Como crianças que somos vivemos no efeito esponja: absorvemos tudo o que vemos, ouvimos e sentimos. Toda a informação que nos chega, todos os estímulos que nos são provocados, vão ficar impressos em nós. E vão limitar as nossas decisões de futuro.

Muitas vezes os pais não têm consciência das repercussões que as suas manifestações têm nas suas crianças, e, apesar do medo imenso que têm de falhar, é fácil optar pela decisão que mais agrada à criança. Ou a que mais sossega a criança, sendo a mesma a que menos transtorna a vida dos pais.

Muitos pais questionam aos filhos sobre o que estes pensam, porém, têm dificuldade em questionar sobre o que sentem os filhos. Quando é que ficou tão difícil sentir, entrar em contacto com as emoções? Será que os pais conseguem remeter-se à sua própria criança? Será que têm consciência da primeira vez que se sentiram injustiçados; humilhados; atraiçoados; abandonados? Quando é que nós, adultos, sentimos pela primeira vez que desvalorizaram o nosso lugar de dor, ao ponto de evitarmos, posteriormente, capacitar as nossas crianças com a inteligência do coração – a única que nos pode conduzir à nossa verdade e viver com propósito.

Todos temos, sem exceção, um papel principal na nossa vida: ser filhos. A ordem não se inverte, não em termos práticos: pois sabemos que existem muitas relações com papeis invertidos, em que os filhos ocupam um lugar de cuidadores/salvadores dos seus pais que ainda não conseguiram assumir com responsabilidade o adulto que neles existe.

Quando escolhemos dizer sim, enquanto o nosso coração grita não, ‘isto não é benéfico para mim, isto viola os meus limites, isto magoa-me, estamos a cristalizar a crença que nos limita’ -  a crença que nos faz acreditar que não somos merecedores de mais amor, de mais saúde ou mais abundância nas nossas vidas. Ao não respeitar, muito provavelmente vamos adoecer.

Quando as crianças crescem num ambiente familiar em que assistem que os seus pais decidem exclusivamente de forma racional, sem amor, sem paixão, sem alegria, estas crianças vão considerar isto normal e vão transportar esta forma de decidir no futuro. Quando as crianças crescem num ambiente em que os pais não se amam, não se respeitam, não se apoiam, não se empoderam, as crianças vão procurar relações iguais, porque isso é ‘o normal’. Quando as crianças escutam os pais discutirem sobre o trabalho que os consome, que é tóxico, que os outros é que ‘têm sorte’, as crianças vão ser adultos com dificuldade em escolher por opções que tenham o bem-estar, a felicidade, associadas. Quando as crianças ouvem ‘estás a chorar porquê? Chorar é para mariquinhas’, ou ‘não fiques assim, isso já passa’, estamos a dizer que não é válido viver com as emoções naturalmente, estamos a promover a repressão.

Todos os pais fazem o melhor que sabem, todos sem exceção. É por isto que devemos aceitar os nossos pais, tal qual como são: há sempre uma aprendizagem a fazer com eles. Existem adultos que assumem não amar os seus pais, não se identificarem com os seus pais, não se ‘orgulharem’ dos seus pais. Cuidado! Não podemos culpar ninguém pelo amor que não conseguimos nutrir por nós próprios: esta responsabilidade é exclusivamente nossa. E, se escolhermos ser pais, podemos escorregar nos disparates que afirmámos em tempos - ‘um dia, quando for mãe/pai, nunca vou dizer/fazer isto/aquilo’.

Irónica, a vida. Não é?

Celebramos hoje o Dia Mundial dos Correios. Aproveite e faça as pazes com a sua criança interior, escreva-lhe uma carta! Dê-lhe colo.

Vai ser certamente um pai mais consciente da sua capacidade de nutrir relações.

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Soraia Sequeira é Life Coach e há três anos iniciou a sua viagem de autoconhecimento, por via da astrologia. Desde então, certificou-se em Coaching, Practitioner de Programação Neurolinguistica (PNL) e em Practitioner Time Line Therapy. Atualmente encontra-se a estudar Psicologia Transpessoal, com Constelações Familiares e Hipnose, e vai iniciar em breve o Master em Programação Neurolinguistica.