Por um lado temos o adolescente que deseja emancipar-se, que quer muito explorar o mundo à sua volta, as amizades, as relações e os seus limites. Por outro lado, temos os pais que estão a lidar com a ideia de que um filho está cada vez mais crescido e, por isso mesmo, cada vez mais independente. E, muitas vezes, nãé fácil para um pai ou uma mãe lidar com todo o crescimento de um filho.

Perante isto, é normal que se tenha a ideia que os adolescentes fazem tudo ao contrário, na verdade não fazem, mas a adolescência implica experiências iniciais que - como iniciais que são - são extremamente permeáveis a dúvidas, erros, sonhos e, por vezes, conquistas.

Nestas circunstâncias, se atentarmos ou viajarmos até à nossa adolescência, é fácil compreendermos que um adolescente está perante um grande desafio, o desafio de se descobrir a si próprio, de descobrir os seus interesses, de lidar com um corpo que muda a cada instante, de se afirmar, no fundo, o desafio de crescer.

A tudo isto, acresce o facto de um adolescente quase nunca se sentir compreendido, de ter a ideia que faça o que fizer parecer nunca ser suficiente para quem está à sua volta. Assim, no meio de tantas exigências, contratempos e desafios, os adolescentes ficam imersos na sua própria confusão, e o ruído interno em que, por vezes vivem, não lhes permite fazerem tudo da forma que nós desejaríamos.

A verdade é que, se sairmos de nós e entrarmos no papel de um adolescente, percebemos que a cada novo dia, há uma nova experiência, uma nova sensação, por vezes, assustadora. E, que por isso, os adolescentes precisam que os adultos à sua volta se mantenham sintonizados com eles, se mantenham compreensivos, ao mesmo tempo que lhes dão espaço, liberdade e mantêm os limites definidos, só assim garantimos que um adolescente se continua a sentir protegido e amado, para continuar a crescer e a aceitar desafiar-se, mesmo com a possibilidade de fazer tudo ao contrário.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.