«Diminuição da secreção das glândulas sudoríparas e sebáceas, alterações na microcirculação e desestruturação de pequenos vasos sanguíneos, redução das fibras de colagénio e da espessura e elasticidade da pele, atrofia, rídulas e rugas», descreve. Assim se comporta a nossa pele, à medida que os anos passam, afirma Cristina Vasconcelos, médica dermatologista que conduziu, a par de quatro colegas europeias, um estudo que reuniu 100 mulheres, entre os 40 e os 60 anos, para testar a ação de cosméticos Caudalie, ricos em resveratrol.

Segundo a especialista, a partir desta etapa, os cosméticos que usamos «devem permitir a reparação das fibras dérmicas, restaurar a tonicidade e a firmeza, compensar a diminuição hormonal e favorecer a microcirculação». Mas será que as novas fórmulas são mesmo verdadeiramente eficazes, como afirmam os responsáveis de marketing e comunicação que as promovem e publicitam?

Associamos o uso de cosméticos sobretudo à prevenção dos sinais de idade. Conseguem também reverter efeitos do envelhecimento cutâneo?

Conseguem reverter alguns efeitos, as expetativas devem ser realistas. São relevantes ao nível da hidratação cutânea, dão conforto e o seu uso é importante mesmo no caso das mulheres mais jovens. Os cosméticos devem proteger a pele do meio ambiente, estimular o processo de renovação celular e substituir, dentro do possível, os elementos em falta.

Nos últimos anos, o tema das substâncias antienvelhecimento, ao nível da pele, tem assumido grande protagonismo. O que são?

São moléculas, e há uma enorme gama, que atuam nas várias fases e extractos da pele, ao nível das modificações que ocorrem, provocadas pelo envelhecimento cutâneo. Por exemplo, a vitamina A atua primordialmente na camada superior da pele, ajudando a renovar as células aí presentes. Já o resveratrol ou a vitamina C têm um poder antioxidante e atuam a um nível profundo, estimulando a produção de colagénio [proteína] que se torna insuficiente com o passar dos anos.

Conduziu um estudo europeu, junto de mulheres portuguesas, sobre a ação do resveratrol com a chancela Caudalie. O que apurou?

A melhoria da textura da pele, que ganha brilho. O seu efeito antioxidante, nomeadamente em relação aos radicais livres. O resveratrol tem um poder de reversão, contraria a acção de oxidação provocada pelos raios ultravioletas e a sua ação é um pouco mais completa em relação à de outras moléculas antioxidantes, como a vitamina C.

 Devemos usar várias substâncias, de forma complementar?

Sim, defendo a combinação de várias substâncias. Dependerá caso a caso, mas, por exemplo, costumo recomendar o uso de substâncias com ação peeling (como o retinol, os alfahidroxiácidos), à noite, e, durante o dia, a aplicação de antioxidantes (vitamina C e o resveratrol). Hoje, também está em voga o ácido hialurónico, que se vai degradando no nosso organismo com a idade. A versão injetável, aplicada em consultório, é mais eficaz. Tem uma concentração diferente e grande durabilidade.

Em relação às versões tópicas [cosméticos], inicialmente punha-se em causa se seriam eficazes, mas as suas fórmulas foram sendo trabalhadas e hoje as moléculas são tão pequenas que pensa-se que conseguem, de facto, penetrar na pele.

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No caso de quem faz tratamentos em consultório, o uso de cosméticos também é importante?

Sim. São um complemento e preparam a pele. Por exemplo, se antes de um peeling usarmos substâncias com poder queratolítico, renovador, esse tratamento será muito mais eficaz porque irá atuar numa pele cujas células mortas da camada superficial foram previamente eliminadas. Depois dos tratamentos, os cosméticos são importantes para a manutenção, ajudam a prolongar os efeitos.

Quais os erros que as mulheres portuguesas ainda cometem?

O desleixo e a exposição solar sem proteção. Há uma percentagem de mulheres que não se cuida e só decide fazer um tratamento quando a pele já revela muitos sinais de envelhecimento, quando o problema já está instalado, com rugas profundas, por exemplo. A solução, nesse tipo de caso, implica o recurso a tratamentos mais invasivos e mais dispendiosos.

Os dois piores inimigos da sua pele:

- Tabaco

«Quando fumamos, as células cutâneas não são alimentadas. Há uma vasoconstrição muito intensa que pode durar minutos a horas e que leva à redução até 60% de oxigenação e nutrientes para as células que vão, assim, envelhecer e morrer precocemente», refere Cristina Vasconcelos.

- Sol

«É recomendável o uso de proteção solar durante todo o ano, como estratégia de prevenção do envelhecimento. No verão, na praia, aconselho o uso de FPS 50», recomenda a especialista.

Texto: Nazaré Tocha com Cristina Vasconcelos (médica dermatologista)