No artigo anterior, sobre introversão, vimos que cada pessoa tem um determinado tipo de personalidade, com várias dimensões associadas, sendo uma delas a Extroversão, que é, na verdade, um contínuo entre a introversão, ambiversão e extroversão. Neste artigo, irei focar-me na ambiversão.
Embora os conceitos de introversão e extroversão remontem às ideias do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung, no seu estudo sobre personalidade, a primeira pessoa a cunhar o termo “ambiversão” foi o psicólogo Kimball Young, em 1927. Desde então, a investigação tem mostrado que a ambiversão é bastante comum na população geral.
Apesar da sua prevalência, a ambiversão é menos referenciada do que a extroversão e a introversão, e isto pode dever-se à crença generalizada de que extroversão e introversão são características binárias. Como resultado, muitos ambivertidos não reconhecem a sua própria ambiversão, colocando-se num extremo ou outro do espectro.
A ambiversão é a caracterização de alguém que tem traços de personalidade de introversão e extroversão. Ao contrário dos introvertidos, que ganham energia com atividades solitárias, ou dos extrovertidos, que se sentem energizados pela socialização, os ambivertidos ficam num lugar entre ambos, algures pelo meio. Mas será que no meio é que está a virtude?
Os ambivertidos são capazes de exibir traços introvertidos e extrovertidos e podem mudar dependendo do contexto e de fatores individuais. Por exemplo, podem ser introvertidos e reservados com estranhos, mas serão enérgicos e extrovertidos com amigos próximos e familiares. Os ambivertidos gostam de passar tempo com outras pessoas, mas também valorizam seu tempo sozinhos e precisam de algum tempo para recarregar após as interações sociais, que podem ser esgotantes.
Esta mistura de características pode dificultar a identificação dos ambivertidos, pois o seu comportamento pode variar dependendo de um conjunto de fatores. No entanto, existem algumas características associadas aos ambivertidos, que incluem:
- Ser capaz de se adaptar a diferentes situações;
- Comunicar de forma eficaz;
- Estar confortável quer com grandes grupos, quer com grupos mais pequenos;
- Ser capaz de trabalhar bem tanto de forma independente quanto em equipa;
- Ser autoconsciente;
- Proporcionar equilíbrio em situações sociais;
- Ter capacidade de regular o comportamento e as suas respostas emocionais.
Embora todas estas características sejam positivas, nem tudo é um mar de rosas para os ambivertidos. Há algumas dificuldades com que se deparam recorrentemente. A título de exemplo:
- O seu nível de energia e a sua vontade variam de dia para dia, então quem convive com os ambivertidos pode ter dificuldade em fazer planos e vê-los serem remarcados constantemente. Também pode acontecer que o ambivertido saia para socializar, mas se arrependa de não ter ficado em casa, parecendo distante e sem vontade de estar com pessoas. Se isso acontecer, não pense que está a ser má companhia! Esta indecisão, pode fazer com a pessoa ambivertida se sinta mal e comece a ter comportamentos de evitamento, só para não desagradar outras pessoas.
- Quando conhecem pessoas novas, os ambivertidos podem ser reservados e calados, mas quando estão com amigos parece que ninguém os consegue calar e isso pode confundir as pessoas e fazê-las criar uma impressão que pode ser negativa.
- Quando os ambivertidos tiram um tempo para si, para recarregarem as baterias, que parece mais longo que o habitual, as pessoas que os rodeiam podem pensar que algo errado está a acontecer e fazem planos que vão ser rejeitados. Se um ambivertido quer tempo, respeite esse tempo.
- Os ambivertidos estão constantemente a tentar encontrar um equilíbrio entre o estarem sozinhos e o estarem com outras pessoas, e isso fá-los pensar em demasia sobre as situações, a ponto de lhes trazer sofrimento.
Se é uma pessoa ambivertida e sente algumas dificuldades em manter o seu equilíbrio emocional ou sente que as pessoas à sua volta não o/a compreendem por ter comportamentos diferentes mediante os contextos e o seu estado de espírito, procure ajuda. Existem várias ferramentas que pode colocar em prática no seu dia a dia para que tome as suas decisões de forma natural, sem esforço, e para que as pessoas à sua volta não o/a julguem. Não se sinta sozinho/a!
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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