Já reparou na quantidade de alimentos que deita fora quase todos os dias? Se calhar, não pensa muito nisso! Isto inclui, não apenas o que sobra a cada refeição, os alimentos que ficam na travessa ou no seu prato, mas também as cascas, os talos e outras partes que nem chegam a entrar na panela devido ao preconceito da sua utilização ou desconhecimento de que são partes comestíveis e ricas em nutrientes.
Está, no entanto, na altura de mudar essa situação. Para acabar com o desperdício, o nutricionista Alexandre Fernandes decidiu esclarecer os portugueses e lançar um livro de receitas à base de "Cascas, talos, folhas e outros tesouros nutricionais", publicado pela editora Planeta, que é também o segundo de uma trilogia que começou em 2011 com "A verdadeira dieta low-cost", editado pela Livros Horizonte.
O que fazer com a casca do ovo
Se o ovo é considerado um alimento completo, a sua casca não é menos importante. "É muitíssimo rica em cálcio, mineral essencial na formação e construção da massa óssea, e que participa na coagulação do sangue, na excitabilidade neuromuscular, ajuda na frequência cardíaca e é um ativador de vários sistemas enzimáticos", refere o nutricionista.
Para utilizar o pó de casca de ovo nas suas receitas "separe a casca, ferva durante cinco minutos e deixe secar, de preferência ao sol. Triture muito bem no liquidificador e passe por um pano fino. Deve ficar somente com o pó. Utilize uma colher de café nos refogados, sopas, arroz, guisados, molhos, quiches", sugere Alexandre Fernandes.
Como reaproveitar as cascas de fruta
Sempre que possível, coma a fruta com casca. "Esta é rica em fibras, que auxiliam o bom funcionamento intestinal, bem como em vitaminas e sais minerais", refere o nutricionista. Se não a ingerir, use-a. Depois de bem lavada, a casca de frutos como abacaxi, laranja, banana, manga, maçã, pera, pêssego, papaia, bem como a polpa branca da melancia e do melão, podem ser reaproveitadas de outra forma.
"Podem ser utilizadas em infusões e sumos", sugere o nutricionista. "Também dão para molhos, maioneses, sopas, geleias, bolos, doces, ensopados, pães, tortas e bifes", acrescenta ainda Alexandre Fernandes. Conserve-as no frigorífico para serem utilizadas o mais rapidamente possível devido à oxidação das vitaminas ou coloque-as em sacos de plástico e guarde-as no congelador para receitas futuras.
"A casca da laranja ou do limão pode ainda ser ralada e guardada em frasquinhos no congelador para usar, por exemplo, na confeção de bolos", afirma ainda o especialista. Há também que as coloque em jarros de água e deixe macerar de um dia para o outro para criar águas aromatizadas, juntando-lhe também, nalguns casos, frutos como as cerejas e os morangos ou ervas aromáticas como a hortelã e a salsa.
Outras cascas que pode reaproveitar
Depois de bem preparadas e lavadas, as cascas de abóbora, chuchu, pepino, beringela, curgete e cenoura "podem ser congeladas e utilizadas noutras preparações", afirma o nutricionista. Se forem utilizadas no dia seguinte, como muitas vezes sucede, podem ser acondicionadas no frigorífico. "Contêm as mesmas propriedades nutricionais que a polpa destes alimentos", assegura Alexandre Fernandes.
"Podem, por isso, ser utilizadas em tartes, sopas, pastéis, croquetes, recheios, bolos, pães, patés, saladas, purés, tortas, sanduíches, panquecas ou ainda pizas, entre outras", refere Alexandre Fernandes. A imaginação é o limite. Há quem as corte em pequenos pedaços e incorpore nas sopas ou até mesmo nos purés mais cremosos que confeciona para os bebés e para as crianças em idade escolar.
(Re)utilizações que pode dar às cascas de batata
Sabia que a casca de batata contém fibras, que ajudam a manter o aparelho digestivo saudável e que a maior parte da vitamina C, essencial para o sistema imunitário, presente na batata é encontrada junto à casca? "Na polpa também são encontrados esses nutrientes, mas em menor quantidade", refere o nutricionista. Depois de bem lavadas podem ser fritas ou assadas no forno, resultando numa excelente entrada.
Talos, ramas e folhas para utilizações versáteis
Os talos e ramas de alimentos como o aipo, os espinafres, o agrião, os brócolos, a salsa e os coentros, bem como as folhas mais amareladas ou partidas, raramente aproveitados, podem ser utilizados tanto nas receitas em que habitualmente apenas usa as restantes partes destes alimentos como em preparações posteriores, como as sugeridas no livro com recomendações práticas que Alexandre Fernandes publicou.
"A sua composição nutricional é muito semelhante às das folhas", refere o especialista. A conservação e posterior utilização são idênticas à das cascas. No mundo da gastronomia, são muitos os chefs, nacionais e internacionais, que incorporam muitos deles ingredientes nos inovadores pratos que confecionam. Além de muitos se prestarem a uma decoração original, também adicionam sabor, cor e textura.
Texto: Vanda Oliveira com Alexandre Fernandes (nutricionista)
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