Assim como é verdade que ninguém nos ensina a ser ‘bons’ pais, também é verdade que ninguém nos ensina a ser boas madrastas/bons padrastos.

Obviamente que quando refiro ‘bons’ estou a desvalorizar, por ora, que a experiência que cada um vive, enquanto filho ou enteado, é a experiência necessária para aprender o que é essencial (de acordo com as feridas que escolheu sarar, nesta encarnação).

Acredito que escolhemos os nossos pais muito antes de nos encontrarmos neste plano, nesta realidade que podemos observar e tocar, enquanto seres humanos. Vou desacelerar, pois não é este o rumo ao qual pretendo dar foco neste artigo. Hoje quero falar sobre as dores de ser madrasta ou padrasto. Dificilmente se entende o que é viver esta experiência se não se experienciar a mesma. Tem muitos desafios, muitos.

Quando acolhemos uma família também estamos a ser acolhidos, e, naturalmente, que para quem chega ‘à família’ será necessário encontrar o seu espaço. Conhecer as dinâmicas, conhecer as dores, conhecer e participar de uma, e para uma, nova realidade.

Todos estes processos são mais positivos quanto mais saudáveis foram as relações entre os pais das crianças, pois quando existe harmonia – no que diz respeito à relação que os pais mantêm – mais segurança e confiança a criança poderá sentir.

Entristece-me, bastante, quando observo que os egos feridos dos ‘papás’ ignoram aquilo que está em cima da mesa aquando de um processo de divórcio/separação: o superior interesse do menor (quando de menores se trata).

Os adultos esquecem que são adultos, agem a partir do lugar das suas crianças (interiores) feridas e magoam cegamente os filhos. Ora, se os filhos sentem que os pais - num processo de separação - os manipulam emocionalmente, será extremamente difícil que acolham amorosamente quem ‘chega’: madrasta/padrasto.

E, por falar em despedidas duras, é, igualmente triste, que não se reconheçam as dores reais, aquando de uma separação da madrasta/padrasto e respectivo(s) enteado(s).

Será difícil de acreditar que também existem laços de amor, nestas dinâmicas? Existem pois. Todas as relações (saudáveis) pressupõem um vínculo emocional. A todas as ‘boadrastas’ e ‘bonsdrastos’ (gosto mais destes termos) a minha profunda homenagem, pois sei que há zonas muito ‘cinzentas’ e ainda que seja bonito de dizer que o amor vence tudo, a realidade é que o amor sem desenvolvimento pessoal, sem crescimento emocional, sem cura das feridas do ego, não é suficiente para nutrir.

A todos os pais que voltam a acreditar no amor e recomeçam uma nova relação, valorizem por favor o lugar de quem estão a convidar para se juntar, ou, a convidar sair.

As crianças sofrem nas separações, independentemente do vínculo. Vão ficar feridas pela sensação de ‘perda’, novamente. As crianças, infelizmente, numa fase mais infantil, até podem considerar que a causa da ruptura são elas.

É preciso senti-las como seres humanos que são, e não olhar para elas como seres ‘pequeninos’ que ‘ainda’ não percebem/sentem, isto quando são pequenas; e olhar para os adolescentes como seres humanos a definir a sua personalidade no que às relações amorosas diz respeito.

Vamos dignificar a importância de quem acolhe uma família que já existe, dignificar os laços emocionais que se constroem entre as partes.

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