculpa (poderá ser libertador!).

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino da MIND| Instituto de Psicologia Clínica e Forense.