Confesso que é com um suspiro de impotência que vejo terminar o parêntesis da infância, porque as férias me parecem mais naturais ao prazer de viver do que a escola. Mas enfim, o “ Bom Selvagem” armado de telemóvel e “tablet” também não é modelo que se recomende.

Mas faz-me pena, ou seja, sinto uma vaga culpa ao sentir o peso das mochilas, perceber os olhos ensonados, ter a percepção de que as crianças trabalham mais horas do que os adultos ou, pelo menos, assim parece. E, depois, há as atividades que prolongam as obrigações académicas estritas: o inglês adicional, a aula de canto ou de viola, o desporto à escolha.

Como se não bastasse, quando as crianças chegam esfalfadas a casa, como maratonista a cruzar a meta, aguardam-nas, malévolos, os trabalhos de casa. Quantos de nós trazem para casa trabalho para ocupar mais de duas horas por dia?

Há tempos o “New York Times” publicou um artigo sobre este assunto. Dizia o articulista. “ Mencione o tema numa roda de amigos e verá a temperatura a subir…”. É curioso que a opinião pública sobre a importância dos TPC, pelo menos nos EUA, tenha oscilado ao longo das décadas, de acordo com factores como a ilusão de que cérebro é como um músculo que se exercita - pelo que beneficia do ginásio mental - ou o receio de serem ultrapassados pelos russos quando o “Sputnik” foi lançado, (resultado da percepção de que a juventude soviética era mais “esforçada” do que os filhos da classe média americana).

Alguns psicólogos indicam que os TPC não devem exigir mais de 10 minutos/dia por ano escolar. Dez minutos máximo para o 1º ano, duas horas para o 12º. Como regra geral parece sensata.

Uma professora americana escreveu aos pais a seguinte nota: “Este ano não haverá TPC, pelo contrário, incito-os a fazerem coisas que comprovadamente melhoram a aprendizagem: Jantem e leiam juntos, vão brincar para fora de casa e deitem as crianças cedo”.

Igualmente interessante é ler os comentários dos anónimos ao artigo. Ao contrário do que se esperaria, a maioria era a favor dos TPC, pois exercitam a autonomia no estudo, e preparam para a pesquisa independente tão necessária ao universitário. Será, mas voltando a quem disto mais sabe (as crianças), “o problema é que o Prof. de História não sabe os TPC que a “Setôra” de Física mandou, e tudo somado… não temos tempo para NÓS”.

Em resumo, parece haver falta de equilíbrio. Talvez uma solução razoável consistisse num conjunto de tarefas de pesquisa, ou construção de textos, trabalhos a serem realizados num prazo mensal, por exemplo, e coordenados pelos diferentes professores da turma de modo a evitar excessos. Desta forma as crianças aprendiam a fazer a gestão do tempo, a seleccionar a informação, e a transmiti-la de forma ordenada…apenas uma ideia.

Dr. Nuno Lobo Antunes
Neuropediatra e Diretor do PIN

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